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AGORA COM MAIS CALMA Jennifer Lopez, atriz sem carisma, sem força dramática, perdida num filme em que não consegue nem ao menos demonstrar sua pretensa sensualidade, encarna uma psicóloga que seria (na teoria...) uma grande especialista em distúrbios infantis. Mas o que ela fez em suas incursões na mente alheia? Caminha de um lado para o outro, sempre guiada pelos estímulos que recebe, e diz coisas como "Vim aqui para ajudá-lo" e "Pode confiar em mim". Até Robin Willians em Amor além da morte era mais perspicaz. No final, quando Jennifer leva o gordo maluco para o seu mundo, o seu figurino, a sua expressão beatífica e todo o cenário parecem ter sido copiados do final de O Auto da Compadecida. Se eu fosse a Globo, processava esses americanos. E, cá pra nós, a Fernanda Montenegro se compadece com muito mais realismo, mesmo atuando numa comédia. Vincent D'Onofrio, no papel do psicopata assassino, é bastante convincente. Sua dor, sua tentativa insana de encontrar a paz, seus fetiches e suas patologias são responsáveis pelos melhores momentos do filme. E o roteiro funciona razoavelmente bem ao explicar a origem dos distúrbios: o choque causado pelo batismo, a mãe ausente, o pai completamente maluco, etc. Nada de novo, mas a armação dramática, como um todo, funciona. O clima de algumas cenas lembra Seven, o que sempre é uma referência interessante. Todos os outros personagens – tanto os médicos da "clínica" em que trabalha Lopez quanto os policiais do FBI – são dispensáveis e totalmente rasos. O que joga o filme definitivamente pra baixo é a absoluta penúria narrativa: o público sabe o que vai acontecer, e as coisas acontecem do modo mais óbvio possível. O policial do FBI (Vince Vaughn) precisa de um endereço para salvar a pobre moça seqüestrada, que vai se afogar em breve. Conseguirá nosso herói chegar a tempo? A linda psicóloga precisa matar o lado "doentio" do psicopata para que seu lado "saudável" morra em paz. Conseguirá nossa heroína realizar façanha tão difícil? Quando todos os lugares-comuns parecem estar esgotados, ainda temos o encontro final dos personagens, numa espécie de "happy-end" de quinta categoria. Quando sair em DVD, A Cela poderá ser aproveitado pelo que tem de melhor - belas imagens. E o espectador terá a confortável opção de pular por cima do que há de pior. O diretor Singh é o oposto perfeito de seu colega indiano Shyamalan, que, em O sexto sentido, criou suspense com grande riqueza de detalhes mantendo-se econômico nas imagens. Singh preferiu criar uma hiperinflação visual e acabou destruindo a mais importante e preciosa moeda do cinema: a narrativa. A Cela (EUA, 2000). De Tarsem Singh
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