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Por que Nelson Rodrigues? Andrucha: A obra do Nelson é um grande canal para aprender a filmar. Ele é um autor que tem tudo, e praticamente empresta sua obra ao diretor. É bom poder se apoiar num dramaturgo tão fabuloso. Meu contato com o autor surgiu quando comecei a ler suas obras. No Nelson, você identifica sua cultura, seu universo de loucura dentro de casa, e não fora dele. Que mudanças básicas ocorreram para levar o conto à tela? Andrucha: O conto era bem curto. O que tentamos foi não alterar o universo do Nelson. Elena Soárez, a roteirista, foi absolutamente fiél. Quando se assiste, é visível a presença do Nelson. Para Andrucha, um dos grandes personagens da trama é Dr. Jorge, o pai das gêmeas, interpretado por Francisco Cuoco. Segundo o diretor, ele é o único personagem sadio, o único que sabe exatamente o que se passa, tendo grande lucidez sobre a história. Fernanda, você já alguma fantasia em ser gêmea? Fernanda: Nunca tive. Já sou um clone da minha mãe! (risos) Como é o trabalho de criação das duas personagens? Fernanda: Para fazer as duas, você tem que raciocinar diferente. Quando você pensa diferente e se põe na pele de outra pessoa, você muda sua voz, seu corpo, seu jeito, até sua personalidade. No filme, no início, o público ainda fica tentando ditinguir quem é quem. A Iara é uma vadia, já a Marilena, é uma vadia mais séria... (risos). No meio da história, as coisas se fundem, você perde a noção de quem é boa e quem é má. As duas passam a ser capazes de tudo... ![]() Fernanda: "Gêmeas" tinha um complicador de como ser coerente. Nós realizamos dois meses de ensaio para filmar em três semanas. A maior parte das cenas com as duas irmãs foram realmente marcadas durante o Mise-en-Scène. Foi durante os ensaios que realmente descobrimos a forma de filmar. As cenas saíam da própria mecânica do filme. Andrucha: Cinema é isso, cinema é garimpo, tem que ser feito take a take. Houve muitas trucagens (efeitos especiais)? Andrucha: O filme era um filme de baixo orçamento (950 mil reais). Não havia dinheiro para "truca". Foi usado muito plano e contra-plano Fernanda: Em uma cena usamos montagem e, as duas personagens juntas, soava falso. Às vezes, no cinema, o mais simples é mais fiél, mais ilusionista. Como foi a busca deste ar de suspense do filme? Andrucha: Esse ambiente sombrio faz parte de uma tentativa de busca da própria gramática de suspense existente no universo do Nelson Rodrigues. O Nelson tem esse universo sombrio e sexual, mas no filme, ele está em sua forma mais imaginária. A sexualidade está dentro da cabeça dos personagens, e não explícita. ![]() Andrucha: Cuoco está no imaginário brasileiro como um galã. Foi ótimo vê-lo transformado num decadente lúcido. Houve muita improvisação? Fernanda: Não houve muito improviso. Nos ensaios havia vários, principalmente do Evandro, mas eles foram sendo inseridos diretamente no roteiro. Por que você optou por um tempo curto (1h e 15min)? Andrucha: O tempo tem que ser fiél à necessidade da história. O conto era bem curto. Quando fizemos a primeira montagem, ela tinha 1h e 25 min. Depois fomos enxugando. Fernanda: Várias cenas foram criadas depois. Inicialmnte, filmamos duas semanas. Depois de oito meses fizemos as cenas adicionais, aproximando o filme ao conto. Andrucha: Foi aí que entrou a presença da Fernanda Torres. Antes ela aparecia apenas na fotografia. Na segunda filmagem colocamos ela atuando. Sobre o projeto do filme. Andrucha: O conto "Gêmeas" seria mais um dos curtas realizados para o "Traição" (primeiro longa da Conspiração Filmes). Inicialmente, os contos fariam parte de uma série para a TV. Mas o "Traição" virou filme. O projeto de "Gêmeas" foi modificado e veio minha primeira oportunidade de fazer um longa. Sobre os lançamentos de filmes nacionais. Para Andrucha, quando um filme não tem estréia nacional é preferível controlar o lançamento e esperar mais possibilidade de salas. "É melhor lançar praça a praça para cativar o público." Fernanda acha que atualmente o cinema deu uma galgada, mas o lançamento é o que menos se tem domínio, não se vê fórmulas de sucesso. Para os dois, a meta é ultrapassar os 300 mil (bilheteria de filmes como "Tudo Sobre Minha Mãe" e outros europeus). Sobre a polêmica envolvendo cineastas e o Ministério da Cultura. O diretor prefere não se envolver nestas polêmicas. Segundo Andrucha, especular, analisar e apurar é função do Ministério, não dos cineastas. "Eu quero que "Chatô" fique pronto, que ele se saia muito bem e acabe com esta discussão." Já Fernanda, arrisca opiniões. Para ela, o Ministério não deveria ter liberado uma captação tão alta, para um cineasta iniciante. Quando o Ministério fez a liberação, era previsível que algum problema como este pudesse acontecer. Segundo a atriz, esta lei deve ser ajustada, mas não anulada. Pois toda lei nova, no início, é permeada de problemas. Redação Terra |
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