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Hannibal
RAPIDINHO AGORA
COM MAIS CALMA Mas as coincidências são necessárias em quase todos os roteiros. Elas só aparecem e incomodam quando as não-coincidências, ou seja, todo o resto, não funciona. O drama profissional de Clarice Starling, agora interpretada por Julianne Moore, é muito raso e também mal explicado. Na batida policial do início da trama, fica absolutamente claro que ela queria suspender a ação (e ordenou a suspensão para todos), mas foi desobedecida por um policial idiota. Starling tinha, portanto, muitas testemunhas. Por quê elas não foram ouvidas? Só porque alguém queria deslocá-la para a caça de Lecter? Os personagens de Gary Oldman e Ray Liotta são infantis. Não apareciam vilões mais ridículos desde o Dr. Evil e o Mini Me, de Austin Powers. E o que são aqueles italianos criadores de javalis? Eu fiquei esperando Asterix e Obelix entrarem na tela para pegar aqueles bichos feios e fazer um bom churrasco. Tudo isso, contudo, ainda seria digerível se Ridley Scott e o diretor de fotografia não ficassem o tempo todo enfeitando as imagens. O estoque de filtros laranja deve ter diminuído bastante em Florença. E o de ventiladores de teto com certeza acabou. Entre 77 e 82, o inglês Scott dirigiu Os Duelistas, Alien e Blade Runner. Três bons filmes. Depois ainda fez o divertido Thelma e Louise. Como um realizador que já deu mostras de talento agora se envolve em coisas como Gladiador e Hannibal? Respostas para esta caixa-postal. Finalmente, cabe ressaltar que, ao contrário de O silêncio dos inocentes, Hannibal não é um filme de suspense. É um policial de ação com toques de horror. Hitchcock dizia que, num filme de suspense, o espectador sabe que há uma bomba embaixo da mesa do bar em que um casal inocente come sorvete. E ouvimos o tic-tac. E vemos a bomba. E o casal come sorvete. Num filme de ação, vemos um casal inocente comendo sorvete e, de repente, uma bomba, escondida sei lá onde, explode. Em O silêncio dos inocentes, a mesa está no escuro absoluto, o casal é formado por uma policial inteligente, mas insegura, e por um psicopata canibal brilhante. Eles comem o sorvete, invisível, e, de vez em quando, as colheres se tocam. A bomba faz tic-tac. Em Hannibal, a mesa está numa sacada de Florença, em baixo de um ventilador de teto, e o sol está se pondo. O casal é formado por uma policial burra e um psicopata metido a besta. Eles comem mocotó. E a bomba? E a bomba? A bomba é o filme. Hannibal (EUA, 2001). De Ridley Scott
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