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FREQUENCY

Imaginem um filme onde se viaja no tempo, como em "Back to the Future", mas que não tem aquela frieza de um filme de ficção científica.

Em outras palavras, Frequency é um filme de ficção cientifíca para quem não é fã do genero. Denis Quaid é um dos "New York Bravest" - um bombeiro, que morre no ano 1969, tentando salvar uma menina num incêndio. Ele era um americano típico. Branco, com uma bela esposa, com um belo filho, morando numa bela casa, num belo bairro, bla bla bla.

Trinta anos depois de sua morte, seu filho encontra o rádio que Quaid usava, e estranhamente, se comunica com ele. Juntos eles mudam o passado, e consequentemente, o presente.

A idéia do filme não é má, e ele não é de todo ruim. O roteiro é bem trabalhado, os atores são bons, a cenografia é competente. E dai eu me pergunto: porque, com tudo isto, se sai do cinama frustrado, achando que não valeu a pena pagar os dez dólares? Porque falta substância!

É mais um filme americano que segue o modelo hollywoodiano. E daí eu me faço outra pergunta: o que tem de errado com isto? Nada, de errado não há nada. Mas a mediocridade não é uma qualidade, e quando nós atingimos um certo nível de sofisticação intelectual nós não nos contentamos com o banal.

Nós queremos algo que seja criativo, que nos faça pensar, ou nos faça sair do cinema um pouco diferente de como éramos quando entramos. Então, mais uma vez, eu estou repetindo que o cinema americano perpetua os valores desta sociedade, uma bela familía classe média, e o resto é ficção barata, e nós não estamos nem um pouco interessados no que está acontecendo no resto do mundo.

Cinema é um negócio lucrativo neste país, e eu fico imaginando os executivos da indústria cinematográfica sentados em um estúdio, ouvindo a apresentação deste "script", e pensando se ele será um sucesso de bilheteria ou não. E os executivos ficam cada vez mais ricos, e as famílias classe média ficam cada vez mais felizes porque eles têm filmes para assistirem que irão reforçar o seu estilo de vida, e lhe proporcionar 90 minutos de entretenimento banhado a pipoca e coca-cola. Comfortável.

Mas escrevendo este comentário hoje, no dia 16 de maio, eu não posso deixar de falar sobre as grandes companhias provedoras da internet. Tem um grande Merchandising da companhia Yahoo no filme. Nas suas idas e vindas entre o passado e presente, John (Caviezel) dá uma dica para o seu melhor amigo de infância comprar ações da Yahoo, e quando o filme avança para o presente, o seu amigo está rico.

Se o filme fosse feito em 2000, talvez a dica seria para ele comprar ações do grupo Terra, e não da Yahoo. O grupo Terra comprou a companhia americana Lycos. Mas mesmo que a Espanha venha a se tornar um país mais rico que os Estados Unidos, eu imagino que Carlos Saura e Pedro Almodóvar criaram uma tradição cinematográfica que não irá cair na mediocridade.

Frequency
, EUA (2000). De Gregory Hoblit. Com Dennis Quaid, Jim Caviezel, Elizabeth Mitchell e Andre Braugher.


Bárbara Kruchin é artista plástica e aficcionada por cinema. Ela é brasileira, mas mora em Nova York desde 1991, onde cursou a School of Visual Arts.

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