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AGORA COM MAIS CALMA Uma boa parte do cinema americano está trabalhando dentro dessa fórmula: espetacularizando (e assim diluindo) os temas que antes estavam presentes em filmes considerados "pesados". Sexo, drogas e violência – trio que metia medo nas famílias – agora são motivo de riso. Às vezes são boas (e novas) piadas – lembro facilmente de Quem vai ficar com Mary – e às vezes são más (e velhas) piadas, como em Todo mundo em pânico. Resumindo: os besteiróis vieram para ficar, mas alguns são muito mais competentes que os outros. É impossível cobrar consistência dramática do trabalho de Keenen Ivory Wayans, mas, mesmo considerando a despretensão do filme, os resultados são muito precários. Assim, o que sobra de Todo mundo em pânico? Algumas risadas politicamente incorretas (e as melhores são as mais preconceituosas), alguns momentos de tédio absoluto (quando as piadas não funcionam) e a confirmação da antiga tese de Foucault: a civilização ocidental dos últimos séculos não é exatamente "repressiva" em relação ao sexo, no sentido de simplesmente escondê-lo ou censurá-lo. Ela é, cada vez mais, uma máquina produtora de milhares de discursos sobre o sexo, que foi devidamente dessacralizado, estudado e transformado em ciência (e agora em tema central de filmes). Só através da observação desses discursos, da maneira como são gerados e distribuídos, poderemos compreender como a sociedade controla (ou não controla) a sexualidade dos indivíduos. Talvez o mesmo esteja acontecendo com a representação das drogas e da violência no mau cinema comercial norte-americano: muitas imagens, muitos sons, muito espetáculo, e quase nenhuma relação com a realidade. Todo Mundo em Pânico (EUA, 2000). De Keenen Ivory
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