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Em 1988, a Kodak e a Fuji suspenderam o serviço de revelação de filmes super-8 no Brasil, deixando sem pai, nem mãe (nem um ombro amigo pra chorar) a centenas de realizadores que ainda acreditavam em fazer cinema de baixo custo. Apesar da resistência de alguns deles, que chegaram a montar laboratórios caseiros, a bitola definhou rapidamente. No Rio Grande do Sul, Estado de grande tradição no super-8 (vários longas e dezenas de curtas no início da década de 80), passaram-se anos sem haver novidades no setor.
O Festival de Gramado, contudo, resistiu. Vitrine tradicional do super-8, manteve a mostra competitiva mesmo em anos em que, claramente, a competição era entre dois ou três amigos paulistas, que subiam a serra com filmes muito precários. Mas eles é que estavam certos (o Festival e os três amigos paulistas). Se, em algum momento, o super-8 fosse definitivamente enterrado no Brasil, não estaríamos vendo agora uma nova geração - numerosa, solidária e entusiasmada - preenchendo a tela com suas propostas cinematográficas radicais, às vezes mal finalizadas e apressadas, mas nunca tediosas ou convencionais. A mostra competitiva de super-8 que aconteceu na tarde de domingo no Festival de Gramado não teve um único documentário sobre as férias na Europa, nem uma única chatice clássica do tipo "filmei meus lindos cachorrinhos". Foram 16 filmes curtos que divertiram a platéia, superando as dificuldades técnicas da bitola com roteiros (em sua maioria) inventivos e provocadores. Mesmo restrito ao Rio Grande do Sul e ao Paraná (aparentemente por razões econômicas), o festival super-8 mostrou que o novo sempre vem e que o cinema brasileiro em breve será invadido por um bando de realizadores dispostos a conquistar seu espaço e mostrar suas propostas. Mas que propostas? Mesmo correndo o risco
de uma simplificação, afirmo que as principais são: Para os leitores do
ZAZ, não tem sentido falar de cada um dos filmes, nem de seus realizadores,
porque o super-8 tem dificuldades estruturais insuperáveis para chegar
ao mercado, mas fica a advertência: para um morto-vivo que apodrece há
dez anos, até que esse cadáver está saudável e cheira bem. Em breve, poderá
estar assombrando um cinema perto de vocês.
Carlos
Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como
roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A
gente ainda nem começou e Fausto)
e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado
"Tolerância".
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