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CARTAS DO REICHENBOMBER - Opus 38

Prezados bombers: ou a crítica mundial enlouqueceu, ou enlouquecemos eu, Jairo Ferreira, Carlos Thomaz Albornoz e alguns outros fanáticos por Jorge Luiz Borges, José Alcides Pinto, Sheridan La Fanu, H. P. Lovecraft, e o supra sumo do cinema da sugestão e do horror.

O ÚLTIMO PORTAL, o mais recente filme de Roman Polanski, não é apenas uma grande e terrível viagem às trevas, mas o melhor filme do semestre (até agora), e o melhor Polanski em muitos anos (talvez desde O INQUILINO). É uma confessa homenagem ao prolífico Jesus Franco, de quem Polanski é grande amigo. De longe, a obra mais original, torta, espantosa e bem filmada da temporada.

Quem se liga em historinha e roteiros convencionais vai odiar. Afinal, que filme é esse onde o personagem central é um livro assassino? Que filme é esse em que o herói se torna mais empático e sedutor à medida em que se deteriora como ser humano?

Quem ama o cinema, compreendido como a arte da atmosfera, vai ficar atordoado e sem dormir. É o cinema restituindo ao espectador atento o direito à emoção mais genuína. Se não bastasse, tem o mais belo travelling dos últimos anos (que já era mostrado no trailer) com a câmera avançando nas costas de Deep, lendo um livro sentado em uma mesa; no corte, um insert branco, ruído seco, e a cabeça de Deep cai sobre a mesa. Só mestres filmam com tal economia. Como toda grande obra de arte, não explica nada mas abre generosamente asas para a imaginação.

Seria uma obra perfeita se o diretor não tivesse inventado um personagem descartável para explorar as formas e a beleza da própria mulher e optado pelos ainda ridículos (e primitivos) efeitos digitais na cena final. Essa subserviência às "maravilhas" da nova tecnologia parece ser o câncer do cinema moderno. Em filmes solidamente construídos sobre a gramática mais sensível e econômica da narrativa cinematográfica, um plano tão artificial quanto o do desfecho de O ÚLTIMO PORTAL, se assemelha a um sarcoma.

Não importa, esse detalhe de poucos segundos não destrói uma hora e meia de perturbadora atmosfera.

Algumas livrarias já estão vendendo o livro de cinema mais aguardado do ano. O lançamento oficial será no dia 10 de Maio, no Espaço Unibanco, em São Paulo, às 17 horas. Devido a sua importância, reproduzo o texto do release enviado à coluna:

Não deixe de prestigiar a festa de lançamento do livro "Enciclopédia do Cinema Brasileiro", organizado por Fernão Ramos e Luiz Felipe Miranda. Com mais de 700 verbetes, temáticos e de personalidades e com um rico material fotográfico - mais de 190 ilustrações, preto-e-branco e coloridas - , a Enciclopédia foi escrita por vários especialistas da área de cinema e coordenada por dois dos mais importantes pesquisadores do cinema brasileiro.

De acordo com os organizadores, a intenção deles foi respeitar o estilo e as opiniões de todos, frisando a necessidade de elaborar textos panorâmicos que não se caracterizassem pela afirmação de posições polêmicas e pessoais. "O lançamento desta Enciclopédia surge em sintonia com um 'espírito de época', com forte caráter retrospectivo, que parece moldar a sensibilização contemporânea no final do milênio.

Os verbetes foram divididos em temáticos e de personalidades, que mapeam o cinema brasileiro a partir de conjuntos estruturais que consideramos significativos. Optamos por trabalhar com um número grande de autores (45 no total) trazendo diferentes perspectivas sobre temas e personalidades também diversos do cinema brasileiro. Os textos são assinados e refletem opiniões e conhecimentos pessoais do verbetista sobre o assunto", ressaltam Luiz Felipe Miranda e Fernão Ramos.

Com relação à lista de melhores documentários brasileiros apontados pelo escriba em opus anterior:

Oi,

é o seguinte, desses documentários que você listou, quais eu posso encontrar em vídeo? Moro em Salvador e, de fato, não sei onde achá-los. Mas necessito, tenho sede de vê-los. Pretendo realizar um documentário aqui, já pensei em tudo, mas preciso estudar bons documentários, porque quero que o meu, de fato, conte o que se passa hoje, ano 2000.

A propósito, como seria o aspecto burocrático para trazer os vencedores do É Tudo Verdade para serem exibidos em sala alternativa de Salvador?

Abraço,

Regina

O melhor caminho para saber como localizar os filmes e vídeos listados e tentar levar os vencedores do festival para Salvador é entrar em contato direto com o crítico Amir Labaki.

itstrue@ibm.net

VILLA-LOBOS, o filme, vem fazendo uma ótima carreira comercial. Só no feriado da semana passada, em três dias de exibição, foi visto por mais de 35.000 espectadores: uma notícia realmente auspiciosa.

Novos leitores da coluna e o cineasta e montador (de filmes marcos de Gláuber Rocha, Paulo César Saraceni, Luís Rosemberg Filho e Arthur Omar) Ricardo Miranda avalizaram a opinião do Bomber publicada na última semana:

Carlão,

"Eis uma vida que valeu a pena ser vivida, filmada e conhecida. Eis um filme digno, profissional, sensível, que superou as limitações de sua produção tempestuosa com bom senso e integridade. Obrigado Zelito por não ter se submetido à linguagem da televisão. VILLA-LOBOS, o filme, é cinema puro, na dimensão da tela larga, na imperfeição de seus tempos nunca óbvios e na emoção genuína do herói transformado homem."

Nesta precisa e preciosa sentença você não só sintetizou a importância do filme VILLA-LOBOS, UMA VIDA DE PAIXÃO, de Zelito Viana, dentro de um quadro cinematográfico, como chegou a uma das grandes questões do cinema brasileiro hoje, onde a maioria dos novos filmes não são dignos e honestos com uma cinematografia outrora inventiva, corajosa, integra (evidentemente existem poucas e maravilhosa exceções). Filmes que de nada acrescentam à formação de platéias e a um debate estético e político.

Concordo plenamente com suas observações sobre o trabalho do Zelito e aproveito para me declarar abismado com a observação de um "talvez possível ou tomado de" crítico de cinema, que na Folha de S. Paulo declarou ser o filme mal montado. Um verdadeiro absurdo, um verdadeiro não conhecimento e total falta de sensibilidade para com a idéia do MONTAR - TRABALHAR CONFLITOS. TRABALHAR TEMPOS. Viva Eduardo Escorel !!!

Ricardo Miranda

Estou escrevendo, pois gostaria de parabenizá-lo pela crítica sobre o filme Villa Lobos publicada no portal Terra. Acabei de assisti-lo e concordo com cada parágrafo. Confesso que fazia parte daqueles que torciam o nariz, quando o assunto era cinema nacional. Até então, para mim, ele só servia para mostrar as feridas de nossa sociedade e isso nada tem a ver com cultura e entretenimento. A Política, a Economia na minha opinião podem ocasionalmente transitar neste meio, mas não dominá-lo. Há poucas semanas, assisti Bossa Nova, que filme lindo! Pode não ter uma história genial, mas que cenários! Que músicas! Era o Rio de Janeiro, a verdadeira Cidade Maravilhosa. Espero que o Cinema Brasileiro cresça cada vez mais, pois agora eu acredito que, tenha encontrado o caminho.

Tissiana Franco

Acabo de ler seus comentários a respeito do filme Villa Lobos e congratulo-te, tive os mesmos sentimentos que o senhor, fui totalmente desmotivado ao cinema, minha namorada quase me arrastou, eu dizia: tenho certeza que odiarei esse filme.

Quando iniciou a projeção, ao contrário do seu caso, o cinema estava praticamente vazio, comecei a ver um cinema arte e não um cinema dinheiro e muito menos o cinema Brasil Pobre que as vezes corresponde a verdade, mas nosso país não é só pobreza, esse filme mostra o Brasil como é o Brasil dos pobres e ricos da arte e da marginalidade e principalmente o Brasil que luta, fiquei muito impressionado com esse filme.

Depois que assisti ao filme, venho lendo os poucos comentários a respeito. Hoje mesmo li um na página xxxxxxxxxxxxxxxx (endereço não publicado, por razões óbvias), e discordo plenamente da visão do redator; fiquei até decepcionado com os comentários. Gostei tanto dos seus que, agora as 2:43, te escrevo essa carta eletrônica.

Assisti a Central do Brasil, e julgo um bom filme, mas que não me empolgou. Agora, Villa Lobos realmente me empolgou e tenho quase certeza que ganharia o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Parabéns pelos comentários, e diga-se de passagem, estão em falta jornalistas com o seu português; parece que os jornalistas hoje em dia estão mais preocupados em usar termos fúteis da língua inglesa do que os infinitos que temos na nossa.

Estou a disposição de qualquer coisa que tenha a acrescentar ou me corrigir.

Muito Obrigado,

Allan Robson

O ego do colunista está em alta. Não tenho a mínima idéia de como o texto a respeito do cineasta Júlio Taberneiro, aqui publicado há várias semanas atrás, chegou às mãos dos editores do site e fanzine europeu SINEMA BRUT. A questão é que surgiu na minha caixa de mensagens o seguinte e-mail:

Hello

Saw your mention of my zine and Júlio Tabernero on your site! Great stuff... glad you liked the article!

Ciao,

Rayo

Acho que o fiel Dr. Luiz Ribas é um dos poucos leitores da coluna que conhece a obra deste ET do cinema miserável, mais primitivo e apaixonado que o já celebrado Ed Wood. De passagem por Madrid, Ribas foi testemunha da homenagem prestada pela gloriosa cinemateca local, capitaneada pelo querido Chema Prado, ao cinema de Tabernero, um figurante de filmes bíblicos e faroestes baratos que resolveu fazer filmes na marra. Qualquer semelhança como o bombeiro de Brasília não é mera coincidência. Falam horrores (e maravilhas, claro) a respeito de SEXY CAT, que Tabernero realizou em 1973. Abaixo, em reprise, o endereço do SINEMA BRUT.

https://h2net.net/users/mantis/thebrut/

Sobre MAGNÓLIA (que ainda não consegui ver), o frisson da temporada, a coluna recebeu o seguinte e-mail:

Carlos, dê um jeito de ver o filme nem que seja para ir numa matine (apesar de eu achar que sera mais tranqüilo no próximo fim de semana, o publico nas minhas 2 sessões odiou o filme). O filme é perfeito! Um painel impressionante e anormal sobre perda, morte, redenção, arrependimento, coincidências, relações humanas e como o nosso passado influencia quem nós somos. Ainda por cima Anderson no clímax nos proporciona uma das cenas mais inacreditáveis, surreais e corajosas vistas no cinema americano. Não vou te dizer o que é (e espero que você não tenha lido nada a respeito dela em lugar nenhum) pois estragaria o efeito, mas é impressionante. Quanto a Villa Lobos é um bom filme (provavelmente o melhor dos nacionais que vi esse ano, apesar de até agora ele não ter sido muito promissor) o único problema real é Letícia Spiller (não consigo imaginar uma única razão a não ser comercial para a escalação dela). Cada vez que ela que ela aparecia na tela meu estomago revirava.

Filipe Furtado

Filipe, a belíssima crítica de Inácio Araújo na Folha de São Paulo, as cinco estrelas dadas por ele e por Alcino Leite no Guia da Folha, já me obrigavam a sair correndo para o cinema. Após um jejum forçado de um mês, tirei a semana para me colocar em dia com os lançamentos e tentar superar antigas pirraças. Fiz a besteira de deixar MAGNÓLIA para o final do banquete. Estava adorando tudo que via: a começar pelo encantador VILLA-LOBOS, o inesperado e bem realizado HANS STADEN, o ótimo e perturbador Polanski, o extraordinário (quanto me custa admitir isso!) TUDO SOBRE A MINHA MÃE de Almodovar (mea culpa, mea máxima culpa, só fui ver o filme agora) ... Aí, resolvi ver um determinado filme brasileiro, entusiasmado pela redescoberta de Almodovar, já com a certeza de que ia adorar a outra recente implicância ...

Imagem com Roberto Rosselini

Paguei a entrada vibrando e sai na primeira meia-hora possesso, irritado com um vendaval de futilidade e firula ... Foi um balde de água fria em meu empenho cinéfilo ... Por uma questão ética, eu me eximo de declinar o nome do referido filme (filme?) ... O resultado é que passei os três últimos dias deste feriado sem o mínimo estímulo para enfrentar novas filas de espera, mas resguardado pela visão reconfortante de alguns clássicos da minha videoteca pessoal; em especial, EUROPA 51. Só a sinceridade franciscana e rigorosa do mestre Roberto Rosselini para me fazer continuar acreditando na grandeza e na pertinência do cinema como meio de expressão.

CARLOS REICHENBACH


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