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MISS JULIE

"A linguagem visual do cinema tem sido sodomizada pela edição, é hora de voltar a algum tipo de clareza"

Com estas palavras, Mike Figgis, defende o seu filme mais recente: Miss Julie. Mike Figgis dirigiu Leaving Las Vegas(1995), com Nicholas Cage e Elizabeth Shue, uma obra prima do cinema. Depois fez One Night Stand (1997), com Wesley Snipes e Natasha Kinsky. One Night Stand não oferece nada de novo, embora seja um filme honesto sobre o desejo. O filme seguinte na sua filmografia, The Loss of Sexual Innocence(1999), já foi mais experimental e não tinha nenhuma estrela holywoodiana no elenco.

O seu projeto mais recente, Miss Julie, é a adaptação para o cinema da peçaa de August Strindberg, escrita em 1888. O filme se passa quase inteiramente na cozinha de um castelo sueco. Miss Julie (Burrows) é a filha do dono do castelo, e faz parte da aristocracia sueca. Jean (Mullan), é um dos serviçais. O pai de Julie está viajando, e ela começa um jogo de sedução com Jean, que acaba não resistindo.

O filme é quase todo perpetuado em diálogos, em ritmo lento, o que torna tudo um pouco entediante para o espectador. Miss Julie é um filme extremamente hermético. Mas Figgis se aventura cinematograficamente, assim como Miss Julie e Jean se aventuram tentando romper com as barreiras sociais que os separam.

Miss Julie foi inteiramente filmado com duas cameras 16 mm. Durante as filmagens, o diretor assistia às cenas em dois monitores simultaneamente. Ele gostou do que viu, e resolveu levar esta imagem para a tela. Há uma cena espetacular quando eles estão fazendo amor e a tela está dividida ao meio. Nós assistimos a duas imagens sendo projetadas simultaneamente. Mesmo que o filme não nos dê o comforto de uma história linear com a qual estamos acostumados, é extremamente gratificante saber que existem cineastas que estão interessados em prestar atenção ao cinema como arte, e como um processo onde temos que estar abertos a todo o tipo de surpresas.

Marcel Duchamp, artista plástico que mudou a maneira de ver arte no século XX, entitulou uma de suas obras "The Broken Glass" (O Vidro Quebrado) devido a um acidente que ocorreu quando a obra estava sendo transportada. E Mike Figgis segue a tradição de buscar novas possibilidades. Sempre.

Miss Julie, EUA (1999). De Mike Figgis. Com Saffron Burrows, Peter Mullan, Maria Doyle Kennedy.

Bárbara Kruchin é artista plástica e aficcionada por cinema. Ela é brasileira, mas mora em Nova York desde 1991, onde cursou a School of Visual Arts.

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