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Todo Mundo em Pânico

De
Keenen Ivory





RAPIDINHO
Esta é a maior qualidade do filme: ser rapidinho. Apenas 88 minutos de uma série de bobagens, uma atrás da outra. As melhores piadas, somadas, não somam cinco minutos. E algumas delas já estavam no trailer. É duro. Keenen Ivory Wayans fez uma sátira de filmes já satíricos. Se você conhece algumas das produções copiadas – Pânico, Sexta-feira, 13; A bruxa de Blair; Eu sei o que vocês fizeram no verão passado; Matrix – talvez se divirta naqueles cinco minutos. Do contrário, fique em casa. No cinema, tá todo mundo mais preocupado com a pipoca que com o filme.

AGORA COM MAIS CALMA
Sexo, drogas e violência. Estas são as matérias-primas básicas de Todo mundo em pânico. Claro, também temos os gases intestinais, mas prefiro não falar sobre eles. É interessante como um filme de censura 14 anos é capaz de, nos dias de hoje, apresentar uma lista tão completa de assuntos e imagens antes interditos: cocaína, maconha, tráfico de drogas, homossexualismo, foto do órgão reprodutor masculino, o próprio órgão reprodutor masculino, o ato sexual, banhos de sangue, cabeças cortadas, assassinatos e atropelamentos variados. Claro que todos estes assuntos e imagens estão num contexto tão débil mental (e não "infantil", é bom frisar) que eles perdem seus significados, viram mero discurso, fala vazia de conteúdo, conversa pra boi sorrir.

Uma boa parte do cinema americano está trabalhando dentro dessa fórmula: espetacularizando (e assim diluindo) os temas que antes estavam presentes em filmes considerados "pesados". Sexo, drogas e violência – trio que metia medo nas famílias – agora são motivo de riso. Às vezes são boas (e novas) piadas – lembro facilmente de Quem vai ficar com Mary – e às vezes são más (e velhas) piadas, como em Todo mundo em pânico. Resumindo: os besteiróis vieram para ficar, mas alguns são muito mais competentes que os outros. É impossível cobrar consistência dramática do trabalho de Keenen Ivory Wayans, mas, mesmo considerando a despretensão do filme, os resultados são muito precários.

Assim, o que sobra de Todo mundo em pânico? Algumas risadas politicamente incorretas (e as melhores são as mais preconceituosas), alguns momentos de tédio absoluto (quando as piadas não funcionam) e a confirmação da antiga tese de Foucault: a civilização ocidental dos últimos séculos não é exatamente "repressiva" em relação ao sexo, no sentido de simplesmente escondê-lo ou censurá-lo. Ela é, cada vez mais, uma máquina produtora de milhares de discursos sobre o sexo, que foi devidamente dessacralizado, estudado e transformado em ciência (e agora em tema central de filmes). Só através da observação desses discursos, da maneira como são gerados e distribuídos, poderemos compreender como a sociedade controla (ou não controla) a sexualidade dos indivíduos. Talvez o mesmo esteja acontecendo com a representação das drogas e da violência no mau cinema comercial norte-americano: muitas imagens, muitos sons, muito espetáculo, e quase nenhuma relação com a realidade.

Todo Mundo em Pânico (EUA, 2000). De Keenen Ivory



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Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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