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Gus Van Sant (de Good Will Hunting) jurou que ele iria recriar Psycho quadro a quadro, e cumpriu a promessa. Em escolas de arte no mundo inteiro, é um exercício comum copiar os trabalhos dos mestres. A diferença entre copiar os mestres como um exercício que vai dar o embasamento técnico para que melhor possamos produzir o nosso próprio trabalho, e colocar estas cópias numa galeria como se este fosse a nossa forma de expressão é imensa. Quando Marcel Duchamp colocou um bigode na Mona Lisa ele estava acrescentando algo grandioso à história da arte, cheio de ironia e críticas às instituições que se dizem capazes de decidir entre o que é arte e o que não é. Ele fez uma releitura da Mona Lisa. A diferença entre as artes plásticas e o cinema é que, quando se trata de cinema, a cópia de uma obra-prima passa a ser um exercício de transformar um mundo mais complexo num disneylândia. Vide A Bela e a Fera que é sucesso de bilheteria na Broadway. Hitchcock criou uma obra magnífica que busca referências no teatro grego. Norman Bates se apaixona pela mãe assim como Édipo se apaixona por Jocasta. Psycho trata de temas que estão na nossa civilização ocidental de uma maneira magnífica. Psycho não é um filme de horror, mas sim um drama psicológico. O tratamento que os atores deram ao filme aumenta esta profundidade. Vince Vaughn não chega nem aos pés da sutileza de Anthony Perkins, e Anne Heche é muito superficial comparada a Janet Leigh. A nova versão chega a ser engraçada em certos momentos - vide a cena onde Norman espia a hóspede do seu motel por um buraco na parede. Eu não vou contar para não estragar a surpresa. Outra diferença é que a versão moderna é mais violenta/sangrenta, e tem um pouco mais sexo. Sinal dos tempos modernos: para estimular o público contemporâneo nos precisamos colocar sexo e violência na tela. Psycho versão 1998 é um empobrecimento, principalmente porque Hitchcock deu um tratamento ao filme que é igualmente profundo aos temas que o filme trata - esquizofrenia, doenças mentais, separação entre a realidade e fantasia, todos estes assuntos que estão conosco desde a civilização grega e que ainda nos atormentam. Van Sant não chega lá. Eu recomendo ir à locadora, ver o original e ir ao cinema no mesmo dia. Como diz o dito popular: não se fazem mais filmes como antigamente. Psycho, EUA, 1998. De Gus Van Sant. Com Anne Heche e Vince Vaughan e outros. Bárbara
Kruchin é artista
plástica e aficcionada por cinema. Ela é brasileira, mas mora em
Nova York desde 1991, onde cursou a School of Visual Arts.
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