|
Billy Elliot RAPIDINHO AGORA COM MAIS CALMA Neste tempos em que a crítica feminista e a análise teórica de gêneros se fortalecem, é inevitável ver Billy Elliot também como uma obra sexualmente libertária. Billy é um garoto heterossexual (ao contrário de seu melhor amigo, gay assumido), mas isso não o impede de ter várias qualidades femininas e desgostar de certas coisas típicas do universo masculino. A ausência da mãe, que poderia protegê-lo e servir-lhe de espelho, agrava a situação. Em seu lugar, aparece uma professora de balé, também infeliz na vida familiar, que consegue reconhecer em Billy o talento e a vocação para a dança. Entretanto, ela não é a mãe. E Billy não está disposto a destruir sua relação com o pai e o irmão. É neste momento que o roteiro se mostra genial. Em vez de contar, pela milionésima vez, um confronto sem solução entre um garoto sensível e fraco contra um pai machista e forte, Billy Elliot conta a história de como o pai machista e forte descobre que seu filho tem o direito de ser o que é. E, mais do que isso, sendo o que é poderá fugir das minas de carvão, dos baixos salários, das greves. A angústia do pai de Billy, que ama tanto seu filho que é capaz de reformular sua visão do mundo e passar por "fura-greve" (ou seja, um "maricas"), para conseguir o dinheiro da passagem de ônibus, é o momento mais forte do filme. Billy luta pelo que quer ser. Isso é difícil. Seu pai – e, depois seu irmão - lutam contra o que são. Isso é mais difícil ainda. E é isso que emociona no filme. O elenco é homogêneo e absolutamente verossímil. A fotografia, bem cuidada, mas discreta, emoldura o norte da Inglaterra com competência. A montagem se destaca nas belas cenas de ação paralela (provavelmente já previstas no roteiro, mas executadas com perfeição). Os diálogos são divertidos e concisos, sem apelar para o melodrama e mantendo a riqueza e a musicalidade do sotaque local. Para o meu gosto (vocês sabem que não gosto de finais felizes) a última cena, com Billy adulto, um belo e emplumado cisne num espetáculo grandioso, é dispensável. Billy venceu antes disso. Entretanto, é apenas uma pequena concessão, num filme que se afirma pelo vigor de sua originalidade. Só há uma coisa em Billy Elliot que, definitivamente, não está em seu lugar: a tradução das legendas. Que fiasco! Há inúmeros palavrões, principalmente "fuck of", que viraram "não enche". Imagine alguém levando um cacetete na cabeça e gritando "não enche" para o policial... Mas isso até já virou padrão nessas terras de falso moralismo e puritanismo de fachada. A pior mancada de todas, contudo, é quando a situação do marido da professora de balé é definida como "ele se tornou redundante". O cara foi despedido, está desempregado! Tem que baixar o cacete na cabeça do tradutor. Fuck of! Billy Elliot (EUA, 2000). De Stephen Daldry
|
||
Copyright
© 1996-2001 Terra Networks,
S.A. Todos os direitos reservados. All rights reserved.
|