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Endiabrado

De Harold Ramis






RAPIDINHO

Uma coisa é certa: Harold Ramis fez um pacto com o diabo e vendeu sua alma para dirigir o genial O feitiço do tempo, em 1993. Pena que o diabo o enganou, e agora o pobre Ramis paga seus pecados fazendo coisas como este Endiabrado. É a única explicação. Ou, quem sabe, Brendan Fraser e Elizabeth Hurley,
(usando pseudônimos) escreveram um roteiro "perfeito"... para ficarem podres de ricos vendendo os merchandisings das centenas de figurinos que desfilam durante o filme. Ou, quem sabe, a explicação é mais simples: onde, pelamordedeus, está Danny Rubbin, o co-roteirista do Feitiço do Tempo?

AGORA COM MAIS CALMA
Máfia no divã é divertido, mas aquele dos clones (não perderei meu precioso tempo lembrando do nome do filme) é de matar. Harold Ramis é um competente diretor de comédias, ou um grande chato que não sabe contar uma piada? Talvez ele seja as duas coisas, dependendo de quem está fazendo o filme com ele. Neste Endiabrado, infelizmente, a chatice impera. Depois dos créditos engraçados (embora a tradução prejudique bastante), que prometem um filme de humor inteligente, segue-se hora e meia de bocejos e idiotices.

E vamos abrir um parágrafo especial para Elizabeth Hurley, que ela merece. Teoricamente, Hurley está num papel absolutamente adequado para ela: como diabo, ela poderia ser quentíssima, sensualíssima, em permanente ponto de ebulição, sem medo de parecer exagerada ou artificial. Mas a coisa simplesmente não funciona, porque Ramis estava com a mão pesada demais todo o tempo. Com aqueles figurinos brega-chiques, com aquela voz rouca mais artificial que refresco de pozinho e dando aqueles diálogos lapidares, nem a Marilyn Monroe segurava a peteca. Elizabeth, meu bem, você precisa urgente de alguém que te ajude a colocar pra fora o que você tem de melhor.

Ramis comete o mesmo erro que muitos adaptadores de Nelson Rodrigues: com uma história que já está no limite da verossimilhança, os personagens insistem em gritar e espumar pela boca, em vez de simplesmente cumprirem seus papéis com algum realismo. Brendan Fraser está melhor que Hurley, mais seguro, principalmente nos esquetes iniciais, para depois perde-se no excesso de condimentos. Muitas vezes, Endiabrado lembra os piores momentos dos piores filmes de Renato Aragão.

Em Feitiço do Tempo, Ramis conseguia tirar graça e poesia de uma premissa absolutamente fantástica – um dia que sempre se repete. Portanto, não há nada de errado em ressuscitar a velha e igualmente fantástica história de Fausto – o homem que queria "saber" tudo. Os erros não estão no argumento, e sim na forma de desenvolvê-lo. Ramis precisa reencontrar seu equilíbrio autoral, o que parecia estar acontecendo em A máfia no divã. Endiabrado é um passo na direção do inferno.

Endiabrado (EUA, 2000). De Harold Ramis

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Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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