CARTAS DO REICHENBOMBER - Opus 45
De cara, é preciso dizer que o Festival Guarnicê de Cinema e Vídeo, de São Luís, Maranhão, é o evento mais despojado, simpático, agradável e prolífico de todos os eventos do gênero realizados no Brasil. São bateladas de curtas-metragens, vídeos, super-8, filmes publicitários e reportagens, exibidos em sala cheia das oito horas manhã até a meia-noite. Se não bastasse, o seu idealizador, o professor universitário e cinéfilo Euclides Moreira, faz questão de encerrar as sessões com a apresentação diária de espetáculos folclóricos, que de tedioso não tem nem o intervalo. O Maranhão parece ser o único estado brasileiro que faz questão de conservar a autenticidade do Bumba Meu Boi. Lá, ao que comentam, o sinal da Globo fica atrás da TVS e da Rede TV, e talvez por isso, as marcas da perversão do "progresso" ainda não ressoam tão nítidas.
Num ano em que as universidades federais parecem mergulhadas numa crise infinita, é espantoso testemunhar o sucesso popular e artístico de um festival de cinema absolutamente dependente do apoio da Universidade Federal do Maranhão. Milagre do empenho de seus organizadores é o mínimo que se pode deduzir.
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| Cena de "O Último Pôr do Sol", de Nirton Venâncio |
Não é por menos que os jornalistas que o freqüentam costumam voltar, no mínimo, cinco ou seis vezes. O que comprova que não basta dinheiro à rodo para se fazer um evento competente, mas essencialmente respeito ao cinema e carinho com quem o freqüenta. A projeção em 35 milímetros no cine São João é impecável e dar inveja à muitos outros festivais de grande porte. A comida típica servida na área de convivência da sede do festival, além de baratíssima é dar saudade nos sulistas mais ortodoxos.
A sessão competitiva do Guarnicê só premia o cinema e vídeo considerados não profissional, e talvez seja o festival nativo que exibe o maior número de curtas-metragens em menos tempo.
Na 23ª edição, encerrada no dia 22, alguns títulos não só cativaram a platéia, essencialmente jovem, como se destacaram no panorama atual por sua diversidade. Quem, como eu, andava criticando a mesmice nesta seara, se surpreendeu. Vale a pena destacar alguns deles.
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| Nirton Venâncio filmando |
O ÚLTIMO POR DO SOL, de Nirton Venancio, Ceará. Belíssima investida no cinema dos sentimentos e da memória. Rosselini redivivo, numa lição despojada de recursos, mas requintadíssima em sinceridade. Venancio, que havia realizado um poético e emocionante curta-metragem em 1988, UM COTIDIANO PERDIDO NO TEMPO, prossegue revisitando o seu próprio passado com a segurança dos grandes veteranos do cinema da Península. "Só é moderno aquele que soube ser antigo.", diria Murilo Mendes. O olhar de Venancio e a luz de Miguel Freire jamais interferem de maneira grosseira na observação adulta dos sentidos aviltados do menino personagem; a opção pelo branco e preto se impõe na tentativa de detectar fragmentos dolorosos da memória de um país à deriva. O ÚLTIMO POR DO SOL parece um episódio apócrifo de ROMA, CIDADE ABERTA ou ALEMANHA, ANO ZERO. Chega a ser escandaloso o filme não ter recebido nenhum prêmio no festival do Estado onde foi filmado. Quem se amarra em firula, vai criticar o final em aberto, o tempo excedente de algum plano e a economia dos diálogos. Os amantes do fetiche vão detestar a decupagem clássica. Mas somente aqueles que odeiam o cinema como meio de aperfeiçoamento humano serão incapazes de enxergar que estão diante de uma filme grandioso em sua generosidade. A evolução de Venancio o coloca além do cinema narrativo e mais próximo da poesia em estado seminal.
Eis, finalmente, um herdeiro insuspeito da dramaturgia prosaica, embora sempre universal, e imensa em afetividade, de Roberto Santos.
A diversidade da mostra se explicita com o surpreendente A.M.A. CEARÁ de Pedro Martins. Desgovernado, anárquico e insolente, embora desbragadamente amoroso em cada fotograma dedicados ao seu artista, artesão e personagem, Martins mistura todas as linguagens do cinema em seu curta-metragem de estréia. Mestre Alves, escultor à faca, é um performer magistral que aceita todas as regras lúdicas propostas pela lógica da espontaneidade. Vamos reinventar o cinema, parece propor o diretor, mas buscando todas as delícias do improviso planificado. Há espaço para todos os cúmplices: o fotógrafo mistura matizes e densidades cromáticas e o montador alça vôo ao sabor do descompasso.
Na antológica, e quase bíblica, seqüência final, por sugestão do próprio artesão-personagem, o cinema dá vez à alegria da camaradagem. Vida e obra se integram, numa inédita conclusão dionisíaca.
Outro escândalo: A.M.A. CEARÁ, um dos mais ovacionados em São Luís, nem foi selecionado para o festival do Estado em que foi filmado!
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Embora eu não tenha visto o filme, porque retornei à São Paulo no dia em que ia ser exibido, falam maravilhas de SÃO LUÍS CALEIDOSCÓPIO de Hermano Figueiredo. Trata-se de um filme puzzle, que mistura imagens abstratas da pluralidade cultural da capital do Maranhão em contraponto com versos do poeta José Chagas. Figueiredo é um pesquisador radical, exigente e dedicado das manifestações populares da cultura nordestina. Seu cinema busca a expressão livre e o êxtase, tal qual um Arthur Omar mais próximo do Equador.
Quem quiser conhecer sua maneira de enxergar o país, assista ao programa ZOOM desta semana nas tevês Cultura e/ou Educativa. O artista que costuma exibir seus filmes nas velas das jangadas de Recife, Fortaleza e Maceió, numa experiência inédita de integração de arte popular com o seu espectador mais afetivo, disponibiliza conscientemente seu trabalho na rede nacional de televisões estatais. Arte espontânea, de graça, para quem a respeita. Imperdível !
Indicações de Site - Diretores III
Michael Cacoyannis
site do Greek Film Center
https://www.gfc.gr/4/44/e4415.html
https://www.gfc.gr/6/61/612/index_en.html
Frank Capra
https://www.geocities.com/Hollywood/Makeup/
8156/frankcapra.htm
https://www.geocities.com/Hollywood/Makeup/8156/
https://www.reelclassics.com/Directors/Capra/capra.htm
Henning Carlsen
site do Festival de Cannes, com todos os filmes de Carlsen apresentados em competição:
https://www.festival-cannes.fr/filmbase
/vf/personnes/4/4619.html
Marcel Carné
https://www.generation.net/~vincy/mcarne.htm
https://www.ecran-noir.com/real/france/carne.htm
John Carpenter
https://circuits.cf.ac.uk/~spemsb/carp/
https://welcome.to/johncarpenter/
https://members.tripod.com/~wazzo/Carp.html
https://www.pkbaseline.com/screen/strange/people/carpenter/
John Cassavetes
https://astro.temple.edu/~pth/cassavetes/
https://www.expage.com/page/archangel
https://people.bu.edu/rcarney/
cassoncass/husbands.htm
William Castle
https://www.themonsterclub.com/castle.htm
https://www.losman.com/castle.htm
https://www.joinme.net/rwohorror/castle.html
Alberto Cavalcanti
https://www.britmovie.co.uk/biog/c/004.html
Liliana Cavani
https://lascala.milano.it/ita/character/cavani.html
Claude Chabrol
https://www.france.diplomatie.fr/culture/france/
cinema/fictions/chabrol/index_chabrol.htm
https://www.info.unicaen.fr/herve/mae/
cinema/realisateurs/25.html
https://www.geocities.com/Paris/Metro/9384/directors/chabrol.htm
https://www.filmlinc.com/wrt/programs/7-99/chabrol/chabrol.htm
https://www.ecran-noir.com/real/france/chabrol.htm
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| Cena de "Häxan", de Benjamin Christensen |
Benjamin Christensen
Artigo do Village Voice sobre a obra do realizador de HÄXAN, A Feitiçaria Através dos Tempos (1921):
https://www.villagevoice.com/arts/
9936/stein.shtml
Jean Cocteau
https://www.multimania.com/ericd/Mylene/Beyond2/
JeanCocteau/CoctBio.html
https://perso.club-internet.fr/leonicat/cocteau/cocteau.htm
Outros Sites Recomendados:
Site totalmente dedicado ao cinema italiano, com farto material sobre a história e diretores famosos como Antonioni, Fellini, Lizzani, Germi, etc.
https://www.cinemaitaliano.net/
Site da revista italiana CINEFORUM:
https://alasca.it/cineforum/varie.html
Scarlet Diva - de Asia Argento
Asia Argento, a pioneira do sistema Digital High Definiton 24P, apostou firme nas possibilidades da Net e incrementou seu site pessoal que, inclusive, possui link direto para a SCARLET DIVA Page. É impressionante a maneira oportuna como Asia explora os detalhes peculiares da própria anatomia no material de divulgação do filme.
https://students.roanoke.edu/j/jsweet/index.html
site do FilmAtlas, excelente para cinéfilos quem entendem alemão:
https://www.acud.de/filmatlas/
Site dedicado aos sonhos dos internautas. Em várias línguas. Quando a inspiração de roteirista faltar, visite este site e explore ao máximo o inconsciente humano em seu estado mais primitivo. Os sonhos são divididos por assunto.
https://dreams.nsm.it/dreams/pWelcome.html
Na versão italiana, a presença mais atuante dos sonhos eróticos da rapaziada é a fornidíssima Serena Grandi. É ler para crer.
Na versão brasileira, o barato são os títulos dos sonhos molhados: "A Minha Professora de Matemática", "A Matemática, Que Linda !" (aliás, há uma fixação exorbitante por professoras desta matéria), "Sexo Esfrenado Com A Servente", "Eu, Minha Mulher e o Gigante", "Os Pelos Da Minha Prima", "Com Minha Prima e sua Prima", "A Gostosa Do Metrô", "Cameron Diaz No Metrô", "Minha Tia: Che Porca !", "Tia, te Quero", "Aquela Suja Da Minha Tia", "O Tio Maravilhoso", etc.
Deve haver uma certa dose de infantilismo no exibicionismo onírico nativo, já que a presença notória mais pontual no índice de sonhos é, quem diria, Xuxa, a tiazinha da Globo !
Mergulhar na imaginação alheia também é cultura. Eis a pérola encontrada na frase inicial do relato onírico de um capixaba aficionado por certos atributos da cantora Fafá de Belém: "Alguns dias atrás tive um sonho indimenticável!!!"
Quase deu para escutar em b.g. a voz de pelica e embriagada de Dean Martin interpretando o clássico "Non Dimenticar".
A Opinião Dos Leitores
O Fenômeno Mario Bava
13/06
É isso aí: SALVE O MESTRE MARIO BAVA!!!!
O Cinema fantástico deve as tripas a este homem. A ele e a Ricardo Freda, que resgataram o gênero Horror do infantilismo comercial dos anos 30. Foi no manancial imagético de Bava e seus roteiros carregados, que os diretores da Hammer Films e da AIP nutriram suas armas na luta pelo Cinema livre.
Bava sempre seguiu adiante: "Banho de Sangue" é "Sexta Feira 13" 10 anos antes de Jason sair da gaveta de Steve Miner. Karloff foi vampiro - uma única vez - sob sua direção (em "Black Sabbath". Sim! E de onde vocês acham que vem o nome da banda? Até isso devemos ao homem!).
É impossível falar em Bava sem citar sua obra mais antológica, o MAGISTRAL "A Máscara do Demônio". Este é, disparado, o melhor filme de horror entre "Nosferatu" e "O Exorcista" (inesquecível a seqüência inicial, em que carrascos pregam a máscara de Satã a marretadas no rosto imaculado de Barbara "Vênus" Steele). E falando em "andar adiante", até Ridley Scott deve a ele: "Vampiros do Espaço" é "Alien" 20 anos antes!!! (e com NORMA BENGELL no papel da mocinha!)
O André Barcinski informou que uma biografia bala será publicada sobre o homem! Quero detalhes sobre "The Whip and the Body" (Chris Lee em papel de fantasma sadomasoquista), "Blood and Black Lace", "Operazione Paura" e "Rabid Dogs" (este, o melhor 'giallo' já realizado: arrebatador!).
Faltam adjetivos! Do Horror ao Peplum ("Hercules in the Haunted World": diversão garantida), o cara sempre acertou a mão. E com liberdade, pouca grana e criatividade às pampas! Isto é cinema!!! E se ele só dirigiu bosta, sou coprófago devotado!!! Falei!
Dennison Ramalho
Uma ótima lembrança neste seu OPUS 44: MARIO BAVA. Realmente não me parece nada estranho que ninguém, até o momento, tenha tido a idéia de uma retrospectiva do VERDADEIRO criador do "giallo", pois, nestas pradarias Mario Bava é um grande desconhecido.
É excelente observar que no exterior sua obra está sendo lançada NA ÍNTEGRA via DVDs. Por uma destas questões de pura casualidade acabo de receber "SHOCK" (algo de magnífico, pois esta versão foi totalmente restaurada). Entretanto, já estão disponíveis alguns títulos altamente significativos: "LA MASCHERA DEL DEMONIO" ("Black Sunday") - um dos mais deslumbrantes trabalhos de Mario, muito pouco visto, mas conhecido por muitos (este eu me lembro de ter visto aos 12 anos no "Cine Mistério" !!!!! - creio que estou realmente ficando velho - e só fui rever no ano passado em DVD) , "I TRE VOLTI DELLA PAURA" ("Black Sabbath"), "OPERAZIONE PAURA" ("Kill,Baby...Kill !), "IL ROSSO SEGNO DELLA FOLLIA" ("Hatchet For The Honeymoon") , "REAZIONE A CATENA" ("Bay Of Blood") - este foi confundido muito com "ECOLOGIA DEL DELITTO", título ainda não disponível; "GLI ORRORE DEL CASTELLO DI NORIMBERGA" ("Baron Blood"), "LISA E IL DIAVOLO" ("Lisa And The Devil"), e, finalmente, "CANI ARRABBIATI" ("Rabid Dogs").
Este último vale uma ressalva, pois foi originalmente realizado em 1974 e só lançado 25 anos depois (problemas de censura na época). A versão em DVD está completíssima e restaurada, com um preço realmente salgado: US$30,95 !!!!!
Bem meu caro, como disse Michele Soavi, "o giallo é uma vertente do cinema policial, onde o realizador procura criar uma trama repleta de pistas falsas, levando o espectador a procurar um culpado, que, irremediavelmente, só será revelado no final. Deve sempre ficar a sensação de que o assassino pode estar na poltrona ao lado e, deste modo, o medo se instala".
Não creio que hoje, além de Dario Argento, alguém chegue aos pés de Mario Bava (que chegou a colaborar com Argento na famosa seqüência embaixo da água de INFERNO). Seu filho, infelizmente, nunca chegou a assumir o local deixado por Mario Bava, chegando até a refazer seu LA MASCHERA DEL DEMONIO (Lamberto é, infinitamente, menos elegante, criativo e dedicado que seu pai). Juntamente com Argento, somente Soavi pode, com suas belíssimas imagens, lembrar um pouco do que Mario Bava fez.
Novamente obrigado pelos sites. Valeram e muito!
Agora, caro Carlos, retrospectivas de Richard Kern ou Russ Meyer por aqui são grandes desafios (assim como Mario Bava, Jean Rollin ou mesmo John Waters), mas sempre fica a esperança!
Um grande abraço!
Luiz Ribas
Posso estar enganado, mas sua sutil referência a Mario Bava na última "carta do Bomber" é uma das primeiras feitas para aquele que eu considero um dos melhores diretores da história(a outra foi nas colunas do Ribas na Sunrise)... não haver uma estátua de Mario Bava na frente de todas as escolas de cinema do mundo é um triste sintoma que as novas gerações de cinéfilos acham que o cinema começou com Steven Spielberg ou George Lucas... poucos cineastas foram tão criativos visualmente como Bava, tão ousados, tão debochados (pelo seu costume de matar seus heróis no fim de seus filmes), tão geniais. Poucos cineastas podem se orgulhar de ter inventado tantos gêneros, como o horror italiano (em 'I Vampiri'[1956], de Fredda, em que ele era o diretor de fotografia), o horror gótico da Itália (em 'A Mascara do Demônio', de 1959), o drama de crime (em 'La Ragazza che sappere troppo[Evil Eye], 1962), o giallo colorido (em "Sei Donne per un Assessino', em 1964), o slasher, gênero em que um assassino deve matar jovens de férias (em 'A Baía de Sangue', de 1971)... podia falar que Quentin Tarantino provavelmente deve ter visto "Rabid Dogs" para se 'inspirar' para "Cães de Aluguel, que o personagem principal de "Operazione Paura" foi COPIADO por Fellini em "Histórias Extraordinárias" e por Scorcese em "A Última Tentação de Cristo", que "Lisa and the Devil" é a maior influência para o excepcional "A Mansão do Inferno", de Dario Argento... em resumo, trata-se de um gênio, um excepcional cineasta, talvez o melhor de todos. Adorei sua coluna ter lembrado dele!!!
Carlos Thomaz do Prado Lima Albornoz
Villa-Lobos
Amei o filme e seu texto.
Liloye Boubli
Profissão: cinéfilo
I
Caro Reichenbach,
Durante o X Cine Ceará, fiz questão de ver o polêmico "Estorvo" de Rui Guerra. A verdade é que não gostei do filme, mas acredito que ele tenha o seu valor artístico.
O diretor faz questão de tornar o filme pouco palatável( pra não dizer insuportável).
O começo do filme já é incômodo. O personagem principal, representado pelo cubano Jorge Perugorria está deitado numa cama de um quarto meio seboso, quando uma insistente campainha toca até deixar o espectador nervoso, já que o maldito cubano se recusa a atendê-la...
Outra coisa incômoda: o cubano tentando falar português e narrando o filme inteiro com aquele sotaque, mal dá para ouví-lo.
Acho que a gente tem mesmo que se acostumar com essa mistura de nacionalidades em nossos filmes, principalmente com os nossos vizinhos sul americanos. Acho também que as co-produções Itália/França também tem muito disso, mas como a gente assiste os filmes legendados não sente muito. Mas também acho que não foi dessa vez que isso funcionou. Porém há outras coisas que funcionam:
Achei legal os ângulos de câmera e as distorções de imagem para representar o estado de loucura do personagem. Há outra cena digna de nota: quando o protagonista, rememorando o caso que tivera com uma mulher, lembra a cena em que ela faz um aborto e pergunta com cara de louca a ela: "TÁ SATISFEITO? TÁ SATISFEITO?...." várias vezes enquanto que a câmera se aproxima de seus olhos cheios de ódio e loucura.
Uma das poucas coisas que eu gostei no filme foi a câmera nervosa, mas o desenvolvimento da história do meio do filme pro final torna-o insuportável de se ver....
Bem, há filmes que eu também acho insuportáveis de ver, apesar de seu inquestionável valor artístico, como "Naked Lunch" de David Cronenberg ou "O Processo" de Orson Welles.
Depois de um estorvo desses, nada como saborear uma leve comédia romântica despretensiosa - o americano Tenha Fé, estréia de Edward Norton na direção. O filme é muito simpático, assim como os personagens do triângulo amoroso (Edward Norton, um padre, Ben Stiller, um rabino e uma loirinha cujo nome eu não me lembro, que faz uma executiva). Bem legal...
Um abraço,
Ailton Monteiro - de Fortaleza
II
Caro Carlão,
Infelizmente ainda não li aquela sua matéria sobre o filme O DIA DA CAÇA de Alberto Graça. Ontem no X Cine Ceará tive a oportunidade de ver o filme.
O Cine São Luiz estava bem animado e contamos com a presença de Mateus Nachtergale, Ingra Liberato (como apresentadores do festival) e do próprio Alberto Graça, que veio para a divulgação do filme.
O Dia da Caça é um dos melhores filmes brasileiros desse ano (Em 2000, gostei também do documentário "Santo Forte").
Com relação aos atores não precisa nem falar, Marcelo Antony, Jonas Bloch, Felipe Camargo, a francesinha e o rapaz que interpreta a serial bicha estão excelentes(Ele se parece com o Iggy Pop).
A trama é intrincada e envolvente, as locações são bem legais (Amazônia, Colômbia, Brasília, Barretos estão entre as principais locações), o tema é super-atual (o narcotráfico beneficiando as campanhas eleitorais e fazendo a vida de policiais corruptos), entre outras qualidades.
Agora, eu estava com um amigo que insistia em adivinhar o final do filme (ele acertou em quase todas as previsões). Talvez o defeito do filme seja mesmo esse de ser um pouco previsível (só um pouco). Mas isso a gente deixa passar, diante da oportunidade de ver um thriller nacional competente e charmoso.
Um abraço,
Ailton Monteiro - de Fortaleza
III
Caro Reichenbach,
espero que a mostra de seus filmes em São Paulo esteja mesmo indo bem de público. Gostaria muito que essa mostra também viesse por essas bandas. Li sua entrevista na Revista de Cinema e vi que entre seus filmes favoritos está O DESPREZO de Godard. Lembro-me que vi esse filme há muito tempo e tudo que me lembro é o do corpo nu da BB, e de que eu não entendi muito bem a história mas gostei mesmo assim. Preciso ver de novo. A propósito, qual o seu filme americano favorito?
No sábado encarei uma sessão dupla de cinema. Fazia tempo que eu não fazia isso.
Assisti Fantasia 2000, o novo desenho animado da Disney. É maravilhoso. São sinfonias famosas que juntas a uma animação da melhor qualidade oferecem um espetáculo para os sentidos (visão e audição) e para o coração também.
Obras como a 5a. Sinfonia de Beethoven ou Rhapsody in Blue do Gershwin mesclam-se a traços perfeitos de grandes desenhistas.
Bem, não dá pra falar mais. Só vendo mesmo.
Depois fui ver Ninguém É Perfeito, o novo filme do diretor sem-personalidade Joe Schumacher. Ele deu conta do recado e o filme é bem legal. Traz Robert DeNiro fazendo o papel de um ex-policial que sofre um derrame e Phillip Seymour Hoffman na pela de uma drag queen. Bem divertido, mas depois de um espetáculo como Fantasia 2000, é até covardia ver uma comédia(drama) convencional...
Um abraço,
Ailton Monteiro - de Fortaleza
Ailton, o que houve no Festival do Ceará ? Nenhum prêmio para O ÚLTIMO POR SOL! A.M.A. CEARÁ não foi selecionado! Será que santo de casa não faz milagre, mesmo? Vocês deveriam estender um tapete vermelho para Nirton Venancio. E dizer que o cineasta teve que mudar para Brasília para tentar fazer a terceira parte de sua trilogia. Quer saber; vou colocar Venancio entre os jovens cineastas que pretendo produzir um dia. Eis um artista da mesma estirpe de Edgar Navarro e Fernando Severo, ou seja, autores íntegros, prontos para estrear no longa-metragem. Donos de um estilo inovador e/ou eterno e uma dramaturgia afinada com a história e o homem brasileiro. Prontos para um cinema que não ambiciona a vassalagem de um Oscar, mas a plenitude da identidade brasileira. Como diria Oswald de Andrade, um cinema bárbaro e nosso.
CARLOS REICHENBACH
Comentários, desgostos, bombas e coquetéis podem ser enviados para:
reichenbach@terra.com.br
Visite a home page do cineasta: https://members.xoom.com/creichenbach
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