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DÊ SUA OPINIÃO (OU CALE-SE PARA SEMPRE) Filme: Entre as Pernas De: Ailton Monteiro Entre as Pernas vem confirmar a ótima fase do cinema espanhol. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme. Achei quase tão bom quanto os últimos do Almodóvar, apesar de ser um estilo totalmente diferente. Na verdade esse é o melhor filme de Bigas Luna (assisti Ovos de Ouro e Os olhos da cidade são meus, também bons) e traz de volta o gosto pela narrativa noir, cheia de reviravoltas, de flashback em cima de flashback. Até me fez lembrar filmes como Uma vida por um fio, Crepúsculo dos Deuses e Assim Estava Escrito, filmes que usavam uma narrativa "clássica", com idas e vindas de flashbacks. Nesse sentido, o filme de Bigas Luna é até antiquado. Mas isso é o charme dele. Já Victoria Abril está bem feinha, podendo ter sido substituída por uma atriz mais bonita por causa das cenas de sexo. Me lembro que quando a vi em Ata-me, do Almodóvar, em 1990, ela estava sensualíssima naquele vestido vermelho. E aquela história de ela não usar calcinhas, e a brincadeira com o submarino na banheira... Deixa pra lá... Voltando a Entre as Pernas, muitas perguntas, porém, ficaram na minha cabeça, talvez por falta de atenção. Ai vão elas: - Por quê aquele policial matou a mulher? - O motorista de taxi estava com AIDS? - Que história era aquela de loteria? De: Gerbase Ôi, Ailton. Acho que cometeste um pequeno engano. O diretor de Entre as pernas chama-se Manuel Gómez Pereira, espanhol como Almodóvar e Bigas Luna, mas menos conhecido (apesar de já ter feito seis longas). A grande diferença de Pereira para com os realizadores que citaste está no campo da estética: enquanto Almodóvar e Bigas Luna acreditam no regional que pode ser universal (seus personagens são tipicamente espanhóis), o diretor de Entre as pernas mostra sua adoração pelo cinema "noir" norte-americano e tenta aplicar sua fórmula universalizante sobre um cenário espanhol. As reviravoltas de Entre as pernas são mesmo interessantes e pedem um saudável esforço do espectador, mas, sinceramente, compará-lo com Crepúsculo dos Deuses é um exagero. O personagem roteirista do filme de Billy Wilder é "de verdade" e seu modo de ganhar a vida está perfeitamente relacionado com a trama. É um roteirista cínico e capaz de fazer qualquer negócio (ou de contar qualquer história) para ganhar algum dinheiro. Em Entre as pernas, o roteirista também poderia ser um executivo que ignora roteiros enviados para a produtora. Sua maneira de ganhar a vida é quase um detalhe. Quanto a Victoria Abril, não concordo. Ela é uma grande atriz e cumpre bem sua função no filme. Acredito até que foi um pouco desglamurizada propositalmente pelo diretor, de modo a ressaltar – por contraste - a beleza da "mulher" do aeroporto. Finalmente, as tentativas de respostas para as questões: - Por quê aquele policial matou a mulher? R. Porque o roteirista precisava enredar o personagem de Javier Bardem numa acusação de assassinato e assim armar toda a conclusão da trama. Tanto o policial matador como a sua mulher são absolutamente supérfluos em relação à história do filme. Talvez este seja o maior dos defeitos de Entre as pernas. - O motorista de taxi estava com AIDS? R. Sim. Isso fica muito claro, tanto pelos diálogos no início do filme como pela maquilagem do ator no final. Mas a questão não é essa, e sim por quê Javier confiaria tanto num quase desconhecido, a ponto de contratá-lo para um "serviço" tão arriscado como esconder um corpo? Não engoli. - Que história era aquela de loteria? R. Pra mim, é outra solução artificial do roteirista, que assim consegue dar um final mais feliz para o personagem do policial abandonado pela mulher. É isso. Parece que o cinema espanhol não tem muitos fãs aqui no Terra. O que é uma pena, pela boa qualidade média dos filmes dos últimos anos. Até mais. Entre as Pernas (Espanha/França, 1999). De Manuel Gómez Pereira Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.
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