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Celebridades

De
Woody Allen





RAPIDINHO
Ao contrário do divulgado, não é um filme sobre a fama. Diferente do que ouvi, não é um filme sobre um escritor anônimo que quer ser célebre. Celebridades está muito distante do que seus produtores e distribuidores – com certeza desejosos de aumentar a bilheteria – tentaram nos fazer acreditar: uma história sobre astros e estrelas de Hollywood, recheada com super-modelos maravilhosas. Celebridades é um filme de Woody Allen, que, como se sabe, só sabe falar dele mesmo, de suas neuroses, de suas dúvidas, no máximo de seus amigos. Pra mim, tá ótimo. Nesses tempos de filmes em que os personagens são mais que heróis ou menos que animais, rir um pouco de pobres seres humanos faz muito bem para a saúde.


AGORA COM MAIS CALMA
Allen não se submete. Estão lá os créditos simples, está lá a fotografia em preto-e-branco (de Sven Nykvist, maravilhosa, como sempre), está lá a trilha sonora fora de moda, estão lá as piadas que só podem nascer de um roteirista que compreende suas próprias fraquezas e consegue rir delas (pelo menos em público). O personagem de Kenneth Branagh (em sua melhor atuação no cinema, sem aquele peso shakespeariano que o transforma em caricatura de "ator intelectual") é o próprio Allen. Vinte anos atrás, Allen teria se escalado para o papel. Mas, esperto como é, sabe que sua figura já não funciona como pseudo-galã que conquista as garotas com uma piada e um jeito indefeso.

Allen é um mestre em usar estereótipos a seu favor, e nesse sentido ele se aproxima de Fellini. Usa a imagem "cabeça" de Branagh para fazer dele um alter-ego quase perfeito, enquanto aproveita a imagem "sexy" de Leonardo DiCaprio para fazer dele o oposto de seu alter-ego. De quebra, coloca em seu filme astros capazes de aumentar a bilheteria. Em Celebridades, também há um desfile impressionante de mulheres bonitas: Melanie Griffith, Winona Ryder, Charlize Theron, Gretchen Mol e, principalmente, a holandesa Famke Janssen, tremendamente mais sensual que em X-Men (apesar de ser a única, no super-time de Allen, a não explicitar seu poder de sedução). Duvido que alguém saia decepcionado nesse quesito.

Por todos esses motivos, era de se esperar que Allen, depois de vários filmes com público pequeno (o que, inclusive, atrasou seus lançamentos aqui no Brasil), voltasse aos bons tempos de Annie Hall e Manhattan. Mas, infelizmente, os tempos são outros, e o mercado está cada vez mais longe da inteligência de Allen. Celebridades é, de certo modo, uma piada (de humor negro) sobre a inabilidade de Allen chegar ao grande público do jeito que os executivos pretendem que ele chegue. Rodeado de astros e estrelas - e mesmo tirando de cada nome do elenco o máximo em termos de interpretação – o filme só vale pelo que ele tem de mais sincero, mais triste, mais engraçado e menos "popular": o incomparável estilo de Woody Allen.

Se Desconstruindo Harry era uma reflexão bem-humorada (mas quase acadêmica) sobre a estética da pós-modernidade, Celebridades é um filme bem mais simples, em que Allen reflete sobre seu tema clássico: a infelicidade atemporal da espécie humana. E aí Allen mostra sua competência, construindo personagens maravilhosos, como a esposa de Branagh, encarnada por Judy Davis. São dela algumas das melhores cenas do filme, porque, além de engraçadas, têm sabor de verdade. Por outro lado, não dá pra acreditar em várias situações do roteiro, especialmente as que envolvem Leonardo DiCaprio. A transa a quatro poderia render muito mais, se Allen perdesse um pouco de seu moralismo visual e, em vez de colocar o casal debaixo dos lençóis (é a primeira orgia em baixo dos lençóis da história do sexo), tivesse investido um pouco mais no realismo.

Celebridades é, disparado, o filme mais divertido de Allen nos últimos tempos. Allen envelhece sem perder a pose, passa do drama para a comédia com perfeita noção de ritmo e continua tocando seu clarinete nas horas vagas. Ele se diverte, nós nos divertimos e esperamos pelo próximo filme. Tomara que seja parecido.

Celebridades (EUA, 1998). De Woody Allen

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Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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