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O filme The Negotiator, recém lancado em Nova Iorque, é o que eu chamo de entretenimento eficiente. A diferença entre entretenimento eficiente e um bom filme é que um bom filme mexe mais profundamente com o espectador. De uma maneira ou de outra, a gente sai do cinema uma pessoa diferente de como a gente entrou. Com o entretenimento eficiente a gente vive duas boas horas, e depois esquece o que viu. A história é um suspense que envolve bandido e mocinho, mas ao invés de andar a cavalo pelo oeste eles são policiais. O dinheiro desaparece e vários policiais estão na lama. Para salvar as suas peles eles usam Danny (Samuel Jackson), um policial, de bode espiatório. Ele, por sua vez, resolve tirar tudo a limpo e movimenta a polícia de Chicago inteira para salvar os reféns que ele mantém preso até resolver quem matou seu colega para incriminá-lo. A atuação de Jackson é perfeita, e Kevin Spacey também é bom. Mas os valores que o filme defende são fora da realidade. Os americanos são puritanos e vivem nesta dualidade que as pessoas são boas ou más, honestas ou disonestas, perfeitas ou imperfeitas. Acreditar nisto e simplificar toda a complexidade que faz a nossa existência interessante. Ao sairmos do cinema não nos questionamos sobre nada, não passamos por experiência catártica nenhuma, não nos identificamos com nenhum dos personagens, ou os sofrimentos pelos quais eles passam. Mas ficamos grudados na tela durante mais de duas horas por emocoes baratas mesmo que o custo de produzi-las nao seja nada barato. Nada contra emocoes baratas, nada contra entretenimemto eficiente, nada contra saco grande de pipoca no cinema, nada contra superficialidades, nada contra história de bandido e mocinho. Silverado, que eu vi há muito tempo atrás, ficou na minha memória como um filme mais emocionante a longo prazo, assim como um filme independente feito com baixíssimo custo chamado El Mariacci. Emoções baratas são como comer um bom queijo parmegiano e queijo de soja. Um é bom, e o outro é a simulação da realidade. Mas talvez, neste mundo virtual, a gente ache que não precise de realidade, só da simulação dela. O problema é que depois de comer o parmegiano queijo de soja tem gosto de plástico. The Negotiator, EUA, 1998. De F. Gary Grey. Com Samuel L Jackson e Kevin Spacey.
Bárbara Kruchin
é artista plástica e aficcionada por cinema. Ela é brasileira,
mas mora em Nova York desde 1991, onde cursou a School of Visual Arts.
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