|
RAPIDINHO AGORA COM MAIS CALMA Mas onde está o toque pessoal de Zemeckis? Onde o roteiro faz mais do que a lição de casa? Tô procurando até agora. Wilson? Sinto muito. Além de ter gosto de "merchandising" requentado (lembram do "Calvin" em De volta para o futuro?), os diálogos de Chuck com a bola são todos aborrecidos. Sexta-feira (não é a treze, adolescentes de plantão) era personagem muito mais interessante, pois havia um desafio lingüístico e um choque cultural. O drama sentimental de Chuck – eu amo essa mulher/fiquei muito tempo longe dela/agora ela tem marido e filha -, que alimenta o primeiro e o terceiro atos do filme, é raso, insosso, sonolento. O que irrita em Náufrago é a sua absoluta inapetência para arriscar, botar algum tempero na receita, surpreender. Tom Hanks... Tá legal. É Tom Hanks. Mais gordo, com mais algumas rugas, correto como sempre. Mas sua atuação também nada acrescenta à carreira. O que deveria ser um "tour-de-force" de um ator oscarizado não passa de um desfile de caretas e algumas acrobacias. Se fosse Renato Aragão, daria pra elogiar os momentos de introspecção e desespero.
Quando Revelação estreou, li que era um filme menor, rodado por Zemeckis nos intervalos (ou durante a pré-produção), desta obra ousada chamada Náufrago. Aí está uma prova de que fazer cinema tem suas surpresas. Revelação também é uma história velha, muito conhecida, mas a direção consegue revigorá-la, enquanto o projeto ambicioso fracassa em sua mesmice. "Mas teve muito mais bilheteria!", dirão os fãs desse Crusoé recauchutado. É verdade, mas, se o termo de comparação é somente este, eu diria que Náufrago, na categoria de filmes de desastre, leva um banho absoluto do grudento Titanic. Ah... Titanic é setimentalóide, romanticóide e tem aquela trilha insuportável de transatlântico dos chiques e famosos, enquanto a ilha de Náufrago nem trilha musical tem. Mas, no terreno da apelação baixa, o que dizer das cenas com a baleia em Náufrago? Santo Greenpeace, Batman! A baleia olhou maternalmente para o barbudo Hanks, apiedou-se dele e depois acordou-o no momento crucial com seu Lorenzetti De Luxo (olha o meu "merchandising" aí, gente!). Nem Rin Tin Tin, no auge das escaramuças do Forte Apache, alcançou tamanho grau de devoção. E ele usava a língua, o que, apesar de mais nojento, é bem mais verossímil. Isso sem falar na linda garota que Chuck, bom e triste menino, encontra depois de ter entregue a encomenda. A Celine Dion poderia entrar a mil nos créditos finais. De qualquer maneira, estamos em férias (em praias não tão paradisíacas), no cinema ao lado está passando A bruxa de Blair (de quem nem o próprio diretor gosta) e o calor é grande. Então naufraguemos nesse filme modorrento, torcendo para que aquela baleia não venha nos encher o saco com seu esguicho, prejudicando a aplicação do filtro solar. Aliás, como é que o Zemeckis não pensou nisso? Repelente de insetos, filtro solar, pranchas de surf... Náufrafo (EUA, 2000). De Robert Zemeckis
|
||
Copyright
© 1996-2001 Terra Networks,
S.A. Todos os direitos reservados. All rights reserved.
|