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Filme: Contos proibidos do marquês de Sade




 

De: Bruno

 

Olá, Gerbase, aqui é o Bruno de novo. Agradeço suas respostas. Realmente, acho que me exaltei um pouco quando classifiquei o Soderbergh de "medíocre". Claro que gosto muito de sexo, mentiras e videotaipe, apenas acho o filme um pouco superestimado demais para ter recebido o prêmio que ganhou. Me decepciona ver um artista com um talento visível, fazer filmes apenas como veículos para astros provarem que são atores de verdade. Cá entre nós, respeito mais o Stone como artista, pois este procura vencer suas limitações e as limitações dos grandes estúdios de Hollywood, e algumas vezes até consegue criar um filme de verdade, enquanto o Soderbergh poderia ser muito mais, mas se limita a imitar os outros e fazer "veículos" para Julia Roberts. Mas é claro que vou conferir Traffic e The Limey.

 

Bom, mas chega de Soderbergh e Stone. Vamos falar do Marquês de Sade! Que filme bom esse! Gostei muito do seu texto, concordo com muita coisa que tu disse, embora, para falar a verdade fiquei meio desapontado com o resultado final. Algumas coisas que não gosto são o personagem de Caine, maniqueísta demais pro meu gosto (ou talvez eu esteja traumatizado com Regras da Vida) e um certo ar teatral demais.

 

Algumas cenas, como a briga do Marquês com sua esposa me pareceram falsas, não me convenceram. Tive a impressão de que a discussão pela liberdade de expressão ficou no limite do didatismo. Concordando com você, também acho ridícula a acusação de que o filme é "light". Ele me pareceu bem pesado, no limite certo, e ainda assim, vi que muita gente saiu durante a sessão. Bom, azar deles. A coisa que mais gostei, além do elenco (impecável) foi a demonstração de que o autor "precisa escrever, precisa escrever".

 

OBS: Que cena aquela entre o Phoenix e a Winslet no final, hein! Escandalizou o público do meu cinema. E olha que ela é mais sugerida (e fantasiosa) do que realmente explícita!

 

De: Gerbase

 

O final circular (o padre, encarcerado, querendo escrever) é meio óbvio, mas às vezes é melhor que inventar e se quebrar. Não acho o personagem do Caine maniqueísta. Pelo contrário, ele é o representante da moral da sociedade e, ao mesmo tempo, é um verdadeiro sádico. Você não acha interessante? Quem deve curar Sade é um sádico, cheio de geringonças de tortura e, ainda por cima, capaz de violentar uma adolescente recém saída do convento. Sendo assim, também não acho a discussão da liberdade de expressão didática demais. Pra mim, está suficientemente explícita para atingir ao grande público, sem cair no clichê. Aliás, você publicaria as obras de Sade? Você deixaria sua filha de dezoito anos ler aquelas historinhas tão edificantes? Mas concordo com você sobre a cena final. Está na medida, e só escandaliza quem quer ser escandalizado, o que, pela minha experiência recente, é uma parcela significativa do público.  

 

De: André Augusto Lux

 

Sua crítica ao filme Contos proibidos do Marquês de Sade está ótima. Confesso que só fui ver o filme depois que a li, pois não tinha nenhuma informação sobre ele e ao ver rapidamente o poster no cinema achei que seria mais um filme erótico classe b, ainda mais com um título horrível desses! E achei-o sensacional. Realmente perturbador e profundo, mas sem deixar de ser ágil e divertido. O elenco, então, está excepcional, principalmente Rush e Caine - dando um show a parte. Um filme imprescindível em todos os sentidos.

 

De: Gerbase

 

Você não citou a Winslet, mas acho que ela também merece destaque. Eu detestei Titanic (inclusive a sua atuação), mas não mudaria nem um centímetro sua interpretação em Sade.

 

De: Bruno Machado

 

Caro Gerbase, creio que o motivo que o levou a considerar esse filme como um dos maiores da sua vida foi quase que inteiramente pessoal. Convenhamos que o filme é interessante, bem conduzido e só! Não há absolutamente nada que fuja dos padrões cinematográficos do chamado "filme de época". Vamos comparar com dois filmes recentes... será o Marquês de Sade uma obra tão exasperante e aflitiva quanto o Magnólia de Anderson? Sabemos que não. Ou tão artística e sugestiva quanto o De Olhos Bem Fechados de Kubrick? Menos ainda. É um bom filme, de um diretor que sabe levar uma narrativa com destreza... porém sem nenhuma grandiosidade ou inovação, ao meu ver. O Marquês de Sade é bonito, mas facilmente esquecível.

 

De: Gerbase

 

Magnólia é sensacional, uma aula de cinema, um filme que está entre os melhores da década. E não canso de ouvir a trilha. De olhos bem fechados é impressionante, perturbador, amargo, e com um dos melhores finais dos últimos tempos. Mas, meu amigo, permita que eu coloque o Sade ao lado deles, menos por méritos estritamente cinematográficos (Anderson e Kubrick são mesmo superiores), mas muito pelas suas qualidades literárias e estéticas. Sade é um filme que está muito bem inserido no hoje, no aqui e no agora, apesar de ser um filme de época. Talvez sejam mesmo os “meus” aqui e agora, mas, que diabos, são os únicos que posso experimentar honestamente. Você sabe: no fundo, estamos totalmente sozinhos. Sade não tem grandiosidade, não tem inovação, mas tem uma grande capacidade de dialogar com o nosso tempo, com o final dos tempos, com o obscurantismo, com a pornografia, com a moral e os bons costumes, com quase tudo o que cerca o ato da criação artística. As grandes obras são aquelas que se voltam para si mesmas, e acho que este filme teve a coragem de fazer isso. E, para mim, isso é o bastante. Não vou esquecê-lo. Até mais.    

 

Contos proibidos do marquês de Sade (EUA, 2000). De Philip Kaufman


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Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A Gente Ainda Nem Começou e "Fausto"). Em 2000, lançou seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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