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CARTAS DO REICHENBOMBER - Opus 43
Quem leu o Opus 42 no início da semana passada, se deparou com uma informação equivocada. O escriba errou feio ao afirmar que o filme de Wim Wenders, O HOTEL DE UM MILHÃO DE DÓLARES, foi inteiramente rodado no revolucionário processo Digital 24P High Definition. A página foi corrigida à tempo, mas é necessário fazer a devida retificação. A nova revista Scene To Screen, dedicada à cinematografia digital e distribuída durante o Festival de Cannes encartada na tradicional publicação inglesa Moving Pictures, só me chegou às mãos um dia antes de escrever o texto referido. Fui na informação do meu amigo que trouxe a revista e que havia lido a matéria referente ao filme de Wenders às pressas. Ele não se deu conta de que Wenders só teve acesso à nova tecnologia após o filme concluído. Acabou experimentado-o no clipe do U2, "The Ground Beneath Her Feet", canção que faz parte do longa-metragem. Confesso que entre Wenders e a fascinante Asia Argento, eu fui direto na página da estrela dark e suas peripécias com o digital. Quem chamou a atenção para a minha cochilada (ou excesso de confiança e entusiasmo) foi o jornalista Kleber Mendonça Filho, do Jornal do Commercio, de Recife, e editor do site Cinemascópio, que há dois anos vem cobrindo Cannes de maneira exemplar: https://www.cinemascopio.com.br Carlão; só uma correção. Million $ Hotel foi filmado em filme 35mm (super 35mm scopado). O clipe The Ground Beneath Her Feet (música do filme), este sim foi rodado no revolucionário Sony 24p HD numa câmera HDW-F900. Robby Müller não fotografou o $ Hotel, mas sim Phedon Papamichael. Müller fez Dancer in the Dark, tramando a iluminação e pós-texturas de uma DVCAM DXC-D30WSP, operada pelo próprio Von Trier, filme revolucionário por ser digital e CinemaScope, além de grande porte. Quando Lucas vier dizer que está fazendo pela 1ª vez, Trier já terá guardado. Acompanhei algumas discussões em Cannes mas, infelizmente, ainda não tive tempo de sentar e escrever sobre o assunto que muito me interessa. Abraço, Kleber No entanto, conforme informações de amigos italianos e da própria revista Scene To Screen, George Lucas vai ter que se contentar em vir atrás da musa Asia Argento na pioneira investida no novo sistema. Inclusive, todo o marketing de lançamento do filme de estréia da filha de Dario Argento, SCARLET DIVA, está sendo feito em cima da experiência digital (narrada com detalhes no Opus anterior). É aguardar para ver. Algum dos nossos festivais internacionais deveria convidar urgentemente o filme e a sua diretora, para matar a curiosidade geral, e para aplacar a nossa libido também. Outra correção obrigatória é o remake do endereço de nosso colega de Terra, Márcio Dutra, que por causa de uma letra a mais (l), estava remetendo o leitor ao vazio. Quem quiser ler uma análise acurada sobre o filme MAGNÓLIA, acesse o endereço: https://www.terra.com.br/cidades/sma/colunas/gosto-008.htm Espero, final e sinceramente, que agora dê certo. Floripa Mercosul Durante uma semana, Florianópolis sediou o tradicional fórum de política audiovisual, no 4º Florianópolis Audiovisual Mercosul. Entre os diversos painéis diários, discutiu-se a questão da integração cinema e tv, a convergência digital (cinema na Internet), as co-produções com as Tvs internacionais, a produção cinematográfica brasileira, os oligopólios da comunicação, a distribuição e exibição no Mercosul, as co-produções com as Tvs brasileiras e as políticas de integração audiovisual.
O evento, do qual participei como debatedor, foi precedido por uma mostra do cinema catalão, encerrado com a exibição do belo e premiado longa metragem EL MAR de Agustí Villaronga. À noite, durante o período do fórum, foram exibidos cinco longas-metragens (incluindo, DOIS CÓRREGOS), um festival (sem premiação) de curtas metragens e vídeos amadores. Surpreendentemente, o público jovem prestigiou em massa os curtas e longas, especialmente os primeiros. Para não me estender demais em assuntos tão específicos à classe e aborrecidos aos leitores, deixo registrado a importância do evento (que já deveria fazer parte oficial do calendário cultural da cidade) e ressalto algumas conclusões pessoais advindas do fórum. 1. Enquanto o espanhol não for adotado nas escolas brasileiras como matéria obrigatória, e não como mera língua opcional, essa história de Mercosul é conversa fiada. Aqui, me permitam um exercício de profecia naif e/ou militante: para que ensinar o inglês (compreendido como o esperanto da globalização) nas escolas nativas, se até a matriz anda preocupada que em dez anos a língua oficial americana seja o castelhano. 2. É preciso imaginar desde já o futuro da atividade cinematográfica tendo em mente as suas possibilidades no âmbito da Internet. 3. É preciso imaginar o cinema latino como uma das defesas vitais contra a voracidade da globalização. Aliás, que canalhismo é essa de ensinar nas escolas da matriz, que a Amazônia e o Pantanal não são bens do Brasil e sim da humanidade (leia-se, dos EUA)? 4. Que o desprezo das classes sociais A e B com a sua própria cinematografia (leia-se, a sua própria estampa e cultura) não é de forma nenhuma, privilégio dos brasileiros. Quanto a isso, os portugueses são ainda mais renitentes. 5. Que de culturas nacionais da América Latina o FMI não quer nem os gases. Que me perdoem os leitores, mas esse fóruns são ótimos para massagear o nosso inconformismo. Vida longa ao FAM e ao ânimo de seu criador, o filósofo e cineasta Antônio Celso dos Santos. Aos amigos leitores Nem sempre é possível responder imediatamente às solicitações do amigos leitores. Durante o mês de Junho estarei me ausentando de São Paulo por diversas vezes. Aos que tem enviado mensagens à respeito de futuras exibições de FILME DEMÊNCIA, informo de antemão que o filme estará sendo exibido no Museu da Imagem e Som de São Paulo, durante a Mostra "O Cineasta do Mês", a ser inaugurada no dia 14 de Junho, com a exibição, em vídeo, da versão integral de AMOR, PALAVRA PROSTITUTA, nunca exibida comercialmente no Brasil. Na próxima semana, estarei divulgando a programação completa do evento. Três dos meus últimos longas-metragens estarão sendo projetados em São Luiz, do Maranhão, durante o Guarnicê, seguidos de debates, na mesma semana. Vai ser meio complicado, mas tentarei estar em dois lugares diferentes quase ao mesmo tempo. Se, inclusive, a coluna semanal falhar em alguns destes períodos, não é por preguiça e nem descaso. Aos leitores Ricardo Roquette, de Goiânia, e Marcelo Badari, peço um pouco mais de paciência. Talvez, eu só possa dar retorno após o mês de Junho, já que estou atribulado com dois novos projetos fílmicos e compromissos de viagem assumidos. Ao primeiro, informo que existe um ótimo site dedicado à obra de Serguei Eisenstein, que poderá lhe ser muito útil. Basta conferir nas dicas de sites incluída neste Opus. Dicas de sites - Autores I Essa é a primeira de uma série de dicas de sites dedicados exclusivamente às obras de importantes diretores/autores. Todos os sites são muito bem ilustrados e com informações atualizadas.
https://nextdch.mty.itesm.mx/~plopezg/Kaplan/Hitchcock.html
https://skywalking.com/tarkovsky/index.html
https://home.att.net/~y.german/index.htm
https://zappa.users.netlink.co.uk/cronen.html
https://www.ecran-noir.com/real/monde/kusturica/intro.htm
https://www.geocities.com/Hollywood/2093/lynch.html
https://www.geocities.com/terryballard/rohmer.htm
https://www.lubitsch.com/ https://home.earthlink.net/~jakre/murnau/index.html
Cronicamente Inviável "Crônicamente inviável" é o filme que mais critica a esquerda tupiniquim (ou será tupinambá ?) desde " O Desafio " do Sarraceni em 1964 e " Terra em Transe " do Glauber em 1966. É por isso que faz sucesso com a nova geração, que já deve estar de saco cheio das pessoas que esgotam sua ação no discurso, pois o filme é exatamente sobre isso. E também por isso desconcerta os mais velhos, que se vêem ali retratados. Assisti a estréia ao lado de um famosíssimo diretor cinemanovista, adorável criatura politicamente correta, e não deu outra. Me parece anarquista, porque se não é anarquismo atirar para todo lado, o que será então? Dizia Bakhunin : " a ânsia de destruir também pode ser uma atitude construtiva " . Não tem mensagem, gritam alguns. Não tem esperança, sussurram outros. Aconselho que revejam o filme com olhos mais abertos e prestem atenção à última cena. Está tudo ali: uma mensagem, e até de esperança. "Cronicamente " mostra ainda um país nada cordial e que esquizofrenicamente não consegue parar para pensar e resolver seus problemas, que nem são tão insolúveis assim. Insolúvel mesmo é o Haiti, é Serra Leoa, é a Somália. A tão propalada indignação do cineasta me lembrou o maldito-longa do Trigueirinho Neto "Bahia de todos os santos " - 1960 que por coincidência também termina com uma seqüência ensinando a não roubar. Só que pouca gente aprendeu e a maioria (inclusive dos cineastas) preferiu a velha Lei de Gérson (" o que é que vou lucrar se fizer isso ou aquilo ..."). Este será provavelmente o filme brasileiro mais interessante do ano, na completa contramão dos conspiradores mauricinhos que assolarão nossas telas e nossas pobres retinas. Que seja benvindo. Amém. João Carlos Rodrigues PS - Jogar ovo em ministro progressista dá Ibope mas não resolve. Quero ver é jogar um ovo de avestruz no Antônio Carlos Magalhães! Ou no Maluf ... Esse filme eu já vi, termina em golpe militar e ficou 23 anos em cartaz no Brasil. Eu achei uma merda. Estou mais interessado nos medicamentos genéricos. Em tempo: trotskista não é anarquista. Não confundam alhos com bugalhos. Leiam mais, meus queridos... -"Adios" - como diz Marlene Dietrich, no final de " A marca da maldade ". O Último Portal Concordo em gênero, número e grau com seus comentários a respeito deste grande filme que é o Último Portal. E endosso suas palavras na seqüência da "paulada" na cabeça de Deep. Fiquei pensando com meus botões, logo depois de assistir ao filme, que esta cena era genial pois não é explícita e faz com você imagine o que aconteceu. Grande. Sou maníaco por filmes de suspense e terror e parabenizo a abertura de seus comentários quando fala de H. P. Lovecraft e Cia. Mais maníaco ainda sou pelos livros que deram origens a filmes famosos como O Exorcista, A Profecia e O Bebê de Rosemary (grandes marcos dos anos 70) e de autores contemporâneos como o genial Francis Paul Wilson (autor de O Fortim, Renascido e Represália - se tiver tempo leia), Mark Frost (A Lista dos Sete e Os Seis Messias), Clive Barker (O Jogo da Perdição) etc., etc... O livro, obviamente, traz mais riquezas de detalhes e mal posso esperar para adquirir "O Clube Dumas" de Arturo Perez-Reverte que deu origem a este filmaço de Roman Polanski. Não chega ao nível do Bebê de Rosemary (É inacreditável a fidelidade de Polanski ao livro de Ira Levin), mas realmente surpreende. Um abraço de Sérgio A. Bauchiglione O Hotel De Um Milhão De Dólares Caro Carlos, Estou bastante feliz em ver minhas cartas publicadas em tão nobre coluna da internet. Por isso estou criando mais gosto para escrever. Na sexta feira soube que o festival de cinema e vídeo do Ceará começará no dia 09 de junho, e soube também que haverá uma palestra com o documentarista Geraldo Sarno. Essa palestra será sobre vídeos inéditos dos diretores Rui Guerra, Walter Salles/Daniela e CARLOS REICHENBACH. Estou muito a fim de ver, principalmente o seu trabalho. Qual o nome do vídeo? Você vem à Fortaleza prestigiar o nosso festival? Espero que sim... No domingo fui ver o novo Wim Wenders: "O Hotel de Um Milhão de Dólares". É impressionante ver um artista como o Wim Wenders acabar desse jeito, tão sem graça e enfadonho. Lembro-me de ter visto "Asas do Desejo" e ter me deliciado com as crises existenciais dos anjos. Até me identifiquei com eles, já que na época, não me achava muito dono do meu destino. Adorei a fotografia estilizada, Berlim envelhecida, a história de amor, a música de Nick Cave and the Bad Seeds... Lembro-me de ter visto "Paris, Texas" e de ter ficado boquiaberto com o deserto, a trilha excepcional de Ry Cooder, a história intrigante, a beleza de Nastaja Kinski... Nos anos 90 começou a decadência: "Até o Fim do Mundo" até que tem seus momentos muito bons mas é um filme muito irregular. "Tão Perto, Tão Longe" deveria ter se chamado "Tão Longo, Tão Chato" e foi o maior erro já cometido por Wenders: retomar a história sagrada de "Asas do Desejo". "Céu de Lisboa".... Esse eu gostei apesar de a história não ter muito sentido, mas o clima de Portugal me fascinou, me deu vontade de estar lá, conhecer Lisboa, e ler Fernando Pessoa em plena Lisboa... "O Fim da Violência" é completamente esquecível... Até chegarmos em "The Million Dollar Hotel". Este é outro erro do diretor. Dá pra aproveitar alguma coisa: a música do U2, a beleza de Milla Iovovich (ops, acho que me esqueci como se escreve o nome dela)... Mas a história é bem besta e as estilizações não parecem ter razão de ser... Eu não queria bancar o crítico mas foi isso mesmo que eu senti ao ver essa última empreitada de Wenders.. Bem que ele podia voltar para a Alemanha. Quem sabe ele se encontraria com o seu antigo eu... Um abraço Ailton Monteiro - Fortaleza Como expliquei acima, Aílton, infelizmente não poderei estar em três lugares ao mesmo tempo. Espero que X Cine Ceará seja um sucesso e se puder veja o vídeo de Geraldo Sarno. Acho que você vai dar umas boas risadas. CARLOS REICHENBACH |
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