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(OU CALE-SE PARA SEMPRE)
Filme: Revelação
De: Fernando Segtowick
Parece incrível como cada vez me afasto mais dos críticos. Gostei bastante de Revelação. Na realidade, me surpreendi com a condução perfeita de suspense e tensão que Zemeckis cria no filme. Gostaria que a maioria dos que o condenam tentassem fazer a cena do banheiro. Linkei para a sua coluna, jurando que você falaria mal do filme (como todos os críticos que li), mas, surpresa, você gostou e, melhor ainda, com as mesmas razões que eu. Acredito que, assim como Hitchcock, Zemeckis usa certas falhas no roteio, os famosos McGuffins (não sei se a escrita está correta) em prol da história como um todo. Senti tensão no filme, e que os críticos que me perdoem, mas um pouco de boa diversão não faz mal a ninguém.
De: Gerbase
O "Mac Guffin" não é exatamente isso. Não é um erro ou falha de roteiro, e sim um artifício narrativo: algo muito importante para os personagens do filme, mas que, na verdade, não interessa para o desenrolar da história. Nos filmes de Hitchcock, costumava ser um documento secreto, uma fórmula, um micro-filme, etc. Não havia nada de fundamental no "documento secreto" (para se entender a trama), mas o herói e o vilão lutavam por ele até o fim. Não há "Mac Guffins" em Revelação. Concordo com você que há muita tensão e bom suspense no filme, mas eu não pediria que os críticos de cinema fizessem "a cena do banheiro". Críticos fazem críticas; cineastas fazem filmes. Tem gente (meio doente, com certeza) que tenta fazer as duas coisas. E, tá certo, diversão não faz mal a ninguém (nem aos doentes).
De: Letícia Bonfim
Primeiro quero dizer que, no questionário sobre o site, escrevi que o motivo que me leva a lê-lo toda semana é a coluna. Segundo, que estou louca para ver seu filme, já que critica tanto o politicamente correto. Não sei se filme é assim, mas estou louca para ver sangue e loucura de verdade, já que, segundo vc, é o que falta aos filmes americanos. Terceiro, que alívio, vc gostou de Revelação!
De: Gerbase
Primeiro, obrigado. Segundo, também estou louco para ver meu filme pronto, com sangue e loucura de verdade (tudo de mentira, claro). Terceiro, que alívio, tem mais gente que gostou de Revelação. Não gosto de ser tão solitário quanto dizem.
De: Ailton Monteiro de Fortaleza
Até que enfim alguém da mídia escreveu bem sobre o ótimo filme de Zemeckis. Eu já tava cansado de tanta gente cínica, que tenta colocar defeito em algo tão bem orquestrado. Zemeckis é um diretor que, se não é melhor que Spielberg, cometeu menos gafes em sua filmografia do que ele. Disso estou certo. De Volta Para o Futuro, Contato, Roger Rabbit e Forrest Gump vão ficar pra sempre em minha memória como filmes, no mínimo, ótimos.
Já sobre Michelle Pffeifer, eu não acho que ela seja uma atriz limitada. Tenho notado a sua capacidade dramática desde Ligações Perigosas. Aquela feição que mostrava uma pessoa sendo pressionada pela paixão que sentia pelo Visconde de Valmont e a luta contra a mesma é de arrepiar.
Mas de arrepiar mesmo são as cenas de Revelação. O medo estava no ar, e uma velha história de fantasmas de repente se transforma em algo novinho em folha, velhos clichês do gênero usados e abusados até por filmes como Sexta-Feira, 13 surtem efeito como se a gente nunca tivesse visto aquilo antes. Só sei que todos os efeitos que um bom filme de suspense produz eu senti: arrepio, pulos da cadeira, frio na espinha e tensão. Obrigado, Gerbase, por lutar contra o cinismo das críticas de filmes.
De: Gerbase
Talvez eu tenha sido um pouco injusto com M.Pffeifer, provavelmente por conta de sua (muito fraca) atuação em A história de nós dois. Tenho que reconhecer que ela está bem em Ligações Perigosas e A idade da inocência. Mas acho que você está enganado quando fala em "cinismo" dos críticos de cinema. Claro que existem alguns cínicos, muitos incompetentes e outros simplesmente que não são críticos. Mas conheço excelentes críticos, honestos, com conhecimento de cinema, que falam de filmes com liberdade e inteligência. Às vezes não concordo com eles, mas cada um vê o filme de um modo particular, único. Mais importante que concordar ou não, é ver a qualidade do texto, a pertinência dos argumentos, a forma de elogiar ou destruir.
De: José Ricardo Pinto
Realmente, às vezes fico surpreso com tuas críticas, ainda mais porque a cada dia que passa conheço um pouco mais de sua carreira. Tive o prazer de ver 2 curtas teus em vídeo e gostei muito do que vi. Um era Sexo & Beethoven – O Reencontro, uma espécie de debate sexual pra lá de satírico, com diálogos fortes, e o outro era Aulas muito particulares, sobre a iniciação sexual de um jovem, com um clima bem de Crimes de Paixão (aquele filme do Ken Russel que tinha a prostituta China Blue, você viu?). São produções bem ousadas e corajosas (no último fiquei surpreso com a qualidade do visual do "bordel") e que tem o SEXO com principal alavanca do roteiro. Tu gosta mesmo de sexo, né? Como disse, tô curioso para ver como tu sai em formato Wide screen em tempo de longa metragem. Serás um chato recalcado, ou um gênio que tem muito a dizer? Aguardo Tolerância.
De qualquer maneira, ainda fico surpreso por você ter colocado Revelação no pedestal de melhor tentativa de suspense dos ultimos anos. Li em algum lugar que Robert Zemeckis dirigiu este Revelação no intervalo de filmagem de seu mais recente filme Castaways, esperando Tom Hanks emagrecer. E é exatamente o que me parece ser... um passatempo de um competente diretor, que não consegue ficar parado e, ao invés de fazer um curta-metragem, faz uma super-produção com um ator decadente (isso mesmo, Harrison Ford já está decadente e barrigudo) e uma atriz cansada (Michelle Pfeiffer disse que quer ficar em casa cuidando dos filhos depois deste filme). Revelação é uma palhaçada que se transforma numa Sexta feira 13 da terceira idade, com fantasmas verdes puxando o pé do marido mau caráter e salvando a pobre esposa do algoz matador.
Oh... quanta novidade. Já vi isso zibilhões de vezes e acho sacanagem comparar Hitchcock com esta brincadeira de um adulto rico, cujo único passatempo é fazer filmes ótimos (Forrest Gump) e porcarias como esta. Qualquer diretor que resolva fazer uma cena num banheiro já sai logo sendo comparado com Hitchcock, o que é uma grande mentira. Revelação começa tranqüilo, porque Zemeckis não é nenhum adolescente, mas de cara percebe-se que algo está errado com o roteiro. Toda aquela insinuação de fazer crer que a morta é a vizinha realmente não cola nem impressiona, por conta da estúpida globalização, que já havia entregado todo o roteiro no treiller que vinha passando de hora em hora na TV.
Hitchcock nunca teve este problema, e mesmo que tivesse aposto que faria 2 finais diferentes para chocar as platéias com seu jeito magistral de fazer cinema. O final de Revelação é muito babaca. Não posso acreditar que alguém saia satisfeito com o resultado. Criar climas de suspense é a coisa mais fácil de fazer em cinema, basta uma porta fechada e um olhar espantado do ator principal. Difícil é levar esta sensação para dentro de sua vida e de sua casa. Por isso esta Revelação é de má qualidade.
De: Gerbase
Acho que o sexo é importante na vida das pessoas (das pessoas normais, pelo menos) e, em conseqüência disso, é um tema importante para o cinema. Tão importante quanto outros temas. O cinema brasileiro foi acusado, por um longo tempo, de ser sacana, pornográfico, o que parece ter criado uma dificuldade para o tema ser abordado em nossos filmes. Mas eu nunca liguei pra isso. Se o sexo tem nexo, se é dramático, deve ser discutido e, eventualmente, mostrado. O resto é muito subjetivo, depende muito do gosto dos fregueses (tanto do cineasta quanto do espectador).
Se Revelação foi um passatempo do Zemeckis (duvido que tenha sido exatamente isso), então só posso dizer que esse cara, passando tempo, é melhor que muita gente que pensa estar fazendo "o filme da minha vida". Ele não tem culpa que o treiller seja babaca e que conte muito a história. Babaca é quem fez o treiller. Eu acreditei na vizinha perseguida pelo marido. E não pensa que fazer suspense é tão fácil assim. Tem que abrir a porta de um certo jeito, e o ator tem que interpretar com um certo tipo de espanto no olho. Você pode me citar três bons filmes brasileiros de suspense, melhores que Revelação?
De: Rafael Faraon
Primeiro quero me apresentar como um viciado em três coisas: Cinema, Internet e, por incrível que pareça, Críticas de Cinema. Logo, aconteceu o inevitável, te achei! E me tornei um leitor assíduo de sua coluna virtual há alguns meses e admirador do seu ponto de vista diferente e coerente. Uma coisa que realmente eu não sou viciado, é escrever e-mails comentando seja lá o que for, mas desta vez eu não me contive. Sua crítica sobre o filme Revelação é excelente. Você conseguiu expressar tudo o que eu senti a respeito do filme (com exceção dos sustos, é claro). Eu fui vê-lo sem muitas pretensões, já que nos últimos tempos os filmes de suspense e terror andam meio que papinha pra criança e este realmente surpreendeu. O que me chama atenção nas suas opiniões escritas é o fato de você não se basear em comparações para redigi-las, e é assim que eu gosto de me manifestar a respeito de qualquer filme.
Não há nada de errado em citar filmes do grande Hitchcock, ou o não tão grande, embora muito bom, Sexto Sentido. Acontece que outras críticas que tenho lido dizem que o filme é podre só porque o Psicose é melhor. Isso para os críticos ultrapassados que viram um filme excelente e por isso não vêem nada de bom em qualquer outro filme de mesmo assunto. Vide a coluna escrita por Luiz Carlos Merten, cujo link estava bem do lado do seu na página de cinema do portal Terra no momento em que eu escrevia este e-mail. O cara não analisa nada, apenas compara e derruba sem nenhum remorso, dizendo que o filme é uma vergonha. Vergonha é alguém ter uma opinião dessas a respeito de um trabalho de mestre de Zemeckis. Outros dizem que Revelação é uma mistura mal feita de Sexto Sentido com Pânico. Outra vergonha. Este filme é bom como o primeiro (embora em aspectos diferentes) e não tem nada de Pânico ou 'Sei lá o que vocês fizeram no verão passado' que são coisas de criança.
Bem, eu sei que eu deveria estar elogiando sua opinião, em vez de estar derrubando as alheias, entretanto o elogio está contido aí, já que você não comete este tipo de crime nem mesmo quando você derruba certos filmes, como o Missão Impossível 2. Ainda em tempo, gostei muito também da sua opinião sobre o filme X-Men, que só tomei coragem para ver depois que li o que você escreveu sobre ele e achei muito legal mesmo.
De: Gerbase
Eu geralmente gosto das críticas do Merten, gaúcho como eu, e que escreveu recentemente um livro muito legal, "Cinema: um zapping de Lumiere a Tarantino". Recomendo. Acho que ele analisou, sim, Revelação. E chegou à conclusão que era um filme "menor". De certo modo, concordo com ele. Mas, para mim, o fato de ser assumidamente despretensioso e "menor" é que faz o filme crescer em dramaticidade. E mais: quase todos os filmes de Hitchcock também são "menores", não passam de belíssimos ensaios cinematográficos, com conteúdos pra lá de infantis. Ou alguém acredita naquelas explicações psicológicas no final dos filmes? O problema do Merten é que ele foi procurar no filme algo que nunca poderia achar: profundidade. Às vezes fazer bons filmes "rasos" também funciona. Se o cinema brasileiro tivesse mais realizadores idiotas, mas competentes, e menos gênios, teríamos uma fatia muito maior do mercado para nossos filmes.
De: Odirlei Costa
Sou formando de Comunicação Social (Jornalismo) da UFJF. Tenho acompanhado sempre que posso suas críticas no Terra. Além do vasto conhecimento cinematográfico que você possui, me chamou a atenção o seu pleno domínio da escrita. Como estudante de Jornalismo, valorizo muito o poder da palavra (ao contrário de tantos outros colegas) e sei reconhecer um bom texto, bem como o valor enfático e a precisão com que você exprime suas críticas. Acho isso realmente fundamental para o jornalista especializado em cinema, que além de tecer com destreza os pormenores de um filme, muitas vezes despercebidos pelo espectador, possa utilizar metáforas, comparações e tantos outros recursos próprios da literatura, utilizados para se escrever um bom texto crítico.
O que me interessa nas críticas é justamente a analogia que o jornalista engendra com outros filmes, num processo criativo que procura restaurar nomes de diretores e de clássicos da sétima arte. Ao ter contato com a crítica, o leitor-espectador estará frente a uma gama variada de referências cinematográficas, e o papel do autor do artigo torna-se importante por indicar novos caminhos entres tantos que estão dispostos nesta extensa rede de filmes que nos é apresentada a cada ano. Em outras palavras, um filme leva até outro porque as influências são constantes. O crítico é quem indica este painel de influências, sejam elas meramente técnicas ou até mesmo ideológicas. O engraçado é que muitos reclamam disso, por acharem que só vale o comentário objetivo para aquele filme, mas para mim é muito válido esse exercício que o crítico faz quando expõe suas opiniões.
Estou escrevendo este e-mail especialmente para uma dica: que tal se o Terra cedesse um espaço para que você trabalhasse críticas de filmes antigos? Seria muito interessante nos depararmos com uma crítica sua para um thriller como Taxi driver, um drama familiar como Kramer vs Kramer, um expressionista alemão como Consultório do Dr. Caligari ou um mero "sessão da tarde", como Curtindo a vida adoidado ou Garota de Rosa-shocking. Eu fiz esta miscelânea justamente para mostrar que os filmes indicados passariam por um processo democrático de escolha. Os internautas fariam uma votação e o filme escolhido seria "destrinchado" (no bom ou mal sentido, dependendo da sua observação para com ele) por você. O que você acha? Vou terminando por aqui, mas antes queria que você me mandasse uma lista com os dez melhores filmes que você já assistiu. É difícil? Faça uma pequena força, escolha aqueles que te marcaram mais por algum motivo.
De: Gerbase
Essa questão da abrangência da crítica é interessante. Quando comecei a escrever no Terra (então ZAZ) eu tinha uma espécie de regra interna: não comparar o filme que assisti com outros filmes (do mesmo diretor, ou do mesmo gênero). Acho que, às vezes, esse é um artifício, uma forma do crítico ficar dando voltas, fazendo mil analogias, sem dizer o que realmente pensa do filme. Depois, percebi que é impossível fazer crítica de cinema sem pensar em outros filmes, porque ninguém escapa à tradição, com exceção dos idiotas e dos débeis mentais. Então (mas tudo isso meio inconscientemente) passei a comparar, mas com algum cuidado. Hoje tento fazer um julgamento "dentro" do filme em primeiro lugar, para só depois, eventualmente, compará-lo com outros filmes. A tua sugestão de fazer os leitores escolherem os filmes "velhos" é boa. Já escrevi sobre vários clássicos na seção "Favoritos". Dá uma olhada.
De: Roussel De Carvalho
Sou cinéfilo de carteirinha e tive a oportunidade única de estar nos USA quando o filme foi lançado. Vi o filme em primeira mão. Cara, eu saí aterrorizado pela qualidade do diretor (que foi o que você ressaltou em seu comentário). O cara é muito bom. E, como disseste, o filme não chega aos pés de qualquer um do Mestre Hitchcock, mas valeu cada centavo de dólár, pois te deixa grudado na poltrona. Um pequeno detalhe: eu tenho 19 anos e sou fã de filmes deste tipo (Cabo do medo é fantástico, O silêncio do Lago tb!). Fico apavorado com estes jovens gritando e vendo filmes babacas como Pânico e cia. Felizmente eu não me enquadro nesta categoria. Para não me alongar, adorei tua coluna, pois era o que eu tinha exatamente em mente, e é o que eu disse pros meus amigos antes do filme entrar em cartaz aqui: vá assistir pq o diretor dá um show.
De: Gerbase
Sei que vão me crucificar, mas gosto mais de Revelação do que de alguns filmes do Hitchcock, como Topázio (bem chatinho) e Marnie, confissões de uma ladra (de um psicologismo infantil e constrangedor).
De: Robledo Milani
Tu sabe mesmo surpreender! Todas as críticas, em todos os jornais, revistas, entrevistas, internet, todo mundo falando mal do filme, e vem tu dizendo que acho maravilhoso, adorou, uma aula de cinema à moda antiga! Puxa, tu é contra a maré sempre, não? Pois é, eu tb adorei o filme. Mas os nossos porquês são um pouco diferentes. Eu tb acho que o diretor tem muito mérito nessa história, mas a grande estrela aqui é Michelle Pfeiffer. Tu diz que ela é mediana e que se ela tá bem é por causa do Zemeckis? Por favor, tu não viu Love Field e Susie e os Baker Boys? Quem dirigiu esses filmes? E Batman: O Retorno, Ligações Perigosas e A Época da Inocência? Tudo de bom nesses filmes é mérito do Tim Burton, do Stephen Frears, do Martin Scorcese? Por favor, seja razoável! Pfeiffer é uma das maiores atrizes da atualidade. Versátil, linda, talentosa. Só que é preguiçosa, acomodada, trabalha pouco. Fazia tempo que não tinha um trabalho digno de nota. Seus últimos desempenhos - Nas Profundezas do Mar Sem Fim, Sonhos de Uma Noite de Verão e A História de Nós Dois - não são nem um pouco inesquecíveis, mas em nenhum dos casos o problema está na atriz, e sim em outros fatores - roteiro, direção, cast.
Michelle segura o filme de ponta a ponta. Ela é o maior mérito de Revelação. O filme tem muitos problemas, sim, e o maior deles é o roteiro. E se um filme tem problemas no roteiro, no mínimo três são culpados: o roteirista, que escreveu, o produtor, que aprovou, e o diretor, que não alterou nada. E se não alterou, é porque gostou do que estava filmando. O personagem do Harrison Ford, então, é um dos mais sem sentido da história. Como um marido atencioso, preocupado, trabalhador, dedicado, pode, de uma hora pra outra, virar um maníaco assassino? Um personagem com fraquezas, o problema de superar o fantasma do pai de sucesso, ser um segundo esposo, a filha que deixa a casa, e com personalidade, cientista de sucesso, membro da ordem, vira um maluco, descontrolado, sem uma única pista anterior que justificasse tal atitude! E os vizinhos, qual a função deles na história? E pq diálogos como "o celular só funciona da metade da ponte em diante"? Ou um cachorro que entra nas portas semi-abertas só pra pregar sustos? E porta-retratos que caem e portas que se abrem? Vento ou espíritos? E por quê, por favor, mais uma vez o vilão parado explicando todo o filme enquanto a vítima agoniza no chão?
Não, o filme tem grandes furos, mas grande lances! Zemeckis sabe muito bem como pegar o feijão com arroz e fazer com que tu fique muito satisfeito com aquilo, pq o cara é bom. Música, fotografia, movimentos de câmara, o clima que ele cria é perfeito. Mas quem é responsável por todo aquele pânico, terror mesmo que tu sente na cena da banheira, com a Michelle imóvel dentro da água, mexendo apenas os olhos? Ela, é claro, que com dois olhos bem abertos faz muito mais que pencas de atrizes que estão por aí! E na cena em que ela se transforma, e vai pra cima dele, com a maçã? Por favor, é outra mulher, não é a mesma que apareceu durante todo o filme! Isso é uma grande atriz, isso é uma estrela! Ah, e só mais uma coisa: o nome do coelho do antigo filme do Zemeckis é Roger Rabbit, e não Robert, como tu citaste. Um abraço!
De: Gerbase
Mais um fã de Michelle Pffeifer indignado comigo. Normal. Reconheço que esqueci de citar suas boas performances. Mas daí a dizer que ela é melhor que Harrison Ford, me perdoa, mas não dá. O velho e decadente Ford ainda está alguns furos acima (e algumas plásticas abaixo). Não vejo nada de errado no roteiro em relação à transformação do personagem de Ford. Quem disse que ele era "marido atencioso"? Nunca tava em casa. Sempre tratava a mulher como débil mental. Nunca deu atenção às visões. Enfim, era um cara perturbado, com uma culpa imensa (e talvez uma maluquice incipiente) se disfarçando o tempo todo. Normal. Tem muitos por aí. E tem mais: a cena em que a Michelle se transforma (e vai pra cima dele) é das mais fracas do filme. Mas, tudo bem, ela é mesmo uma estrela, e não faz burradas tão grandes como citar o filme "Robert" Rabbit. Desculpa. Foi mal essa aí... Um abraço.
De: Vanderson
Sou um assíduo leitor da sua coluna e sempre gostei muito das críticas que faz, e devo reconhecer que, atualmente, são das poucas que merecem ser lidas, pois além de "denunciar" que você realmente entende do riscado, fazem análises bem fundamentadas dos filmes, ao contrário de muitas que tenho lido por aí, que simplesmente descrevem, relatam, contam o filme, sem se preocupar em aprofundar o texto e o conhecimento do leitor sobre cinema. Mesmo quando não concordo muito, respeito, pois seus argumentos são, pelo menos, coerentes. Contudo, no que diz respeito a crítica sobre o filme Revelação notei justamente essa falta de coerência, quando se refere à atriz Michelle Pfeiffer. Em que se baseou para dizer que ela é "uma atriz de talento dramático limitado"?
Pfeiffer é hoje, ao meu ver, uma das atrizes mais talentosas do cinema americano, e por que não dizer, mundial. Tenho acompanhado a trajetória profissional dessa musa, e é indiscutível que a cada trabalho está melhor! Principalmente depois do excepcional Ligações Perigosas onde sua interpretação se equiparou ao da também ótima Gleen Close. Isso sem falar em Susie & os Bakers Boys, A Época da Inocência, e o mais recente Nas Profundezas do Mar Sem Fim, filmes em que a estrela brilha intensamente evocando, e transmitindo, uma forte carga dramática, além de sua inegável beleza. Em Revelação a atriz só confirma mais uma vez seu enorme talento. Finalmente, o restante da sua crítica, como sempre, é bastante feliz, tanto no que se refere ao diretor quanto ao astro Harrison Ford, assim como as qualidades desse bom filme.
De: Gerbase
Idem. Ibidem.
De: Salviato Filho
Assim que comecei a assistir Revelação notei que tinha assistido a um filme semelhenta há pouco tempo, mas não me lembrava qual. Pouco tempo depois, lembrei que vários aspectos da trama me remetiam ao ótimo (na minha modesta opinião) Premonição dirigido (pelo excelente) Neil Jordan. Em ambos os filmes, a perda da filha desencadeia os acontecimentos e a crescente neurose da protagonista. Até o nome das atrizes principais, tanto Michelle Pfeiffer (Revelação) quanto Annette Bening (A Premonição), é o mesmo: CLAIRE. Acho que Claire é o nome preferido para "mães desesperadas que vêem assombração" em Hollywood. Não gostei do filme de Robert Zemeckis. Sua direção é realmente o maior trunfo do filme (lembra da cena em que o parabrisa do carro é a própria câmara?), mas o roteiro idiota e mais que previsível derruba o filme. E Harrison Ford está mais canastrão que nunca.
De: Gerbase
Não vi A premonição, de modo que não posso analisar a semelhança dos argumentos. Mas creio que Jordan deve ter feito um filme muito mais autoral e inovador que o do Zemeckis. O que não significa que seja, necessariamente, um filme melhor. Autoria e inovação são riscos bem maiores que a simples competência narativa.
De: Renata Preti
Adorei as suas considerações a respeito do filme Revelação, diferentemente de outras críticas que li. O filme é muito inteligente e "bem feito". Apenas discordo de suas afirmações a respeito dos adolescentes. É certo que muitos sejam capazes de empolgar-se com besteróis do tipo Pânico, mas garanto-lhe que ainda existe vida inteligente antes dos 20 anos. Há adolescentes que apreciam filmes de muito boa qualidade e sabem diferenciar os caça-níqueis holywoodianos da verdadeira sétima arte. Fica aqui a minha opinião.
De: Gerbase
Não só há vida inteligente antes dos 20 como, a julgar pelo que alguns "velhos" (no pior sentido do termo) fazem para o mundo, os "jovens" poderiam ter resultados bem melhores em vários campos de atividade. Acredito, como Belchior, que o novo sempre vem (não necessariamente dos jovens cronológicos, e sim dos jovens de espírito). O Paulo Francis recomendava: "Jovens, envelheçam o mais rápido possível!". Eu faço uma modesta paráfrase: "Velhos, não encham o meu saco!". Fica aqui a minha opinião.
De: Carlos, o Chacal
Ainda não assisti Revelação, provavelmente irei amanhã, mas não pude deixar de comentar algo sobre sua última coluna. Sempre acompanho suas críticas, aliás, não só eu como também minha querida mãe... hehehe :) Adoramos seus textos, e essa não é a primeira vez que escrevo. Mas chega de enrolação e vamos ao que interessa.
Acho que você generalizou ao citar os adolescentes na crítica de Revelação. Tenho 19 anos, não sei se ainda sou considerado adolescente, mas acho que sou :) Bom, isso não importa. Mas não posso discordar de você quanto ao comentário, nossos jovens de hoje estão meio fúteis mesmo, falta de cultura e todas essas coisas que estamos cansados de saber. Não quero entrar no mérito da questão. O que importa é que nem todo mundo é assim.
Filmecos para adolescentes, essa é a última moda do cinema. Mas será que adolescentes só gostam de roteiros previsíveis, um serial killer que mata todo o elenco do filme e faz piadinhas idiotas? Eu como um "rato de cinema" estou cansado de filmes que não saem do lugar comum. Adoro o cinemão americano, aquelas produções faraônicas de Hollywood, também quero me divertir. Mas não vou ao cinema só pra assistir os Pânicos da vida.
Esse ano poucos filmes realmente me chamaram a atenção. Muita repetição e pouca inovação. O melhor até agora foi Magnólia, sem contar o A Vida em Preto e Branco, que é maravilhoso. Não generalize quando falar dos adolescentes, nem todos são desprovidos de cultura. Aliás, somos o futuro do país. O Brasil tá perdido mesmo. :)
Em tempo: eu pelo menos entendi a chuva de sapos de Magnólia e também sei a função daquele garotinho que canta rap. Aliás, esse garotinho pode ser considerado o papel principal do filme. Se quiser eu te explico... ;)
De: Gerbase
Então explica, mas com não mais de duas linhas... Bom, falando sério, concordo que a idiotia adolescente não é a regra, pelo menos fora dos cinemas. Mas temos que admitir que o cinema, principalmente o americano, embarcou numa gigantesca onda de "serial killers com piadinhas idiotas". Poderiam ser até mais idiotas, mas tinham que ser mais engraçadas. Agora vão fazer uma paródia do Pânico. Paródia da paródia? Deve ser um filme seríssimo! Também acho que Magnólia é um dos melhores (se não o melhor) do ano.
De: Lívio Goellner Goron
Infelizmente não posso concordar contigo sobre o raso suspense Revelação, mais um digno produto da fábrica de enlatados de Hollywood. Fui só eu, ou mais alguém achou que o roteiro deste filme copia o Atração Fatal? Pelamordedeus, precisava do final moralista punindo o adúltero Harrisson Ford? E a transformação do marido pacato e bom pai de família em psicopata assassino, com todos os trejeitos e frases do gênero, vamos convir, está forçada demais. Sabe, é uma daquelas reviravoltas que parecem uma baita idéia na tela de computador do roteirista às duas da madrugada, mas que de manhã cedo tem que deletar imediatamente porque não faz o menor sentido. Tudo bem, posso concordar que algumas imagens são legais, um certo clima de suspense bem urdido em algumas cenas, etc., mas é só. O interessante clima do começo (tudo parece pacato mas tu SABE que tem alguma coisa errada) vai perdendo força junto com o filme e do meio para o fim descamba para o pastelão total, com direito à famosa cena do falso-morto-que-desperta-quando-a-mocinha-passa e um clímax inacreditável no fundo do lago retirado do filme A Múmia. NENHUM filme com aquele final pode ser bom! Para não dizer que só avacalhei, destaco a bela presença da Michelle Pfeiffer, como disseste, com um bom desempenho visual e dramático.
De: Gerbase
Ah... As discussões morais. As mais interessantes, as mais difíceis, as mais angulosas. Pensei bastante sobre a "moralidade" de Revelação, e também lembrei do detestável, execrável, publicitário, condenável e inadmissivelmente reacionário filme de Adrian Lyne. Eu odeio Atração Fatal, e meu ódio é ainda maior considerando sua competência narrativa e o bom desempenho dos atores. Ali, a mensagem é terrível: o adúltero deve ser punido. Ou: a família acima de tudo. Ou: cuidado, o sexo fora de casa leva à morte. Mas basta comparar essa maravilha de moralismo idiota com a história de Revelação que as coisas ficam bem diferentes. Quem é o "louco" de Revelação? Não é a pessoa "fora da família", como era Glenn Close em Atração fatal, e sim o marido. Do quê o personagem de Michelle Pffeifer tem medo? De ser abandonada, ou de ter a santa paz familiar quebrada? Não! Ela tem medo de estar convivendo com um passado obscuro e com um companheiro desconhecido. Tanto que Ford propõe, no final, que eles esqueçam tudo e continuem vivendo felizes para sempre, o que Pffeifer recusa. Também não aceito que o personagem de Ford teve uma "virada" artificial. Ele sempre foi um assassino, mas não sabíamos disso. Ele sempre escondeu, atrás de um casamento "feliz", uma história de violência e loucura. Por tudo isso, absolvo (apenas em meu nome, claro), o filme Revelação, assim como condeno Atração fatal. Quanto ao final aquático de Zemeckis, confesso que gostei. A água está sempre presente, desde os créditos iniciais. Está no lago, está na banheira, está no vapor que embacia o espelho. É lógico que esteja no final, e é lógico que a verdade esteja escondida por ela. E agora chega, vou tomar um banho. De chuveiro, claro, que não sou bobo. Até mais.
Revelação (EUA, 2000). De Robert Zemeckis
Carlos
Gerbase é
jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor.
Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A
gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente
finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.
Índice de colunas.
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