De: Marcos Tadeu de Araújo
Só porque você foi baterista em épocas imemoriais não quer dizer que você tem o direito de meter o pau na Stillwater. Em minha opinião, a banda imaginária e sua Fever Dog cumprem bem o papel que lhes foi designado pelo roteiro: de ser a banda acompanhada e admirada pelo jornalista-mirim. Agora, você vem com o seu papo de "espírito transgressivo, saudavelmente destrutivo, irracional e dionisíaco do bom e velho rock´n´roll de todas as épocas", porra, vá ver uma daquelas fitas ao vivo do Led Zeppelin e pare de encher o saco do Crowe, que em minha opinião, é um dos únicos diretores que prestam atualmente e que fazem roteiros bem amarrados e "sutis". Não confunda as bolas. Não é um filme sobre rock.
De: Gerbase
OK, Marcos. Não é um filme sobre rock, mas foi vendido como um filme de rock, e não como um filme sobre um jovem jornalismo. Não é culpa de Crowe, você tem razão. E vou assistir a uma fita dos Rolling Stones, que é mais a minha praia.
De: Koblitz
Fala! Li a sua crítica sobre Quase Famosos. Pô, Gerbase, você é um crítico que prescreve. Para mim, a função de um crítico é analisar a que um filme se propõe e definir se ele consegue ou não cumprir seus objetivos da melhor maneira possível. O filme não tem que suprir as expectativas pessoais do crítico. Você não gostou de Quase Famosos porque ele não supriu uma expectativa sua em relação ao que era o rock nos anos 60. O seu raciocínio foi "o filme não mostrou uma coisa que eu esperava, então o filme não é de todo bom".
Como todo mundo, você tem padrões, referências na sua cabeça que são a base do que você acha bom ou ruim. Ao fazer a crítica você tem que tentar esquecer esses padrões. Você tem que usar esses padrões para fazer os seus filmes, isso sim. Mas para analisar olhares dos outros, acho errado. Você tem que ver o que o diretor quis fazer e se ele conseguiu fazer isso dentro dos padrões DELE. E voltamos a nossa velha discussão: melhor que ficar prescrevendo é ir lá e fazer melhor. Bom, essa foi a minha prescrição.
De: Gerbase
É impossível para o crítico fugir completamente dos "padrões" (entendendo "padrões" como todos os filmes que já foram feitos, ou seja, a tradição, os cânones, os códigos estabelecidos em 100 anos de cinema). Mais impossível ainda é saber quais são os "padrões" do diretor, a menos que ele os explicite de alguma maneira. Mesmo assim, quem garante que ele não está mentindo?
De: Rafael de Oliveira Teixeira
Quem é Peter Framptom?
De: Gerbase
O cara que cantava "I´ve got youuuuuuu. Show me way". Ou algo assim. As meninas adoravam. Esquece.
De: José Ricardo Pinto
Semana passada, não enviei minha opinião ao chinês estilista Amor à Flor da Pele por absoluta falta de tempo. Mas ao ler sua ácida crítica ao rançoso Quase Famosos não pude deixar de dar meu depoimento semanal. De uma grupo de mais de 20 pessoas, eu fui o único que não gostei deste filmeco sobre o mundo do Rock. De início, o que me irritou profundamente foi a presença da fadinha Kate Hudson, por inúmeras razões. A principal é o seu lindo rostinho iluminado que sempre que a camera a focaliza está sempre rindo, feliz, bem no estilo fadinha. Você está certíssimo, Gerbase: revelação de que? Talvez da chatice extrema de ver esta linda garotinha dando sorrisinhos para a camera sem um mínimo de densidade ou até mesmo carisma. Cameron Crowe é um brilhante caretaço que quis fazer um filme de rock para as podres famílias caretinhas da América. Aos 20 minutos de projeção estava irritado com o rostinho iluminado da fadinha Kate Hudson, das cenas pausadamente divididas em capítulos e das músicas sem força elétrica que o verdadeiro rock requer. É a grande e benévola visão hollywoodiana sobre os antigos anos 60.
Cadê a densidade e complexa ideologia que reinava nos conturbados anos 60? Cadê a verdadeira "viagem" que os psicotrópicos faziam nas cabeças da geração da época? Cadê a enorme liberdade e abertura de visão de um novo comportamento social que estava se formando? Cadê o ROCK? Em termos de visão realista acho que Ang Lee foi bem mais direto à questão em seu Tempestade de Gelo sem nem ao menos falar de Rock, mas dava pra sentir que havia um grande movimento social/ideológico e político acontecendo por trás daquelas pessoas chatas e caretas. Quase Famosos se parece muito com aqueles brinquedos do Magic Kingdom na Disney (ao estilo Piratas do Caribe). Mostra os movimentos dos personagens com todo aparato rústico, mas sem querer tocar REALMENTE na questão. Só serve para divertir e distrair. (Será que fui claro nesta comparação?) Ressalva para Frances McDormand que foi a responsável pela minha presença no cinema. O que uma ótima atriz não faz num papel coadjuvante? Ainda não pude ver Velvet Goldmine, mas depois deste engodo, vou correndo pegar na locadora e poder saborear um pouco sobre o verdadeiro Rock.
De: Gerbase
Pô, José Ricardo, você pegou pesado. Não acho que Quase famosos seja um "filmeco". E compará-lo com um filme excepcional como Tempestade de gelo também é sacanagem. Contudo, a sua frase "grande e benévola visão hollywoodiana sobre os antigos anos 60" é adequada. Talvez este seja o grande defeito do filme: benevolência demais, ingenuidade demais, bom-mocismo demais, ao tratar de uma época que quebrou tudo. Quem lembra bem da década de 60 não a viveu como deveria.
De: Rodrigo Medeiros
Acho que todas as considerações que você usou para analisar 'impiedosamente' o filme, como vc mesmo diz, podem ser aplicada a sua visão completamente fora da realidade e baseada em estereótipos mais que batidos do 'mundo do roque'. 'Espírito Transgressivo? Saudavelmente destrutivo? Mas que ladainha. Vc generaliza sua visão estereotipada exatamente como quem diz: quem gosta de rock é maconheiro. Tenho certeza que vc não pensa assim, mas pq sua crítica transpira isso? Pq vc queria falar mal do filme, só pode ser.
Eu cansei de gente dizendo que "roque naquela época era transgressor’, ‘naquela época era vanguarda’, uma música que tocava no programa da xuxa da época, Ed Sullivan Show. Por favor! Em 1976 ser transgressor era ser punk. Em 79, era se vestir de mulher. Em 81, era usar base e roupa preta’. Putz, isso é que eu chamo de visão pequena!
Ao invés ficar atento e tentar compreender pq o sr. Crowe tem uma outra visão do tal roque em rou, vc simplesmente categoriza tudo como ‘um filme careta até a medula’. Fácil né? Ao contrário de vc, ele estava lá e presenciou aquilo tudo. E contou a história do ponto de vista de um cara que gosta de música, e não da ‘cultura do roque’ (e toda esta mística infeliz). É ingênuo? É. E daí? O filme é sobre música. É sobre um cara que desde o início deixa claro: EU GOSTO DE ROCK. Não é de mulherzinha, não é drogas no backstage, não é de escrever crítica na revista. Eu gosto da Música. É uma homenagem mais que digna. Muito mais digna do que tirar todo o foco do que David Bowie tocava, e colocar no que ele cheirava.
Vc faria um filme diferente? Com uma visão mais ‘real’ do mundo do roque? Legal. Ia ficar tipo ‘Velvet goldmine’? Eu adorei o filme, mas aquilo não tem NADA a ver com Quase Famosos. Quer comparar? Então fala de Febre de Juventude. Quer falar de roque, então fala de gente comum, que curte música, e não uma porra de uma imagem vendida durante anos que nada mais é que uma romantização (tão válida quanto qq outra) da realidade.
PS1: seu comentário ‘acordou culpado’ dá a impressão que ele estava culpado por ter comido as meninas - surreal!!! Para mim estava mais do que claro que o único sentimento de culpa ali era "caralho, tenho que entregar a porra da matéria’... mas tudo bem.
PS2: Pq vc não comentou na sua crítica a visão que é discutida de cabo a rabo no filme, sobre a industrialização e marketização da música? Por favor né?
PS3: Em algum outro momento vc reclama da falta de ‘cenas intensas’. Não sei bem o que é isso, mas vamos criar uma base de comparação: a cena do baile no final de "De Volta Para o Futuro" é uma cena intensa? (espero que sua resposta seja sim, senão não te escrevo nunca mais!)
De: Gerbase
Nossas opiniões tão diferentes têm uma raiz bem clara: você acha possível separar a música (no caso específico, o rock) da cultura que o criou e sustentou. Eu acho que a música, e muito especialmente o rock, não pode ser compreendida sem seu contexto: os anos 60, paz & amor, psicodelia, abaixo os pais, flower power, greve nas universidades, Mao, anti-psiquiatria e todas aquelas coisas que hoje podem parecer antiquadas, mas mudaram o mundo, porque tornaram possível todas as outras coisas que você citou: revolução sexual, movimento punk, uma visão mais abrangente das drogas. Acho mais: que o rock, se descontextualizado, não passa de uma batidinha quadradinha, infantil, repetitiva. Rock, enfim, nunca foi e nunca será só música. Bowie é Bowie e fez as músicas que fez porque sabia, na prática, o que era a androginia, porque experimentou todas as drogas, porque rimou estética com política.
Não acho que Quase famosos seja uma análise da marketização da música. E tudo bem: a cena final de De volta para o futuro é intensa.
De: Fernando Vasconcelos
Agora concordo em tudo. Se fosse escrever sobre o filme, diria o mesmo que você falou, incluindo a lembrança do Velvet Goldmine. E a Katie Hudson é uma gracinha, mas revelação como atriz é demais, né? Escrevi mesmo foi para pedir socorro! Como designer gráfico, não posso deixar de comentar que está IMPOSSÍVEL de ler a coluna. Só li o meu comentário e desisti. Quem fez esse novo visual já ouviu falar em princípios básicos de legibilidade? Fundo azul escuro com texto em negativo? Entrelinha quase zero? Corpo pequeno e sem serifa? Isso pode funcionar para páginas ilustrativas, mas a tua coluna é basicamente de texto, muito texto. Era tão legal antes. Fundo branco, texto arejado... Vai entender!!! Socorro!!
De: Gerbase
Reclamação repassada ao setor competente. Eu não entendo nada de design.
De: SH (Keli Rodrigues)
"Odeio vítimas que respeitam os seus carrascos." (Jean Paul Sartre)
Caro Gerbase. Só agora visitei a sua página e confesso que levei um susto. Um susto seguido de revolta & indignação. O senhor fez mais do que uma interpretação de meu pedido de não publicar o texto. Digamos que o senhor tenha feito uma libérrima interpretação de meu pedido. Não é a primeira vez que eu observo o senhor ter essa atitude digamos, tirana, com as solicitações de alguns de seus leitores que, por motivos vários, não querem ver seus textos publicados. O senhor é um déspota; esclarecido, é bem verdade, mas é um déspota. Não, pensando bem o senhor não é apenas um déspota, o senhor é, também, um despoetizador da arte alheia (sim, estou me referindo ao filme de Kar-Wai). E eu nem gostei tanto assim do filme, apenas, ora deixa isso prá lá. E nós, ficamos aqui tratando-o de caro, caríssimo, senhor, prezado. Ai, eu me odeio, eu me odeio, eu me odeio.
De: Gerbase
Você vem de Sartre, e eu vou de Nietzsche: "Morrer pela 'verdade' - Não nos deixaríamos queimar por nossas opiniões: não estamos tão seguros delas. Mas, talvez, por podermos ter nossas opiniões e podermos mudá-las." (de "O andarilho e sua sombra")
Acho que apenas a má poesia pode ser despoetizada pelo crítico. Acho que somente os textos ruins não devem ser publicados. Acho que você deve me tratar com mais intimidade.
Mas estou pronto a mudar de opinião.
De: Ítalo Modesto Dutra
Talvez não tenha escrito antes, no e-mail que enviei sobre teus comentários do filme, mas aprecio o que tu fazes nas tuas críticas. Fiquei bem entusiasmado com o bate-bola que rolou nas mensagens (foi a primeira vez que participei e li as respostas - está aí um mérito do seu trabalho) e também gostei muito do texto da Keli. Então, só pra jogar um pouco mais de lenha na fogueira: o que é que está em um filme que não foi posto pela mão do autor? Acho que o Amor à flor da pele pode ser um filme pra alguém que sonha em fazer cinema. E como não sou nem publicitário, nem rico e muito menos entediado, diria que foi infeliz o teu comentário.
De: Gerbase
Olha aí, Keli. Se eu não tivesse publicado, não receberias esse elogio explícito do Ítalo, rapaz inteligente que me faz uma pergunta difícil. Que eu tentarei responder, claro. Tudo que está no filme é colocado pela mão do diretor. Mas o bom diretor sabe esconder bem esse fato.
De: Frederico Steca
Eu também notei a "caretagem" explícita que rolou no filme "Quase Famosos". Em meio a uma década tão tumultuada e transgressora, pós-hippie em que Led Zeppelin é "A banda" (e continua sendo) ninguém poderia ser tão careta, principalmente naquele meio artístico. Realmente Crown quis agradar gregos e troianos com o filme. Porém, aquele mundo pesado de sexo/drogas/rock'n roll visto pelos olhos de um adolescente puro me encantou profundamente. A ingenuidade do garoto me transportou para um mundo onde as coisas são mais simples e bonitas. O filme me fez lembrar da série "Anos Incríveis" (apesar de achar a série melhor que o filme), onde os adolescentes tinham um ideal e a vida era colorida. Gostei do filme, do enredo, das interpretações, da trilha sonora.
Ah, que bom seria viver num mundo onde se pode enxergar (devido à ingenuidade, lógico) a pureza do mundo, da amizade e do amor. A cena do avião foi hilária, uma das melhores seqüências do filme. Outra seqüência realmente interessante é a que Penny Lane (adorei o nome, salve os Beatles!) está sofrendo uma lavagem estomacal na banheira e nosso repórter mirim percebe que esta perdidamente apaixonado. Não foi um retrato fiel à época. Mas valeu... Em um ano cheio de Gladiadores, Hanibals, Bronkovichs e chineses voadores no cinema, "Quase famosos" é, a meu ver, um dos melhor do ano!
PS: Qual seria a melhor definição para "Roteiro Adaptado"? Poderia me dar um exemplo de filme com um excelente roteiro adaptado?
De: Gerbase
OK, você leu o filme exatamente como o diretor planejou. Eu não consegui, talvez por mau-humor ou excessiva expectativa. "Roteiro adaptado" é todo roteiro baseado em alguma outra obra, seja da literatura, do teatro ou do próprio cinema. Exemplos? Existem bilhões, tanto de boas quanto de péssimas adaptações. Para mim, a pior adaptação de todos os tempos, disparado, é o filme A fogueira das vaidades, de Brian de Palma, que destroçou completamente o livro de Tom Wolfe. E quer uma bela adaptação? O filme A última tentação de Cristo, de Martin Scorcese, baseado no romance de Nikos Kazantzakis.
De: Denise
Estou tentando ler todas as suas críticas no site Terra. Já li quase todas. Gosto muito. Apesar de não concordar com algumas, é por isso que gosto. Você me faz olhar de modo diferente diversos filmes que já assisti. Um dos meus sonhos é escrever um roteiro pra cinema.E já vi suas dicas de livros sobre esse assunto. Vou começar ler esses livros e talvez aprender um pouco. Talvez seja muita pretensão minha, escrever um roteiro, mas, um dia, quem sabe? Só de ler sua coluna no Terra, já estou aprendendo bastante! Outra coisa, acho interessante as cartas de diversos internautas que te escrevem com a grafia própria dos gaúchos! Como "tu" "viste". É muito legal! Aqui no Estado de S.P. não falamos assim e eu acho bonito como os gaúchos falam! Li também, na Folha, esta semana, uma matéria sobre a Casa de Cinema, de Porto Alegre, que você é um dos sócios! Achei muito boa a matéria. E você, o que achou? Toda sorte pra vocês, que façam muitos filmes! Estou esperando ansiosa o programa que você dirigiu , ou está dirigindo na Globo. Outra coisa, seu filme Tolerância vai sair em vídeo ou DVD ? Eu não assisti e outro dia procurei na Blockbuster e não achei.
De: Gerbase
Tolerância já saiu em VHS e DVD. "O comprador de fazendas" (episódio de Brava Gente que co-roteirizei e dirigi) passa hoje, na Globo, logo depois do Casseta e Planeta. Depois me diz o que achaste do programa. Espero que esteja tri. Obrigado pela força.
De: Reame
Alô, caro Gerbase. Ainda preciso ver Quase Famosos. Mas tenho outros assuntos. Primeiro, respondo sua dúvida: Inverno Quente (Wintersleepers) foi dirigido por Tom Tykwer, o mesmo de Corra, Lola, Corra. Tenta ser um drama intimista sobre 5 pessoas cujas vidas ficam interligadas após um acidente de carro em que uma menininha fica em coma. Acredite em mim, o drama dos personagens em Corra... é mais convincente. Os conflitos de ninguém no filme são convincentes, as maneiras como eles são "interligados" são inverossímeis, chegando a uma ridícula e absurda conclusão. Bem moralista, por sinal. O sacana é "punido", e os "bons", premiados. E o diretor enfia um monte de estilização sem sentido, que se não é tão exibicionista quanto em Lola... Só aborrece. A estilização exagerada de Corra, Lola, Corra é mais divertida pelo menos.
Agora, estou vendo que me alongei demais, mas quero fazer um pedido. Tempos atrás, vc indicou alguns livros para uma outra pessoa. Me aproveitei da informação e já li quase todos. Portanto, obrigado. Recentemente vc indicou mais alguns, para um pessoal que deseja ser crítico de cinema. Como também tenho essa pretensão, poderia incrementar a lista, se não for muito incômodo? É que vc indicou alguns que já tinha lido. Além disso, poderia dar alguns conselhos? Até logo e até mais.
De: Gerbase
Prometo em breve divulgar minha lista de "Obras fundamentais sobre o cinema para quem quer escrever, dirigir ou falar mal de filmes". Me cobrem. É sério. Acompanhada, é claro, da lista "Conselhos fundamentais para quem já leu tudo e continua boiando." E até mais.
Quase Famosos (EUA, 2000). De Cameron Crowe
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