O filme que provou que pop stars não precisam necessariamente passar vergonha quando tentam carreira no cinema chega finalmente ao Brasil. 8 Mile – Rua das Ilusões, que marca a estréia de Eminem nas telas, é um marco da cultura pop dos últimos tempos: a fita conseguiu mostrar com alguma credibilidade o mundo do hip hop de Detroit nos anos 90, emplacou duas trilhas sonoras nas paradas americanas e garantiu a presença do rapper no Grammy e no Oscar. A surpresa é que a produção, dirigida por Curtis Hanson, de Los Angeles – Cidade Proibida, interessa até ao público que não é fã do gênero musical.
Eminem ficava cada vez mais famoso na virada do milênio e resolveu "finalmente" aceitar o desafio de fazer um filme. O roteiro surgiu de passeios do rapper com Curtis e o produtor Scott Rudin pela noite de Detroit. "Eu não era do mundo de Curtis e ele não era do meu mundo", diz Eminem. "Então eu tive de confiar nele no lance da atuação e ele teve de confiar em mim em relação ao rap."
De cara, a história parece a mesma de Glitter ou, para os mais velhos, Flashdance: um aspirante a artista tentando se encaixar em um universo cheio de preconceitos. Mas o filme acaba indo muito além, explorando os diferentes aspectos da relação entre jovens brancos e negros nas regiões mais pobres de uma das cidades mais complexas dos Estados Unidos. A tal estrada de oito milhas separa estacionamentos de trailers (o equivalente americano das favelas), com comunidades negras de um lado e brancas do outro. "Para mim, foi muito interessante conviver nos dois lados", diz Eminem.
Hanson disse à revista "Rolling Stone" que o trabalho representou um voto de confiança de ambos os lados. O diretor de Garotos Incríveis já havia trabalhado com outros atores inexperientes, mas estava com medo de lidar com um pop star. Eminem, por sua vez, resolveu apostar em um diretor que não tinha muito conhecimento do mundo do hip hop. Todos saíram ganhando: o nome de Hanson ajudou a imprensa a olhar o filme com outros olhos – e a atrair Kim Basinger para o papel da mãe do rapper – e Eminem garantiu boas bilheterias para o diretor (o filme arrecadou mais de US$ 120 milhões apenas nos EUA).
O elenco de apoio também ajuda: Mekhi Phifer (de Clockers) está ótimo no papel do melhor amigo, enquanto Brittany Murphy (de As Patricinhas de Beverly Hills) acerta no tom da misteriosa garota que persegue Eminem. Kim Basinger fica no meio do caminho: está muito bonita para uma mãe bêbada que mora em um trailer e atuando mal para quem ganhou um Oscar. Mas a presença da atriz na tela, de alguma maneira, adiciona um certo charme cult ao filme.
Phifer, descoberto por Spike Lee em Clockers, de 1995, que agora entrou para o elenco da série de TV ER, conta que não ficou muito animado quando ouviu falar do projeto. "Depois de cinco minutos com Eminem, descobri que ele era um cara legal", disse o ator à Planet Pop. Os outros integrantes negros do elenco são Eugene Byrd (de Whiteboyz) e os iniciantes Omar Miller, Anthony Mackie e De’Angelo Wilson.
Todos eles garantem que Eminem nunca se comportou como uma estrela e trabalhou duro para o filme. "Em quatro meses de filmagens ele nunca chegou atrasado e sempre sabia suas falas", disse Phifer. "Ele chegou sem nenhum ego", disse Byrd. "E, logo de cara, admitiu para todo mundo que estava com medo, porque nunca havia trabalhado como ator. Resolvemos então formar um time para fazer o projeto funcionar."
Camaradagem ou não, todos eles também garantem que o Eminem que canta sobre espancar mulheres e homossexuais e que faz ameaças a Moby ao vivo na televisão é muito diferente do que estava no set de filmagem. "Ele é um cara família, muito dedicado à filha", diz Phifer. "A fúria está apenas nas músicas."