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SETE ANOS NO TIBET
(Tão bonito... e tão ruinzinho...)

RAPIDINHO:
Tinha tudo pra ser um grande sucesso: o astro Brad Pitt (que divide com Leonardo Di Caprio o título de homem mais bonito do mundo), o diretor Jean-Jacques Annaud (artesão inteligente e sensível, responsável por A guerra do fogo, O Urso e O nome da rosa) e paisagens maravilhosas (verdadeiras e falsas, mas sempre maravilhosas).

Então, por que o filme é tão chato e tão ruim? A resposta é simples e foi formulada por Aristóteles no século 4 antes de Cristo: sem unidade, qualquer narrativa fracassa irremediavelmente.

AGORA COM MAIS CALMA

Sete anos no Tibet são duas coleções de cartões postais: na primeira, vemos imagens de Brad Pitt; na segunda, admiramos exteriores deslumbrantes, cheios de neve, e interiores maravilhosos, cheios de monges que ficam tocando aquelas trombetas ridículas.

O problema é que isso não é cinema. Quem estava interessado em Brad Pitt teria feito melhor negócio comprando um fanzine ou gastando algumas horas na Internet; quem estava interessado em cenários maravilhosos, poderia ter poupado mais alguns trocados para a passagem aérea. E quem estava interessado em ver um bom filme se danou mesmo.

A raiz do problema, é claro, está no roteiro. É mais ou menos como o drama do Brasil jogando contra a Noruega - estamos classificados, não precisamos ganhar, mas queremos ganhar, contanto que para isso ninguém leve cartão amarelo nem fique lesionado. Ou seja: na hora de enfiar o pé, queremos ganhar mesmo a jogada, ou simplesmente fazer de conta? E, atolado nessa dúvida existencial, o Brasil perdeu o jogo.

O dilema de Jean-Jacques Annaud era escolher entre um drama romântico (o herói Brad Pitt e suas desventuras na guerra e nas montanhas) e um panfleto político (defendendo a liberdade do Tibet, que tem problemas históricos e aparentemente insolúveis com a China). Na dúvida, como o Brasil, Annaud não fez nem uma coisa nem outra, e também perdeu o jogo.

Só pra exemplificar um pouco mais: O Paciente Inglês fez sua opção pelo romance e pelos personagens, deixando a guerra e a política em segundo plano; Boogie Nights fez sua opção pela análise irônica de uma época, deixando os (muitos) personagens em segundo plano. Os dois filmes têm unidade e alcançam plenamente seus objetivos. Podemos até desgostar de um ou de outro, mas embarcamos nas duas narrativas do começo ao fim.

Em Sete anos no Tibet, no momento em que Brad Pitt finalmente chega ao centro da ação, seu personagem desaparece totalmente, o filme dá uma virada de cento e oitenta graus e tenta descrever um processo histórico de modo quase didático. Era para ser um filme bom, mas agora temos dois filmes ruins. O espectador se impacienta, se remexe na cadeira, e o filme vai pro saco. Ponto para Aristóteles. Gol da Noruega.

Sete Anos no Tibet, EUA, 1997, 131min. De Jean-Jacques Annaud. Com Brad Pitt, Jamyan Wangchuk e outros.

Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".

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