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CARTAS DO REICHENBOMBER - Opus 36 Em vias de testemunhar o reaquecimento e a força do ímpeto libertário na efusiva, criativa e pacífica manifestação recente em Washington, EUA, contra a globalização, que a mídia nativa (com raras exceções) parece minimizar (visite um dos sites indicados no final da coluna e descubra como tudo começou em Seattle), o Bomber lança a incômoda questão: será que por estas plagas tudo vai rolar, novamente, com dez anos de atraso?
O quinto festival de documentários É TUDO VERDADE, através de seu diretor Amir Labaki, solicitou a críticos e cineastas, inclusive ao escriba, que relacionassem os melhores filmes ou vídeos brasileiros do gênero. No catálogo oficial, alguns detalhes da minha lista saíram trucados. Para dirimir dúvidas reproduzo a minha relação pessoal:
6. O SUSPENSE SEGUNDO HITCHCOCK de João Callegaro e O MUNDO GRÁFICO DE GOELDI de José Sette.
A inclusão dos filmes de Callegaro e Tambellini podem ser encarados como uma sublime provocação. Callegaro fez seu curta metragem totalmente em cima das fotos do livro de François Truffaut sobre o mestre do suspense. O documentário de longa metragem de Tambellini é um filme institucional, do tipo "venha conhecer as belezas de Paraty". Todos os dois filmes superam as limitações de sua matéria prima devido ao talento descomunal de seus realizadores. E é quase inacreditável que transpirem emoção em cada fotograma. É tudo verdade que o festival deste ano se superou. As mostras Jori Ivens e Jean Rouch, mais os vídeos de Paschoal Samora, Barcinski e Finotti, Ricardo Miranda, os filmes de César Paez, Paulo Caldas, o video-filme Santo Forte, e outros tantos talentos, foram pérolas do festival a um público cada vez mais atento e interessado. Para quebrar a austeridade (para alguns, caretice) natural de uma mostra deste quilate, fica aqui consignada a sugestão de incluir no próximo ano uma retrospectiva É TUDO MENTIRA, com o melhor e o pior da série MONDO (iniciada com MUNDO CÃO de Jacopetti e Prosperi), quem sabe com a curadoria de Carlos Thomaz Albornoz. O lado espúrio do documentário, e seu compromisso com a verdade, só aumentaria o debate a respeito da pertinência do gênero. Como já disseram Welles e Scorsese, o filme errado ensina mais sobre cinema do que o inverso. Através de um e-mail do cineasta e diretor de fotografia Carlos Alberto Ebert ficamos sabendo de uma experiência pioneira no Brasil (nos EUA, é comum) na produção e distribuição de filmes e vídeos através da Web. Está aí uma solução viável para tornar acessível ao país inteiro obras radicais de realizadores como Edgar Navarro, Jairo Ferreira e Peter Baiestorff. Como diz Ebert: "Na era digital quem sabe todos estes cineastas vocacionais vão poder fazer seus filmes?" https://www.sul.com.br/~suckow/index.htm Sobre o assunto, já que tenho recebido alguns e-mails questionando a respeito da Net como uma nova forma de produção e distribuição de filmes, reproduzo correspondência enviada pelo jornalista David França Mendes, um dos pioneiros no assunto e responsável pelo Estação Virtual. O convite feito ao Bomber vai também interessar a vários ativos e futuros realizadores: Oi Reichenbomber! E ai, como vão as coisas? Estou te escrevendo pelo seguinte. Estou em pleno furor criativo do meu mais novo projeto internet. Trata-se de um website que ira oferecer curtas metragens, documentários, animações e outros produtos independentes para serem vistos pela própria internet. O projeto é muito legal, inclui intensa colaboração entre os usuários, que poderão inclusive expor ao mundo suas próprias criações audiovisuais. Estamos (eu e meus sócios, Julio Worcman - da Synapse, distribuidora que há mais de dez anos se dedica ao curta nacional - e Bruno Vianna - curtametragista talentoso e também webmaster) contactando praticamente toda a comunidade audiovisual brasileira em busca de conteúdo. O resultado tem sido excelente. Já temos quase cem títulos para por na rede na nossa estréia, que deve ser no próximo mês. Gostaria muito de contar com alguma coisa sua. Os longas, infelizmente, não poderemos disponibilizar ainda (tecnicamente não seria legal), mas temos interesse em qualquer coisa atá meia hora. Trailers de seus filmes? Making oof? Algum curta? Seu "rolo" de diretor? Alguma coisa pra TV? A médio prazo, esperamos estar sendo capazes de produzir para a web. Serão produções guerrilheiras - um homem, sua câmera e seu computador - com algum dinheiro para pagar o homem. Quando esse momento chegar, espero que você se junte ao nosso grupo de combate. O site está sendo feito com alto nível de profissionalismo. Levei toda a equipe do Estação Virtual comigo, e mais meia dúzia de pessoas excelentes da Synapse se juntou a nós. Estamos quase fechados com uma grande empresa da internet brasileira para nos garantir alta visibilidade, recursos e técnicos de ponta. Qualquer dúvida, escreva para: julioworcman@synapse-brazil.com Falando de Carlos Alberto Ebert, todo estudante ou curioso de cinema precisa conhecer a sua auspiciosa "Pequena História da Cinematografia No Brasil": https://www.visualnet.com.br/~abc/historia.html Reações a enquête provocadores e torpes Não entrei na votação que você propôs por um motivo sério, que é minha falta de memória. Mas acho que no geral quem votou está afinado com meu gosto, embora eu me impressione muito mais com Belle de Jour ou Simão do Deserto, em matéria de Buñuel, do que com coisas tipo Chien Andalou. E também concordamos que TROPAS ESTELARES não é nem de longe torpe, não é? Mas é engraçado, as pessoas percebem a coisa assim.
Agora, em matéria de perturbador, ou sublime, ou que nome tenha: acabei de rever ALMAS MACULADAS do Douglas Sirk. Acho que é um dos dez ou vinte maiores filmes de todos os tempos. Tem uma grandeza de tragédia, uma coisa rara. Quando o vi originalmente não senti isso tão intensamente. Aliás, o ciclo todo é obrigatório, porque em matéria de tirar leite de pedra o cara é imbatível. É impressionante. Mas tem alguns filmes em que ele trabalha com boas histórias, como esse e acaba se superando. Inácio Araújo Como expliquei no Opus anterior, apenas somei os pontos de cada filme indicado, sem interferir no resultado final. SWEET MOVIE, que encabeça a minha lista pessoal de filmes deflagradores ficou de fora porque fui voto solitário. De todos os filmes inclusos entre os mais torpes, fecho com ASSASSINOS POR NATUREZA, FACES DA MORTE e NOVE SEMANAS E MEIA DE AMOR, porque ofendem a minha tolerância ética e estética. CANNIBAL HOLOCAUSTO e MAN BEHIND THE SUN são duros de agüentar, mas hoje fazem parte de um repertório muito particular da sub-cultura e representam uma resposta radical ao pior do cinema burocrático e descartável. TROPAS ESTELARES é mais uma bizarrice do ótimo Paul Verhoeven, que dividiu opiniões no mundo inteiro. Assim como você, eu me diverti à beça com esta fantasia futurista, debochadamente militarista; mas três leitores abominaram, logo ... Prezado Carlão, Ninguém votou em Mondo Cane! Eu teria posto na minha lista Delicatessen. Aliás, eu divido o mundo entre os que gostam e odeiam Delicatessen. Com os que gostam eu não converso sobre cinema. Abraço. Sérgio Augusto Da série Mondo, apontei no início da enquete de torpes, o segregacionista ÁFRICA, ADEUS dos mesmos e indefectíveis Gualtiero Jaccopeti e Franco Prosperi. Basta lembrar que o mercenário sul africano Ben Louw foi incentivado pelos realizadores a promover uma de suas "famosas" caçadas humanas em Leopoldsville, para o câmera do referido filme, Antonio Climati. Não nego que a série Mondo atiçava a minha curiosidade adolescente. Assisti quase todos os que foram exibidos no Brasil. Me diverti muito com um, do qual não me lembro o nome, que mostrava uma clínica na Suíça especializada em "curar" homossexuais; numa encenação descarada, digna das piores pornochanchadas, esbeltas enfermeiras, trajando aventais mínimos, se empenhavam meticulosamente em subverter a faceta Cinderela de jovens e delicados efebos milionários. O falso do cinema-verdade sempre me fascinou. F FOR FAKE de Orson Welles (votado por Jairo Ferreira como um dos mais perturbadores) é o CIDADÃO KANE do gênero documentário. Jacopetti e Prosperi deitaram e rolaram na mentira em A MULHER NO MUNDO, o melhor da série, mas ÁFRICA ADEUS revolta pelo seu racismo explícito e o sádico verismo. Conforme o ótimo livro KILLING FOR CULTURE, de David Kerekes e David Slater, apesar de cruel, reacionário e questionável, o ciclo iniciado por Jacopetti e Prosperi atingiu os pícaros da sandice absoluta através das mãos (e da máquina registradora) dos irmãos Angelo e Alfredo Castiglione. Carlão, Eu particularmente acrescentaria um filme às duas listas:
FUNNY GAMES, do austríaco Michael Haneke. Vi em Cannes e quase não agüentei até o final. É um filme nazista, no sentido em que tortura o espectador sem alívio, contrariando todas as expectativas de remissão. É insuportável, mas busca isso mesmo: testar a acomodação do espectador e a sua confiança em que será salvo de alguma maneira pelo bom senso do roteiro, como mandam as regras do mercado. No Brasil, chamou-se "Violência Gratuita". Um abraço, Carlos Alberto de Mattos Eu confesso ter saído após a primeira meia-hora de exibição deste filme. Levantei no meio da sala aos berros: "Fascista ... fascista!". Metade da sala saiu em seguida. Isso aconteceu, na sala menor do Espaço Unibanco. Meus amigos sabem que eu adoro uma boa provocação. O que me revoltou em FUNNY GAMES é que o Haneke é talentoso e filma bem pra cacete, por isso ele me parece ainda mais perigoso que uma Leni Riefenstahl, cujo culto a beleza e a ordem, hoje não impressionam mais ninguém. Essa reação de repulsa diante de um elogio tão descarado à barbárie, eu só havia tido antes com o nojento KALIFORNIA e o bobo e pretensioso ASSASSINOS POR NATUREZA. Carlão, sei que você não me convidou para me manifestar, na verdade pude ler o seu mail, e eu queria muito pedir pra você incluir o SEVEN nos filmes mais abomináveis, torpes e ignóbeis do mundo!! Acho esse filme o último degrau do gênero humano, e gostaria de vê-lo assim convenientemente designado. Grande abraço, Sheila Schwarzman Sheila, durante quatro meses convidamos (quase imploramos) a todos os leitores desta coluna a se manifestarem. Não se tratou, de nenhuma maneira, de uma seleção pessoal de críticos e cinéfilos. Enviei, no início, e-mails a alguns amigos solicitando as primeiras listas só para dar o start à enquete e, de certa maneira, desinibir os leitores. De qualquer maneira, o sr. David Fincher andou aparecendo na relação dos torpes de dois leitores. Assim como Fassbinder (na lista dos perturbadores, claro), as indicações ficaram divididas entre dois ou três filmes e acabaram não entrando na lista geral. Achei a lista meio light, quase menina-moça. Só faltou entrar Walt Disney e Xuxa... É claro que o Pasolini, os dois Cronenberg, os dois Kieslowsky, os dois Buñuel e mais o Freaks são realmente perturbadores, mesmo que eu só tenha votado em um deles. Também o Limite, A Terra Em Transe, Clockwork Orange, Retrato de um Assassino e até Os Pássaros podem "impressionar" pessoas já meio impressionáveis. Agora, incluir dois Polansky fracotes, um David Lynch modernoso, embora curioso no gênero, um Bergman excelente, mas inteiramente previsível, e, principalmente, Walkabout (pelo amor de Deus, é quase um filme infantil !) demonstra que grande parte dos votantes não tem ainda a necessária vivência cinéfila. Em suma, não são putas velhas nem ratos de cinemateca. Espero que com o tempo se tornem ... Uma vez perguntaram ao Nélson Rodrigues o que ele tinha a dizer aos jovens, e ele respondeu : "Envelheçam depressa, por favor !" Faço minhas as palavras dele. João Carlos Rodrigues Soube da enquete com ela encerrada, mas não poderia deixar de recordar-lhe 5 títulos lamentavelmente esquecidos entre os filmes perturbadores: "Os Meninos" - Espanhol ("Quien mataria un niño?"); "Cria Cuervos " - Espanhol de Carlos Saura; "Terror Cego" com Mia Farrow; "Sopro no Coração" - Francês e, imperdoável esquecimento, "Teorema " de Pasolini. Marco Antunes Sobre o filme "Assassinos Por Natureza" que aparece na lista de mais torpes, eu gostaria de discordar nesse ponto. Não sei se você tem essa mesma opinião a respeito desse filme em particular, mas como você considera o Stone o embuste da década ... Eu, por outro lado, achei o filme muito bom. Uma edição fantástica, com imagens coloridas, preto-e-branco,desenho animado, etc... já ouvi alguém dizer uma vez que é um retrato perfeito dos EUA dos últimos anos: violência exacerbada e a transformação de assassinos em astros por uma mídia inescrupulosa, em busca de audiência. Concordo que ninguém sai incólume depois de "Laranja Mecânica" ou, especialmente, depois de "Gêmeos, Mórbida Semelhança", mas "Massacre Da Serra Elétrica" ... tenha dó, deveria estar na lista de baixo. Talvez seja apenas aquela coisa: sempre que sai uma lista dessas e um filme que você gosta não aparece/que você não gosta aparece, dá uma certa irritação. Em todo caso,um forte abraço e espero que você faça muito mais filmes. P.S. (a propósito, sobre o OPUS 34, me perdoe a ignorância, mas o que seria "bijuteria imagética"??) Luiz Simeão Volto a repetir que a minha opinião pessoal não teve peso na relação dos filmes votados. Somei os votos e busquei dar uma certa unidade na relação dos menos cotados. Concordo com muitos e discordo de uns poucos. Faltaram muitos filmes na lista, mas acho que foi possível detectar que a fronteira que separa uns dos outros, sejam deflagradores ou desprezíveis, é muito tênue, quase invisível. Gosto não se discute, embora seja possível subvertê-lo. Há, claro, alguma unanimidade com relação à mediocridade de certas obras, mas isso só interessaria para uma lista de filmes péssimos, algo do tipo os melhores e piores da nossa vida. Não foi esse o intuito da enquete. Net Livre A SPUNK PRESS é um projeto editorial libertário independente. O objetivo é coletar materiais libertários e alternativos no formato electrônico para colocá-los, gratuitamente, à disposição de qualquer pessoa. ou escreva para um dos seguintes endereços: Spunk PRESS /Electronic Anarchist Archive C/o Autonomous Centre of Edinburgh, 17, West Montgomery Place, Edinburgh Scotland EH7 5HA Spunk PRESS c/o Practical Anarchy PO Box 179 College Park, MD 20741-1079 USA Alternative News Center. The Big Eye dispõe farto material jornalístico censurado na Web. https://www.bigeye.com/altnews.htm AlterNet. Informações e notícias que não aparecem na imprensa normal. FreePress: Para conhecer o Manifesto do Unabomber, visite o site da FreePress, ou a primeira parte na página abaixo: https://www.wwfreepress.com/unaba.html Para ler a declaração de independência do Cyberespaço: https://www.wwfreepress.com/cyberspace.html Para descobrir o que foi a Conspiração Octupus: https://www.wwfreepress.com/inslaw.html
Contemporary Philosophy: Artigos sobre as obras de Abbagnano, Adorno, Agamben, Arendt, Aron, Ayer, Bakhtin, Barth, Barthes, Bataille, Baudrillard, de Beauvoir, Bencivenga, Beneton, Benjamin, Berdyaev, Bergson, Berkouwer, Berlin, Blanchot, Bloch, Blonde, Bolzano, Bonhoeffer à Steiner, Theunissen, de Tocqueville, Touraine, Vattimo, Weber, Weil, Welte, Wittgenstein, Wojtyla, Zizek. https://www.baylor.edu/~Scott_Moore/Continental.html Para conhecer melhor o pensamento de Max Stirner, um dos "jovens hegelianos", vá para o The Egoist Archive: https://pierce.ee.washington.edu/~davisd/egoist/ Vegetarianos anarquistas já possuem o seu site favorito na Web. Basta acessar o endereço: https://www.veganarchy.freeserve.co.uk/
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