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EAST IS EAST

Como você se sentiria se, em pleno ano 2000, tendo crescido e vivido na Inglaterra a sua vida toda, sendo um homem homossexual, seu pai paquistanês arranjasse o seu casamento com uma esposa paquistanesa, que voce conheceria no altar, e teria que viver junto dela para o resto de seus dias?

Pretty bad, right? O mundo está virado numa aldeia global, às vezes culturas diferentes vivem lado a lado em paz, às vezes nao. East is East é uma comédia inglesa que trata do assunto de uma maneira bem-humorada, sem deixar de ser sério e abordar o assunto de uma forma politicamente correta.

O filme se passa na Inglaterrra, e conta a história de um paquistanês que se casa com uma inglesa, tem 7 filhos com ela, e embora eles tenham crescido na Inglaterra ele quer criá-los conforme os costumes paquistaneses. É lógico que os planos do pai não dão certo, porque os ideais dele e dos filhos não coincidem. Mas ao tentar convencê-los a agir como ele gostaria é que nasce o conflito.

Mas antes de sermos brasileiros, ingleses, porto riquenhos ou paquistaneses, nós somos pessoas humanas, e no fundo nós somos feitos de algumas diferenças superficiais e profundas semelhanças: todos queremos ser felizes com as nossas escolhas pessoais. E é esta a tese principal de East is East, e isto garante o sucesso do filme.

Eu assisti ao filme durante o fim-de-semana em que ocorreu em Nova York a parada porto-riquenha. Porto Rico é um estado americano. Os chineses se concentram em Chinatown, e os porto-riquenhos na parte leste do Harlem. A parada oficial foi domingo, e os ensaios foram sábado, e eu fui ao East Harlem com dois amigos, todos nós brancos.

Cruzamos o Harlem, que é predominantemente africano-americano, e ninguém nos encheu o saco, e o passeio foi numa boa, com boa musica tocando na rua, etc e tal.

Ao chegar no East Harlem olhares vieram em nossa direção, que podiam ser de curiosidade, pelo fato de nós sermos bem-vindos, ou não. Mas não tão tranquilo quanto no Harlem, havia uma certa tensão no ar que causava um certo desconforto. No final da caminhada nós pegamos o metrô e um grupo de porto-riquenhos estava ao nosso lado.

Quando uma mulher chinesa se aproximou do grupo, uma mulher porto-riquenha fez ela se sentir mal dizendo que os chineses não aprenderam a dizer "com licença". Eu moro em Chinatown, e nunca tive nenhum problema com os chineses, eles não me incomodam, eles ficam na deles, e eu fico na minha, e nós vivemos bem lado a lado.

Toda esta longa história é para dizer que quando qualquer grupo desenvolve um nacionalismo exagerado, as consequências não são positivas. Não faz sentido criar os filhos de uma maneira extremamente tradicional, porque o mundo avança. Nem por isso jogamos fora todas as nossas tradições, é importante mantê-las porque elas definem quem somos.

East is East mostra, de uma maneira engracadíssima e inteligente, como é possível atingirmos este meio termo.


East is East
, Inglaterra (1999). De Damien O'Donnell. Com Om Puri, Linda Bassett, Jordan Routledge, Archie Panjabi, Emil Marwa.

Bárbara Kruchin
é artista plástica e aficcionada por cinema. Ela é brasileira, mas mora em Nova York desde 1991, onde cursou a School of Visual Arts.

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