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RAPIDINHO Roteiro previsível, em três atos, com todas as viradas possíveis (o milionário que se revela um bandido; a nitro salvadora que se revela um perigo; os dois malucos que se revelam sujeitos de moral; o alpinista legendário que se revela um vingador). Mas quem disse que basta criar as peças e movimentá-las num plano ideal? Se fosse fácil assim, até Stallone teria conseguido ir além da primeira cena (boa!) de Risco Total. Martin Campbell revela talento narrativo, mostra que sabe escolher e orientar seu elenco, e tem noção de "timing" nas cenas de suspense. A descida do helicóptero é um bom exemplo. É claro que ninguém morreria naquela hora (ainda muito cedo no filme), mas a cena é tão bem decupada, a câmara é tão convincente e o ritmo da montagem é tão preciso, que todos os espectadores ficam na ponta da cadeira. Inclusive os que, no final, dirão que o filme é bobo. Mas não é tão bobo assim. Nosso herói é um sujeito que, a princípio, não quer mais subir nem escada rolante. Quer ser fotógrafo. Nosso vilão, a princípio, é um sujeito suficientemente sensato para deixar a liderança da escalada para alguém mais experiente, um profissional do ramo. Nossa heroína, a princípio, está atrás de uma egoísta glória pessoal. E todos eles têm surpresas a apresentar. No capítulo decisões clássicas, há, inclusive, uma bela seqüência sobre as distorções que um raciocínio lógico e científico pode sofrer nas mãos de um cara mal-intencionado. A tática do milionário para enfrentar o desastre dos três alpinistas, que caem numa fenda gelada, é a mais adequada. Se a morte de um deles é certa, porque gastar recursos com ele? O problema é que esse discurso só é fácil porque "eu" não sou "ele". É mais ou menos como falar da globalização. "É inevitável! É a marcha da história! A empresa mais competitiva vence, o país mais atrasado (quem mandou ser atrasado?) perde." Parece não haver julgamento moral envolvido. Parece que não há culpados. Mas o pretenso discurso impessoal da história vai incidir sobre pessoas, que, em sua maioria, não são competitivas, nem estão em países adiantados. Elas são como o alpinista agonizante, que não tem nada a oferecer à pequena comunidade de desesperados. O que fazer? Não seria melhor acabar logo com uma vida inútil? Que tal uma eutanásia continental sobre a África? Ficção-científica? Que nada. Ela começou faz tempo. Claro, estou levando Limite vertical a alturas interpretativas nunca sonhadas pelo seu realizador, mas eu tenho esse direito e, mais do que isso, o filme me dá essa brecha. É uma pena que salvar os não-competitivos esteja, aparentemente, fora de qualquer roteiro possível no mundo real. E é claro que os vilões de verdade nunca se exporiam a um perigo verdadeiro como o K2. Eles não são tão idiotas e megalomaníacos. Eles preferem ir ao cinema e ver Limite vertical com projeção perfeita e som DTS. Ou ficar em casa, quentinhos, em seus "home-theaters", esperando sair o DVD. Nesses dias perigosos, em que os inúteis ainda estão vivos, até a escada rolante que leva ao cinema do shopping pode ser uma escalada mortal. Limite Vertical (EUA, 2000). De Martin Campbell
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