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PRAISE
"Praise" significa elogiar, e é o título do filme australiano dirigido por
John Curran,
baseado no romance homônimo de Andrew MacGahan, que está fazendo sucesso em
Nova Iorque no momento.
Mas o mais irônico desta história toda é que, fora a atuação brilhante dos
personagens
principais, o roteiro bem trabalhado, a trilha sonora, não há nada para ser
elogiado.
É uma
história de amor auto-destrutivo, onde Cynthia (Sacha Holer) tem um apetite
sexual
insaciável e um eczema que toma conta da sua pele no corpo todo, incluindo o
rosto, o
peito, as costas, tornando-a repugnante. Mas ela não é repugnante para
Gordon, seu
namorado asmático, fumante e alcoólatra, que ternamente toca suas feridas.
O que deve ser elogiado no filme é a honestidade com que os personagens são
trabalhados
tornando-os pessoas reais, que embora venham de famílias bem sucedidas, são
ambos "losers".
Eles não têm uma carreira, não sonham com uma vida melhor, bebem,
fumam,
trepam, moram num quarto de hotel escuro, sujo e deprimente. Eles não têm
ambição,
sonhos, ou planos; mas são extremamente humanos e complexos. Quando colocados
frente a frente com os seus familiares mais bem sucedidos, eles são,
logicamente, os mais
atraentes. Por viverem num mundo tão limitado, os seus diálogos são também
incrivelmente esparsos, monosilábicos, mas nem por isto superficiais.
O filme lembra O Estrangeiro de Camus, onde o fato do sujeito não chorar pela
morte da
mãe, não significa que ele não sinta a perda. Cada um tem um jeito de encarar
a vida, e é
esta diversidade que nos torna mais interessantes. Daí a força do filme, que
eu vi na
mesma semana em que cientistas descobrem a fórmula do genoma. A fórmula
química
humana pode ser manipulada, mas a espiritualidade, ou a psique individual de
cada um de
nós é um mistério que vale a pena viver para tentar desvendar.
Nada mais
interessante do
que não saber a resposta das coisas, e é isto que Gordon, Cynthia, e mais uma
ou duas
pessoas por aí não sabem. Mas de um jeito ou de outro nós sabemos quando
encontramos
um lugar, ou uma pessoa com quem nos sentimos em casa.
Praise, Austrália (1998). De John Curran. Com Peter Fenton e Sacha Holer
Bárbara
Kruchin
é artista
plástica e aficcionada por cinema. Ela é brasileira, mas mora em
Nova York desde 1991, onde cursou a School of Visual Arts.
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