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As Panters

De
Joseph McGinty Nichol






RAPIDINHO

Outro dia, um dos meus leitores perguntou porque eu perdia meu tempo (e nosso precioso espaço de diálogo aqui no Terra) comentando filmes descartáveis como Missão Impossível, Endiabrado e A Cela. Eu respondi que não tinha preconceito com filmes de Hollywood, e, mais importante que isso, não tinha uma bola de
cristal para saber, antes de ver o filme, se ele é mesmo descartável. Mas... às vezes as suspeitas se confirmam. As Panteras são exatamente o que se pensava delas: usam figurinos insinuantes, dirigem carros velozes, batem em todos os homens, mostram seus corpos na medida exata da censura 14 anos e, mais importante que qualquer coisa, sacodem seus cabelos em câmara lenta. Parece divertido? Deve ser, para a maioria do público. Para mim, ficou a impressão de ter visto um sub-Austin Powers, com o Bill Murray fazendo o papel de um Mini Me bonzinho.

AGORA COM MAIS CALMA
Não é preciso calma para falar de As Panteras. É melhor ir no tranco mesmo. A intenção era fazer, ao mesmo tempo, um "revival-gozação" da séria de TV (os
créditos iniciais deixam isso bem explícito) e, de troco, oferecer os melhores efeitos especiais disponíveis na indústria audiovisual planetária nas cenas de ação. O objetivo foi atingido. O visual de As Panteras é suntuoso, verossímil e discretamente nostálgico; as pancadarias são aquela velha mistura de extrema velocidade de corte e câmara lenta nos momentos decisivos (John Woo fez escola – os paradigmas são cada vez mais pobres); e as piadas tentam ser engraçadinhas, com sucessos esporádicos.
Enfim, um produto descartável para entreter, divertir e esvaziar a cabeça. Portanto, um filme que cumpre seus objetivos.

Dito isto, agora posso ir um pouco mais fundo. E começo perguntando: por que me diverti (e muito) vendo produtos descartáveis e comerciais como X-Men e Matrix, e não me diverti (ou me diverti muito pouco) com Austin Powers e As Panteras? Arrisco duas respostas.

1) quanto mais fantástica e inverossímil é a história, mais sólidos e verossímeis devem ser os personagens. Em Matrix, o personagem de Keanu Reeves
é um cidadão comum, apresentado em seu trabalho cotidiano, que, de uma hora para a outra, é jogado num contexto especial. Em X-Men, os super-poderes de
Magneto e Wolverine são explicados nos planos histórico e psicológico.
Resultado: é possível se emocionar com eles. É possível admirá-los ou odiá-los, já que parecem gente. Já As Panteras são personagens de papelão,
retiradas de uma velha série de TV, e o máximo que podem fazer para conquistar o público é mostrar bundas (Cameron), peitos (Drew) ou dar chicotadas (Lucy Liu).

2) quanto mais absurdos e exagerados os personagens, mais discreta deve ser a direção. Exemplo clássico: nada pior que filmar Nelson Rodrigues com gente gritando o tempo todo. Adultério, incesto e afins geralmente são atividades subterrâneas e sussurradas. Em X-Men e Matrix, enquanto a pancadaria corre solta, os heróis mantêm, quase sempre, uma contenção dramática em seus rostos e nos seus gestos. Em As Panteras, além de balançarem carnes e cabelos durante as lutas (o que é inevitável), as meninas alternam sorrisos idiotas e expressões de fúria. Tudo muito falso e aborrecido.

Mas é preciso reconhecer: As Panteras funcionam perfeitamente bem para meninas de 14 anos que pretendem ser Cameron Diaz, além de representar a
definitiva volta por cima de Drew Barrymore, ex-viciada e agora executiva de sucesso na mesma Hollywood que um dia foi acusada de corrompê-la. Histórias edificantes e morais ainda estão na ordem do dia. Uma palavra final sobre a trilha – pós-moderna, descolada e chacoalhante: não atrapalha, mas nunca emociona, porque é óbvia demais e só deu chance para faixas já confirmados em todas as pistas do planeta. Eu recomendo, nestes tempos pré-natalinos,
comprar (ou dar de presente) os CDs de Magnolia e Vamos Nessa.


As Panteras (EUA, 2000). De Joseph McGinty Nichol

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Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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