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Allen é um mestre em usar estereótipos a seu favor, e nesse sentido ele se aproxima de Fellini. Usa a imagem "cabeça" de Branagh para fazer dele um alter-ego quase perfeito, enquanto aproveita a imagem "sexy" de Leonardo DiCaprio para fazer dele o oposto de seu alter-ego. De quebra, coloca em seu filme astros capazes de aumentar a bilheteria. Em Celebridades, também há um desfile impressionante de mulheres bonitas: Melanie Griffith, Winona Ryder, Charlize Theron, Gretchen Mol e, principalmente, a holandesa Famke Janssen, tremendamente mais sensual que em X-Men (apesar de ser a única, no super-time de Allen, a não explicitar seu poder de sedução). Duvido que alguém saia decepcionado nesse quesito. Por todos esses motivos, era de se esperar que Allen, depois de vários filmes com público pequeno (o que, inclusive, atrasou seus lançamentos aqui no Brasil), voltasse aos bons tempos de Annie Hall e Manhattan. Mas, infelizmente, os tempos são outros, e o mercado está cada vez mais longe da inteligência de Allen. Celebridades é, de certo modo, uma piada (de humor negro) sobre a inabilidade de Allen chegar ao grande público do jeito que os executivos pretendem que ele chegue. Rodeado de astros e estrelas - e mesmo tirando de cada nome do elenco o máximo em termos de interpretação – o filme só vale pelo que ele tem de mais sincero, mais triste, mais engraçado e menos "popular": o incomparável estilo de Woody Allen. Se Desconstruindo Harry era uma reflexão bem-humorada (mas quase acadêmica) sobre a estética da pós-modernidade, Celebridades é um filme bem mais simples, em que Allen reflete sobre seu tema clássico: a infelicidade atemporal da espécie humana. E aí Allen mostra sua competência, construindo personagens maravilhosos, como a esposa de Branagh, encarnada por Judy Davis. São dela algumas das melhores cenas do filme, porque, além de engraçadas, têm sabor de verdade. Por outro lado, não dá pra acreditar em várias situações do roteiro, especialmente as que envolvem Leonardo DiCaprio. A transa a quatro poderia render muito mais, se Allen perdesse um pouco de seu moralismo visual e, em vez de colocar o casal debaixo dos lençóis (é a primeira orgia em baixo dos lençóis da história do sexo), tivesse investido um pouco mais no realismo. Celebridades é, disparado, o filme mais divertido de Allen nos últimos tempos. Allen envelhece sem perder a pose, passa do drama para a comédia com perfeita noção de ritmo e continua tocando seu clarinete nas horas vagas. Ele se diverte, nós nos divertimos e esperamos pelo próximo filme. Tomara que seja parecido. Celebridades (EUA, 1998). De Woody Allen
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