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DÊ SUA OPINIÃO (OU CALE-SE PARA SEMPRE)
Filme: Tolerância De: Fernando Vasconcelos Por exemplo, gostaria da tua opinião sobre o novo filme dos irmãos Cohen, que foi recebido com equivocada (na minha opinião!) frieza pela crítica e público. E estou louco pra ver o debate com os leitores sobre o teu filme Tolerância. Ou ainda, levando em conta que tu foi (ou é?) vocalista do Replicantes: tu não vai comentar o Alta Fidelidade? Aqui em Recife ainda não está passando... E como pernambucano, estou curioso pra saber o que tu achou do documentário Rap do Pequeno Príncipe... Tu viu? Voltamos ao fulano que é cinéfilo, informado e com saudável capacidade crítica para contestar até clássicos intocáveis como Rastros de Ódio, eu discordo completamente dele! (Rastros... está na minha lista dos 10 mais, junto com outros filmes "americanos e reacionários" como A Felicidade Não Se Compra, de Frank Capra). Só a cena final, com o John Wayne enquadrado na penumbra da casa com a paisagem do deserto ao fundo, é uma das mais belas traduções visuais da solidão humana que eu já vi no cinema e vale mais do que a filmografia inteirinha de um Steven Spielberg (esse sim, um reacionário de primeira!) Pra quem acha o John Ford um velho reaça, o cinema é maior que esses julgamentos. Por exemplo, como não reconhecer a genialidade e vanguarda estética da diretora nazista Leni Riefensthal nos filmes ideologicamente perigosos que ela fez celebrando a superioridade da raça ariana? É dificil, mas temos que admitir que, até entre os nazistas, também viviam (poucos) seres inteligentes! Deixo aqui bem claro que são leitores e opiniões como as dele que me animam a sentar no computador e participar com animação da tua coluna. Pra terminar, não vi o Endiabrado. Cinema está muito caro pra assistir essas besteiras... Verei quando sair em vídeo (pelo menos, é mais barato!) Por que o cinema americano tem tanta dificuldade em fazer diversão simples e eficiente como o maravilhoso X-MEN? Por que pra cada Matrix a gente tem que agüentar uns 28 Missão Impossível 2? De: Gerbase De: Simeão Como você já ressaltou, não dá para usar argumentos ecológicos e politicamente corretos dos dias de hoje para julgar. E mais, se esse filme fosse feito hoje, a abordagem usada seria válida, pois a ação se passa logo após a guerra civil norte-americana (1865), e naquela época, 99% das pessoas eram racistas e preconceituosas, mulher só servia para parir e ninguém dava a mínima para búfalo, jacaré e mico-leão-dourado. Lá pelas tantas ele pergunta: "Onde andava a discussão de que os invasores matadores e maus eram realmente os brancos americanos e não os pobres e indefesos índios, que apenas estavam defendendo seu território"? Bom, o filme foi feito em 1955, e essa discussão devia estar começando ainda, só tomaria corpo mesmo nos anos 60. Aliás a própria obra do Ford reflete isso. Seus filmes inicialmente mostram a visão predominante da época, com os índios no papel de vilões e bárbaros e os brancos mocinhos, civilizados e desbravadores, passando por um período de transição, até os seus últimos trabalhos (Crepúsculo de uma Raça, 1964) em que ele mostra o que realmente houve, o genocídio de um povo inteiro. Novamente, reflexo de uma mudança de opinião da sociedade americana, nos anos 60. Retificação histórica: a Klu klux klan é bastante antiga, sendo fundada logo após a guerra civil norte-americana, fruto de uma paranóia racista para proteger a raça branca contra os negros libertos. Ou seja, o filme não foi "inspiração" para a KKK. O documentário a que ele se refere foi feito pelo diretor Peter Bogdanovich, fã de carteirinha, intitulado "directed by John Ford", e mostrava como ele era um sujeito com uma forte personalidade e até mal-educado. Isso não quer dizer que seus filmes não tinham técnica ou visão definida (muito pelo contrário...), mesma opinião do Steven Spielberg e do George Lucas e vários outros importantes cineastas, que acham que Rastros de Ódio é o melhor filme a que já assistiram. E o Orson Wells, que considerava John Ford o maior cineasta da história. Sobre o personagem de John Wayne (que era um bom ator, e nesse filme tem sua melhor atuação). Ele é um sujeito solitário, deslocado, que não se sente bem com outros, só fica bem sozinho nos campos, matando búfalos (e a antológica cena final mostra claramente). Ele também é um sulista orgulhoso, e por Ter servido na guerra e perdido, estava ainda mais amargurado e ressentido. Depois que os índios matam sua família e, ultraje maior, levam sua sobrinha para viver como uma índia, o ódio dele transborda. Ele é o fio condutor de todo o filme, e sim, ele é reacionário e racista, mas um personagem fabuloso, em um grande filme. Ou todo bom personagem tem que ser parecido com Madre Teresa de Calcutá? Acho que se esse cara lesse (ou visse) o Ricardo III, acharia que o Shakespeare era um escritorzinho de quinta categoria. Tem muito mais ainda sobre esse filme. Se você locá-lo, vai perceber. De: Gerbase De: Carlos Alberto Teixeira Correa PS.: ganhei o kit então né? De: Gerbase De: Tiélo do Nascimento De: Gerbase
De: Ivan Luiz Bento De: Gerbase De: José Ricardo Pinto Mas rolou uma dúvida no final da história: será que me enganei ou será que tu também fala de uma espécie de incesto virtual? Júlio teclava com Guida (a filha) ou Ana Maria no inicio do filme? Ainda não li as respostas das críticas feitas pelos leitores e acredito que a resposta esteja por ali... Mas, seja qual for a solução, é muito bom entrar num cinema e dar de cara com um baita dum cinemão bem feito, com excelentes interpretações, boa música, e, acima de tudo, falando a nossa língua. Teu filme concorreria na boa ao Oscar de filme estrangeiro e ainda sairia ganhando ou em qualquer festival por aí, pois o tema é universal e muito brasileiro também. Desculpe, tentei ser imparcial, mas não deu pra não deixar de elogiar tua belíssima obra. Valeu mesmo! De: Gerbase De: Cristiano W. Leal O que incomoda no filme é a duplicidade de objetivos, ou talvez a indefinição de posições, passeando por narrativas, ora dramáticas, ora beirando um intrincado policial. O assunto é denso demais para ser apenas um roteiro bem tramado e tratado com superficialidade ao se tentar explorar reflexões intimistas. Mas aí não está uma falta de predicado para tratar do assunto, acredito eu, mas sim uma ansiedade em mostrar a capacidade do diretor, aquela vontade de mostrar o que se sabe fazer, o mais breve o possível. O que realmente incomoda no filme é o irrealismo desenhado para o casal protagonista. Não consigo visualizar um casal (moderno, sem dúvida) harmonioso e equilibrado em seu relacionamento, como o filme nos mostra, com arroubos extra-conjugais. Isto denota um ar artificial. Para que se derrubem certas barreiras (sociais?!) se faz necessário uma razão, uma causa; ou até mesmo a ausência, a falta de conteúdo em um relacionamento. De resto, parece-me irreal. Não posso deixar de citar o roteiro bem amarrado, devidamente planejado para suscitar dúvidas e surpresas. Tolerância é um filme bem estruturado; confuso e indeciso talvez, mas veio para somar. Ponto para Gerbase. De: Gerbase Mas estamos saindo do terreno da ficção e entrando em outro, ainda mais complicado. E, só para não deixar passar a oportunidade, recomendo, com toda força possível, os livros de José Angelo Gaiarsa. O trecho que se segue é de "Poder e prazer; o lado negro da família, do amor e do sexo", da editora Ágora. "No entanto, é certo que TODOS nós amamos a várias pessoas, não só da família como amigos, crianças, namoradas. Todos vivem o fato mas ninguém quer ou consegue dizer assim: AMO VÁRIAS pessoas AO MESMO TEMPO. Ao dizê-lo a pessoa se sentiria dividida e é isto exatamente que ouvi mil vezes em grupos de terapia. "Repito: TODOS nós amamos a VÁRIAS pessoas ao mesmo tempo e NÃO CONSEGUIMOS PENSAR NISSO. Claro, logo começam as distinções especiosas, das quais o "é namorado" ou "é apenas amigo" são os versos mais comuns da opereta. Enquanto continuo dizendo que eu não sei o que é meu amor, que ele NÃO TEM definição (social) ninguém fica feliz ao meu lado. "O sentimento por uma das pessoas - admite-se sem discussão - TEM QUE SER falso ou enganoso. Só pode sobrar - soçobrar o Sr. Marido e a excelentíssima sua esposa Respeitável e Única. "Por isso, ainda, as escolhas de amores e amizades é sempre difícil - ficando as pessoas anos a fio a se perguntar se "ele me ama - ou não". "Concebendo qualquer relação como Eterna (nos moldes do casamento) torna-se deveras difícil - para não dizer impossível, escolher quem vai comigo até o fim da linha. Se fosse só um passeio - geralmente é - seria bem mais fácil."
É isso aí. Tolerância é a história de dois passeios - que poderiam ser apenas isso, pequenos passeios prazerosos pelo bosque da infidelidade - mas que, por força de nossas fraquezas e de nossas covardias eternas, se transformam em jornadas obscuras rumo ao inferno. Até mais.
Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.
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