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RAPIDINHO: Esposa rica e insatisfeita com seu marido rico e chato consola-se com pintor pobre e charmoso. Mais um triângulo tradicional. Mas isso não é defeito de filme algum. Várias obras-primas do cinema foram feitas com esse esquema dramático. Afinal, conforme esclarecem os diálogos de ?Um crime perfeito?, o segundo mais antigo motivo do mundo para matar alguém é ciúme. O primeiro, todo mundo sabe, é dinheiro. O problema do filme de Andrew Davis, uma releitura de ?Disque M para matar?, de Alfred Hithcock, é que Davis não é Hitchcock, e, principalmente, Gwyneth Paltrow não é Grace Kelly. Ela até consegue ser suficientemente loira e gelada, mas não tem o ar de princesa da verdadeira princesa. AGORA COM MAIS CALMA: O filme policial é, basicamente, uma brincadeira. Portanto, o que ele deve proporcionar é diversão. Para obtê-la, os ingredientes básicos são suspense, ação, sensualidade e alguma violência. Alguns - na verdade, muito poucos - filmes policiais ainda conseguem fornecer, além disso tudo, alguma reflexão sobre a natureza do ser humano. Hitchcock conseguiu isso nos seus clássicos. Disque M para matar não é um de seus clássicos. Mas esse também não seria problema para Davis. Ele poderia ter feito simplesmente um bom e descompromissado filme policial, como Instinto selvagem e Seven, só para citar de memória duas bobagens bem feitas e divertidas. Um crime perfeito não é especialmente divertido. Hitchcock fazia filmes policiais em que a brincadeira não era descobrir quem é o culpado. O espectador sabe, desde o início, quem é o assassino. A diversão vem das dúvidas do público: como nosso herói impedirá a próxima (que pode ser a sua) morte? Como o bandido será justiçado? Será que a mocinha realmente vai ser enganada e acabar na cama como facínora? É a velha história da diferença entre o filme de ação - a bomba explode de repente, em cima da mesa - e o filme de suspense - tem um pacote em baixo da mesa fazendo tic-tac. Davis fez um filme com bom ritmo, soube explorar o talento de Michael Douglas e driblou com bastante competência quase todas as armadilhas do gênero. Mas, a exemplo do que acontecia com o velho mestre Hitchcock, quando chega a hora de explicar direitinho tudo o que aconteceu para os próprios personagens (o público, a princípio, já deveria saber) a narrativa despenca, junto com a gelada Gwyneth Paltrow, que é incapaz de expressar dramaticamente as mudanças radicais que seu personagem enfrenta. Apesar disso tudo - e longe de ser perfeito - Um crime perfeito merece ser visto. Mas, com toda certeza, não será lembrado. Um Crime Perfeito (A Perfect Murder, EUA, 1998). De Andrew Davis. Com Michael Douglas, Gwyneth Paltrow, Viggo Mortensen, David Suchet e outros.
Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".
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