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BOOGIE NIGHTS
(Corpo de Tarantino, cabeça de Altman)

RAPIDINHO:
Você gosta de Loucuras de verão, de Nashville, de Embalos de Sábado à Noite e de Pulp Fiction? Então pegue todos estes ingredientes, bote no liqüidificador e vá correndo ver Boogie Nights.

É uma comédia inteligente e sarcástica sobre o mundo pornô, sobre a virada dos anos 80 para os 90 e sobre o fim do sonho de mixar sexo explícito e arte no cinema.

AGORA COM MAIS CALMA

Todo grande filme (daqueles que a gente não esquece) tem pelo menos um conflito extra-personagem. Traduzindo: além do que está explicitado nos diálogos e nas ações, um grande filme costuma representar uma ruptura histórica, comportamental, ideológica, que transcende a narativa que está na tela.


Burt Reynolds e
Mark Wahlberg
Boogie Nights é um grande filme. Vejam que estou usando o adjetivo "grande", e não "ótimo", porque o filme tem lá seus defeitos de ritmo e de roteiro. Mas ninguém pode negar a Boogie Nights sua grandeza.

Ele possui dois grandes conflitos extra-personagem. Um é cultural: anos 70 versus anos 80. O outro é estético: cinema versus vídeo.

Mas não pensem que se trata de um filme chato e sociológico. É, pelo contrário, um filme divertido. Tem personagens inesquecíveis, tem cenas antológicas, tem uma direção primorosa, mas, quando acaba, a gente sai do cinema com a impressão de ter aprendido alguma coisa sobre o tempo em que vivemos, sobre o fim do século, sobre a correnteza que nos leva para o passado, enquanto remamos desesperadamente tentando chegar ao futuro.

No início dos anos 80, participei de um (grande) filme super-8 chamado Deu pra ti, anos 70 (de Nelson Nadotti e Giba Assis Brasil) como assistente-de-direção. A tese do filme, simplificando ao máximo, é que, ao contrário do que diziam as pessoas que fizeram a revolução nos anos 60, os 70 também eram importantes, também fizeram diferença, também legaram peças de valor para o Grande Museu da História.

É muito engraçado ver, em Boogie Nights, uma tese quase igual, mais uma vez aplicada aos anos 70, só que fazendo o contraponto com a década que chega e criticando duramente os anos 80, que seriam os anos do fim dos sonhos, da onipresença do dinheiro, do suicídio inconsciente via cocaína.

Boogie Nights também me lembra muito o cinema de Robert Altman, principalmente Nashville. O diretor Paul Thomas Anderson tem o humor, tem a agilidade narrativa e tem a ironia carinhosa de Altman.

Se você leu que Boogie Nights é sobre um ator pornô com um grande membro, esqueça o que ouviu. O filme, apesar de retratar com fidelidade o universo pornô, é muito maior que o seu cenário.

Boogie Nights mostra o mundo pornô americano do mesmo modo que Nashville mostra o mundo country americano. Talvez eu esteja me apressando, porque Altman é um velho mestre, enquanto Anderson é um jovem iniciante, mas me arrisco a dizer que o cinema americano criou um Tarantino com ideologia, o que é a melhor notícia desta década.

Vá correndo ver Boogie Nights, porque é um filme de autor (coisa rara nos dias de hoje), é divertido e faz pensar (coisa que Hollywood parecia não ser mais capaz de fazer).

Boogie Nights, EUA, 152min. De Paul Thomas Anderson. Com Burt Reynolds, Mark Wahlberg e Luis Gusman.

Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".

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