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RAPIDINHO: Então, por que o filme é tão chato e tão ruim? A resposta é simples e foi formulada por Aristóteles no século 4 antes de Cristo: sem unidade, qualquer narrativa fracassa irremediavelmente.
AGORA COM MAIS CALMA
Sete anos no Tibet são duas coleções de cartões postais: na primeira,
vemos imagens de Brad Pitt; na segunda, admiramos exteriores deslumbrantes,
cheios de neve, e interiores maravilhosos, cheios de monges que ficam
tocando aquelas trombetas ridículas.
O problema é que isso não é cinema. Quem estava interessado em Brad Pitt
teria feito melhor negócio comprando um fanzine ou gastando algumas horas
na Internet; quem estava interessado em cenários maravilhosos, poderia
ter poupado mais alguns trocados para a passagem aérea. E quem estava
interessado em ver um bom filme se danou mesmo.
A
raiz do problema, é claro, está no roteiro. É mais ou menos como o drama
do Brasil jogando contra a Noruega - estamos classificados, não precisamos
ganhar, mas queremos ganhar, contanto que para isso ninguém leve cartão
amarelo nem fique lesionado. Ou seja: na hora de enfiar o pé, queremos
ganhar mesmo a jogada, ou simplesmente fazer de conta? E, atolado nessa
dúvida existencial, o Brasil perdeu o jogo.
O dilema de Jean-Jacques Annaud era escolher entre um drama romântico
(o herói Brad Pitt e suas desventuras na guerra e nas montanhas) e um
panfleto político (defendendo a liberdade do Tibet, que tem problemas
históricos e aparentemente insolúveis com a China). Na dúvida, como o
Brasil, Annaud não fez nem uma coisa nem outra, e também perdeu o jogo.
Só pra exemplificar um pouco mais: O Paciente Inglês fez sua opção
pelo romance e pelos personagens, deixando a guerra e a política em segundo
plano; Boogie Nights fez sua opção pela análise irônica de uma
época, deixando os (muitos) personagens em segundo plano. Os dois filmes
têm unidade e alcançam plenamente seus objetivos. Podemos até desgostar
de um ou de outro, mas embarcamos nas duas narrativas do começo ao fim.
Em Sete anos no Tibet, no momento em que Brad Pitt finalmente
chega ao centro da ação, seu personagem desaparece totalmente, o filme
dá uma virada de cento e oitenta graus e tenta descrever um processo histórico
de modo quase didático. Era para ser um filme bom, mas agora temos dois
filmes ruins. O espectador se impacienta, se remexe na cadeira, e o filme
vai pro saco. Ponto para Aristóteles. Gol da Noruega.
Sete Anos
no Tibet, EUA,
1997, 131min. De Jean-Jacques Annaud. Com Brad Pitt, Jamyan Wangchuk e
outros. Carlos
Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como
roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A
gente ainda nem começou e Fausto)
e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado
"Tolerância".
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