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SEIS DIAS, SETE NOITES, OITOCENTOS FILMES

RAPIDINHO:

Harrison Ford tem um pequeno avião e transporta turistas pelas ilhas do Taiti. No meio de uma tempestade, faz um pouso forçado numa ilha deserta, onde fica sozinho com Anne Heche, sua passageira, jovem e sofisticada editora de moda nova-iorquina que está prestes a casar-se com um idiota qualquer. O conflito entre os dois rende cenas engraçadas, leves e muito açucaradas (diabéticos, cuidado!). "Seis dias, sete noites" é uma típica comédia romântica de Hollywood, filmada com competência por Ivan Reitman num cenário maravilhoso. Se o mundo fosse justo, todos nós teríamos o direito de naufragar naquela ilha (com Anne Heche ou Harrison Ford: você decide!).

AGORA COM MAIS CALMA:

Você já viu esse filme. Não uma, nem duas, nem sete vezes. Você já viu esse filme oitocentas vezes. O cinema americano descarrega todos os anos no circuito mundial coisas assim: feitas para agradar a todos, sem distinção de idade, classe social, sexo, raça, formação cultural ou Q.I. Até os macacos gays da Sibéria gostariam de ver "Seis dias, sete noites".

A receita do bolo é escrever um roteiro romântico, temperado com aventura, cenários pardisíacos e diálogos espirituosos. E, é claro, colocar um astro consagrado num dos papéis principais e uma mulher maravilhosa que se apaixone perdidamente por ele. No filme de Reitman, o astro consagrado chama-se Harrison Ford, que, além de excelente ator, faz as mulheres derreterem-se em menos de dez segundos.

Ford consegue fazer uma cena romântica como se fosse Alain Delon e uma cena de ação como se fosse Bruce Willis. E faz melhor que os dois. A mulher maravilhosa chama-se Anne Heche. Dentro dos seus inacreditáveis olhos azuis, os espectadores naufragam centenas de vezes, sem reclamar. Eu disse, semana passada, que Gillian Anderson (a agente Scully de "Arquivo X") era tão sensual quanto um pote de geléia, o que quase me fez ser abduzido pelos excers. Pois bem: Anne Heche é muito mais sensual que um pote grande de morango com chantillly e tem a grande vantagem de sorrir várias vezes durante o filme.

"Seis dias, sete noites" faz, nas salas de cinema de todo o mundo, o que as telenovelas fazem na TV brasileira: oferece diversão descompromissada, com alto padrão de qualidade, mas tem roteiro e diálogos muito melhores. Se você está atrás de um filme equivalente a um fim de semana na praia, compre logo sua passagem no aviãozinho de Ford. Se você, pelo contrário, procura arte, experimentação estética ou discussão ideológica, saiba que "Seis dias, sete noites" é tão político quanto lingüiça frita em azeite velho. O resultado seria uma indigestão garantida.

Seis Dias, Sete Noites (Six Days, Seven Nights, EUA, 1998). De Ivan Reitman. Com Harrison Ford, Anne Heche, David Schwimmer e outros.

Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".

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