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AGORA COM MAIS CALMA E vamos abrir um parágrafo especial para Elizabeth Hurley, que ela merece. Teoricamente, Hurley está num papel absolutamente adequado para ela: como diabo, ela poderia ser quentíssima, sensualíssima, em permanente ponto de ebulição, sem medo de parecer exagerada ou artificial. Mas a coisa simplesmente não funciona, porque Ramis estava com a mão pesada demais todo o tempo. Com aqueles figurinos brega-chiques, com aquela voz rouca mais artificial que refresco de pozinho e dando aqueles diálogos lapidares, nem a Marilyn Monroe segurava a peteca. Elizabeth, meu bem, você precisa urgente de alguém que te ajude a colocar pra fora o que você tem de melhor. Ramis comete o mesmo erro que muitos adaptadores de Nelson Rodrigues: com uma história que já está no limite da verossimilhança, os personagens insistem em gritar e espumar pela boca, em vez de simplesmente cumprirem seus papéis com algum realismo. Brendan Fraser está melhor que Hurley, mais seguro, principalmente nos esquetes iniciais, para depois perde-se no excesso de condimentos. Muitas vezes, Endiabrado lembra os piores momentos dos piores filmes de Renato Aragão. Em Feitiço do Tempo, Ramis conseguia tirar graça e poesia de uma premissa absolutamente fantástica – um dia que sempre se repete. Portanto, não há nada de errado em ressuscitar a velha e igualmente fantástica história de Fausto – o homem que queria "saber" tudo. Os erros não estão no argumento, e sim na forma de desenvolvê-lo. Ramis precisa reencontrar seu equilíbrio autoral, o que parecia estar acontecendo em A máfia no divã. Endiabrado é um passo na direção do inferno. Endiabrado (EUA, 2000). De Harold Ramis
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