A Enguia
Quando eu resolvi assistir um filme cujo título é The Eel (A Enguia), a primeira coisa que me veio em mente foi uma cena do filme O Tambor de Schlondorf. É um filme alemão impressionante que envolve traição, quebra de confiança.
Esta enguia, coincidentemente, também envolve traição e perda de confiança, mas não se passa na Alemanha. O filme conta a história de um homem que mata sua esposa a facadas ao descobrir que ela estava traindo-o nas suas noites de pescaria.
Ele confessa o crime, vai para a prisão, serve oito anos e abre uma barbearia. Num acaso do destino, ele salva a vida de uma mulher que tenta se suicidar. Ela, por sua vez, tem as suas próprias complicações. Uma mãe completamente tan-tan e riquíssima, e um namorado que só está interessado no dinheiro da mãe dela.
Ela
começa a trabalhar com ele na barbearia e a história segue
em frente. O que no início parecia um policial cheio de violência
se torna uma história poética cheia de verdades. A fotografia
é belíssima, assim como a paisagem.
O filme é quase como uma fábula que tem uma mensagem no final. Mas qual é essa mensagem? Parte é que ainda se pode acreditar na raça humana, alguns seres humanos são fundamentalmente do bem. Ele mata, aceita a responsabilidade e a pena.
Segundo, é que uma vida feliz, onde tudo sempre dá certo, é uma fantasia. Às vezes as coisas dão certo, às vezes não, e a vida é algo imprevisível. Mas não significa que quem passa por traição, inveja, culpa, tristeza, loucura, perdas não pode ser feliz.
Além deste toque, o filme ilustra como as pessoas precisam umas das outras. Viver com uma enguia porque ela não vai nos dizer coisas que não queremos escutar não é uma solução para não sofrer.
Se não deu certo uma vez, é preciso levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Em português, inglês ou japonês. Como diz a banda inglesa Oasis "All around the world, you've gotta spread the word, tell them what you've heard, we're gonna make a better day, All around the world, you've gotta spread the word, tell them what you've heard, you know it's gonna be o. k.".
A Enguia - (Unagi, Japão, 1997). De Shohei Imamura. Com Koji Yakusho, Misa Shimizu, Fujio Tsuneda, Mitsuko Baisho e Akira Emoto.
Bárbara Kruchin
é artista plástica e aficcionada por cinema. Ela é brasileira,
mas mora em Nova York desde 1991, onde cursou a School of Visual Arts.