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DÊ SUA OPINIÃO (OU CALE-SE PARA SEMPRE)

Filme: O Tigre e o Dragão



De: Raphel Caron Freitas
Ao abrir sua coluna deparei-me com seu manual de redação e seus 10 itens, até aí tudo bem, mas para minha surpresa encontrei alguns erros que você pediu aos leitores que não os cometessem. Estes erros foram propositais ou na próxima semana você também vai conferir os seus? Como de costume, concordei com a sua crítica sobre o filme O tigre e o dragão.

De: Gerbase
Se você leu o manual até o fim, sabe que eu admiti atropelar a língua portuguesa semanalmente. Estou apenas seguindo minhas próprias regras. De qualquer maneira, não encontrei os erros que você indica. Seja mais explícito.

De: Gustavo
Nota 10 para o cineasta e 5 para o crítico (que bobagem, quem sou eu para julgar alguém). Agora falando sinceramente, acho que no momento que o analista julga o filme a partir dos erros supostamente encontrados no enredo da obra original, o romance de Thomas Harris, a película não estava tão ruim assim. A dificuldade de criticar, penso eu, está no inevitável processo de comparar, aonde o cineasta (você) fatalmente começa a achar defeitos em cima daquilo que ele faria se fosse o diretor. Existe também, a sombra do imenso sucesso que fez o "silêncio dos inocentes" que torna o julgamento condicionado a um dos melhores filmes realizados nos anos 90, como foi salientado no seu texto. A atuação de Hopkins carrega o filme nas costas, porque consegue interpretar o melhor vilão da história do cinema no meu entender, a ponto de torcer para que acabe tudo bem com ele. Não imaginava que poderia algum dia sentar numa poltrona de um cinema e no pensamento zelar pela segurança de um indivíduo que comete aquelas aberrações. Só por isto, acho que o filme foi uma boa diversão, evitando qualquer tipo de comparação.

De: Gerbase
Nota 10 para o espectador e 5 para o analista de críticos de cinema. Em primeiro lugar, eu nunca penso no que eu faria se eu fosse o diretor. Eu NÃO sou diretor quando estou fazendo uma crítica. Em segundo lugar, é absolutamente impossível criticar sem fazer comparações. Talvez dê para evitar aquelas comparações óbvias, com filmes de mesmo gênero, mesmo diretor, etc. Mas sempre se fará a comparação com toda a tradição do cinema. Aliás, uma das funções dos críticos é lembrar aos cineastas o peso desta tradição.

De: Edson Burg
De novo venho eu falar a mesma coisa: COMO EU QUERIA TER VIVIDO NO TEMPO EM QUE SE FAZIA CINEMA. Tudo bem, o Tigre e o Dragão é bonito, tem uma fotografia e direção de arte muito bem feitas, um roteiro digerível ( com certeza mais que o cérebro do Ray Lliota em Hannibal) e cenas de artes marciais muito bem coreografadas. Mas, 10 oscars? Por favor... acho que no dia 25 de março vou ver qualquer coisa menos o Oscar. O dinheiro está vencendo à arte, os bons filmes. Que o "épico" do Ang Lee é bom é, divertido, engana o cérebro e não dá sono, mas ele ser indicado para 10 OSCARS, incluindo melhor filme, onde tomou o lugar dos excelentes Contos Proibidos do Marquês de Sade e Garotos Incríveis. É realmente decepcionante, uma vergonha. E o pior são os outros indicados: Erin Broncovich (vi 20 minutos e ronquei as outras duas horas), Gladiador (bonito como cana, mas oco por dentro) e Chocolate (não vi, mas detestei o trailer, a sinopse, o elenco, o estúdio e qualquer outra coisa ligada ao filme). A única esperança é o Traffic, que mesmo que não ganhe nada, espero que pelo menos leve inteligência ao Shrine Auditorium. 10 oscars para O Tigre o Dragão... Estou tendo pesadelos por isso. Até o Superman voou melhor que os chineses no filme, e nem por isso foi indicado. E o Bruce Lee foi um mestre das artes marciais, e nunca ganhou nem um globo de ouro. Bons tempos que se foram... INVEJA É UMA MERDA!

De: Gerbase
Como vocês se emocionam com o Oscar! Mesmo quando falam mal, parece que a festinha é realmente de primeira. Vou tentar ver até o fim neste ano.

De: Reame
Novamente vou discordar de vc, pelo menos em alguns pontos. Vi poucos de Lee (apenas os ocidentais), mas já considero ser esta sua melhor obra. É dedicado ao entretenimento (muito bom, por sinal), é bem ocidentalizado, não discordo disso. Mas, vc afirmou que os conflitos emocionais são superficiais! É engraçado, pois achei o contrário. Tudo bem, Lee não vai tão fundo como em seus filmes anteriores, mas acredito que há um bom equilibrio de reflexão/diversão (pendendo mais para o último).

Por exemplo, acho a comparação entre os casais muito boa. Vc também afirma que a violência segue a filosofia de Karatê Kid. Não concordo, pois, ao final, a vingança do guerreiro Li não-sei-o-quê é frustrante (a batalha é rápida) e ele percebe finalmente que sua vida de batalhas não serviu para nada, pois não conseguiu amar ninguém. Vc não acha isso interessante?

Sobre a questão da violência em si, concordo com tudo, especialmente na comparação entre a obra de Lee e Matrix. Cineastas devem sempre tentar dizer algo com e/ou sobre a violência de seus filmes. Por falar nisso, para aqueles que acreditam que Hannibal é uma obra polêmica e de revirar o estômago tentem assistir até o final de Violência Gratuita (Funny Games). Tá passando no Eurochannel este mês. Eu vi neste fim de semana e mesmo sem violência explícita, senti ânsias de vômito o tempo todo!

Ao final do filme, e de uma reflexão de duas horas sem dormir na cama, achei que a experiência valeu a pena, pois nos faz pensar na maneira como a violência é explorada na mídia, mesmo sendo um filme de pensamento extremamente conservador. E vc, o que pensa? Haneke é um maluco perigoso que vale a pena prestar atenção, ou é um maluco hipócrita? Até logo, e até mais.

De: Gerbase
Gosto muito de Funny Games, e até já o discuti, via rede, com o Carlão Reichembach, que considera o filme fascista. Acho que a violência retratada em Funny Games tem absoluto sentido humanista, porque é um retrato cruel, irônico e realista do mundo em que vivemos. Não há hipocrisia em Funny Games, ao contrário da que encontro em Gladiador, por exemplo. Se você ficou duas horas sem dormir, refletindo sobre o filme, pode ter certeza: Funny Games cumpriu seu papel.

De: Alexandre dos Santos Borges
Finalmente! Alguém que não gostou do Tigre e o... Francamente, cadê a história? Como eu tinha escrito no outro mail, sono, muito sono, foi isso que eu mais senti durante o filme. Depois veio a dúvida: como pode esse filme agradar a tanta gente? Bom, são americanos, talvez não se enquadrem nessa classificação, gente... Mas são tantas criticas positivas, argh! Eu adoro filme de aventura, principalmente filme de artes marciais. Mas quando a coisa fica completamente inverossímil, é difícil de engolir. Se pelo menos tivesse alguma justificativa do tipo: sofreram uma mutação genética e criaram "azinhas" nos pés, ou então, é o poder da mente, ou então ou então o poder do amuleto da deusa Jade, ou o escambau... Mas não, nada. Simplesmente saem voando porque leram o manual. Fácil, né? Tenho praticado, mas acho que perdi algum fascículo. Banal, chato, acéfalo, com muito efeito especial, metido a filme "cabeça"... Aposto que leva pelo menos duas estatuetas. PS.: Não dá pra essa gente que escreve pra ti ser mais sucinta? Santo enchimento de lingüiça, Batman!

De: Gerbase
Boa idéia. Tô pensando em fazer uma regra contra os enchimentos de lingüiça. Que tal um máximo de 15 linhas para cada leitor? Quanto aos vôos, faltou, realmente, alguma coisa como os bat-bumerangues.

De: Clayton Shinyashiki
Já estava previsto que você iria criticar o filme O Tigre e o Dragão. Aliás você geralmente faz criticas opostas às opiniões tanto do público, como da grande maioria dos críticos. Está fácil "adivinhar" suas criticas. É claro que eu não poderia deixar de falar que Tolerância é uma verdadeira "obra-prima" (risos). Você esqueceu de falar da bela trilha sonora de Tan Dun. Falow!

De: Gerbase
Tan... Dun.. Tan, tan, tan... Dun. Dun, dun, dun... Tan, tan! Você adivinhou que eu faria essa piadinha horrível? (risos) Eu sempre me divirto com minhas obras-primas.

De: Nara Sano
Li sua crítica sobre O Tigre e o Dragão e gostei bastante. Na verdade, vc conseguiu escrever quase tudo aquilo que eu gostaria de ter conseguido dizer sobre o filme mas não consegui. Eu gostei bastante, achei muito bonito e tal. Mas só. A história mesmo não é lá grandes coisas. Discordei um pouco aqui e ali, mas no geral minha opinião é bem próxima da sua. Filme pra Oscar e pra quem está acostumado a assistir só Hollywood.

Mas eu queria mesmo é que vc fizesse a crítica do In the Mood for Love. Vi na Mostra Internacional de São Paulo do ano passado (quando vi também o seu Tolerância) e pretendo rever assim que tiver um tempinho. Esse sim eu achei maravilhoso, de uma beleza muito superior a O Tigre e o Dragão. Saí do cinema feliz da vida porque o filme é muito bom, a história é muito boa, a trilha sonora é linda... Ai, ai, saí de lá querendo ser Maggie Cheung nos anos 60. Mas eu não sou crítica de nada, então não consigo dizer muito mais que isso. Aguardo uma crítica sua. Aproveitando a msg, é verdade que Replicantes vai fazer show em Sampa lá pra abril?

De: Gerbase
Não vi ainda In the mood for love. Mas o título é estimulante, sem dúvida. Os Replicantes tocam dia 28 de abril, no Sesc-Pompéia, dentro do Abril Pró-Rock. Todo mundo lá. E podem criticar à vontade. O som vai estar tão alto que não vou ouvir nada. Quem levar um Jack Daniel´s (mesmo aquelas garrafinhas pequenas) ganha autógrafos de toda a banda.

De: Fred Steca
Estou aqui, novamente, para dar algumas opniões sobre a invasão chinesa hoolywoodyana. Eu achei o filme chato, muito chato mesmo. E sonolento. O filme se arrastou, não saia da mesma lenga lenga. Está mais para "A Saga das Facas Ginsu", pois eu não vi nenhum tigre ou dragão no filme. Não havia necessidade nenhuma dos caras começarem a voar. A sala estava lotada e mais da metade gargalhava com a "obra-prima" que estavam vendo. A cena do bambuzal, que a revista SET deu ênfase especial, foi absurdamente monótona. Sim, eu assisti "Magnólia" e a chuva de sapos é tão surreal quanto os vôos dos chineses. Mas pera lá, Magnolia é um filme ousado, um realismo exagerado, a vida cotidiana se passando em nossa frente, nada melhor que uma guinada surreal no final para lembrar que aquilo é apenas um filme, nada mais que isso (não estou falando sobre o "contexto" da chuva). O final do Tigre e o Dragão foi grotesco. Me deu a ligeira impressão que não souberam terminar o filme. O bonzinho morre, a ruinzinha se redime e se mata, auto-punindo-se, e a faca guinsu precisa ser afiada novamente. Qual a mensagem? A de que clichês continuam levando multidões aos cinemas? Que clichês asiáticos são "cult" e os americanos são "demodé"? Pior que isso só 2 disso. Quem assiste às novelas mexicanas do SBT está acostumado com este tipo de final. Este é um típico filme americano fantasiado de chinês. Na China ele não fez sucesso. Os chineses adoram ver pancadaria e se aborreceram com as poucas cenas de luta do filme, e com o imenso tempo perdido em bla-bla-bla. Além de mais, os atores principais fazendo um esforço descomunal para falar o dialeto mandarim foi motivo de gozação por toda China. O que salva no filme são as cenas de lutas, realmente são verdadeiras danças, e a fotografia, que é um espetáculo à parte. E só.

De: Gerbase
E, prepare-se, que vem o "3 disso". Ang Lee já está pensando na seqüência, com sensacionais combates de mini-guerreiros sobre pés de alface.

De: Daniel Galera
"Vou ler esse artigo e depois conversamos. Me cobra. Mas acho MUITO difícil transformar essa Hannibal em obra-prima. Com aqueles javalis? Com aqueles personagens idiotas? Com aqueles ventiladores de teto? Com aquele conflito de Briggite Monfort? MUUUUUITO difícil. E NÃO é uma história de amor. Se fosse, talvez ficasse bem interessante." (Gerbase, na semana passada)

E aí Gerbase, beleza? Leu o artigo? Na verdade o artigo também é uma bela merda, mas uma coisa ele conseguiu fazer bem: me deixar um pouco em dúvida sobre as qualidades e defeitos do Hannibal. Eu não gostei nem um pouco do filme, como espero ter deixado claro, mas é curioso como uma opinião radicalmente contrária ao consenso pode nos botar uma pulga atrás da orelha, e eu gosto disso. Me forcei a ponderar sobre as QUALIDADES do filme, e achei algumas poucas. Eu gostei do final. Passei a ver no filme um certo tom debochado. Sobre a história de amor, pro bem ou pro mal, eu acho que ela está no filme sim. Já falei com duas pessoas que viram o filme sob esse enfoque, sem ter lido aquele artigo que indiquei. Pode-se considerar isso uma qualidade ou um defeito A MAIS, mas não deixa de ser uma observação interessante, ou até provocadora. E por mais bomba que seja, considero o Hannibal melhor do que Gladiador, esse sim um filme sem qualidades em qualquer aspecto.

Concordo de maneira geral com teu comentário sobre O Tigre e o Dragão (podia sair um funk carioca, O Tigrão e o Dragão...). Também não achei o filme esse oohhh todo que se falou por aí. A melhor coisa são as lutas e algumas imagens, a briga nas árvores é inesquecível, mas achei a história fraquinha. Um momento em especial me irritou, a cena em que o herói morre nos braços da amada, usando seu último suspiro para declarar seu amor. Ah, peraí né. Isso ultrapassou a barreira do clichê, chega a ser de mau gosto. Esse tipo de cena me faz criar um rancor por todo o resto do filme, é como ser tratado de idiota. Me lembro uma cena semelhante no Matrix (a heroína diz "Oh Neo, you can't be dead, because I love you" e o Neo acorda para dar a surra final no vilão) que também me deu nos nervos.

De: Gerbase
Li o artigo. Não é um lixo completo, mas esquece o fundamental: um filme não é feito de detalhes isolados. É um conjunto de linguagens, articuladas de modo a narrar (quase sempre) alguma coisa. Com um espírito bem Polyanna, dá pra achar qualidades pontuais até em Cara, cadê meu carro? E até em Gladiador. É como encontrar uma garota MUITO idiota, MUITO metida, MUITO burra e MUITO ignorante e negar que suas pernas são sensacionais. São sensacionais mesmo! O que fazer? tem que reconhecer. Mas recomendo não casar com elas.

De: Saulo Benigno
Uma pequena duvida sobre o filme Hannibal: li na sua critica, que no filme o Gary Oldman nao aparece nos creditos no final, bem, eu fui assistir o filme, e ta lá nos creditos o nome dele, e logo entre uns primeiros... poxa.. alem disso, outra pessoa disse o mesmo na secao de carta da sua critica... agora me diz uma coisa.. porque sera que eu vi, e voces nao ?? serio, eles mudaram isso aqui ?? tem copia com e copia sem??

De: Gerbase
Não sei. Alguém aí ajude o Saulo, por favor. Li em algum lugar que o Oldman não queria o nome dele nos créditos, se não fosse o primeiro a aparecer. Eu não perderia meu tempo com o incomensurável ego dos atores.

De: João Luís Torres Prada e Silva
O "Tigre..." é um dos filmes mais alavancados pela mídia que eu já vi até hoje. Um filme cujo objetivo explícito é tornar-se um cult. E parece que conseguiu isso até mesmo antes do lançamento. Não sei direito o porquê dessa iniciativa (inclusive de Hollywood) e também não sei porque Ang Lee resolveu dar uma guinada tão grande assim. As explicações sobre como "todo chineasta chinês sonha realizar um épico do Kung Fu" podem ser aplicáveis ou não. Também causa uma certa estranheza e desconfiança a quase unanimidade positiva dos críticos.

Adoro filmes chineses e adoro mulheres chinesas. Sou fã absoluto de Zhang Yi-Mou e mesmo da primeira safra do Ang Lee ("Wedding Banquet" é uma obra-prima). Não gosto de filmes de Artes Marciais. Mas esse até que dá bem para assistir. Apesar disso, não suscita muito mais do que uma assistência convencional. O que se percebe de mais diferente neste filme em relação aos outros do gênero é o ritmo mais lento e a preponderância das mulheres (que para mim é o maior trunfo do filme). A sino-malaia Michelle Yeoh está encantadora como a guerreira terna e cândida. Acho que ela fica melhor assim do que como bond-girl. Seu temperamento maduro, tranqüilo e sua plácida beleza cativam e encantam.

A patricinha Zhang Zi-Yi revela talento de cara, mas ela está melhor ainda no "Caminho para Casa" do mestre Yi-Mou, onde ela atua com grande desenvoltura dramática. No "Tigre...", a nova musa chinesa faz um papel interessante de patricinha rebelde e talentosa. A arrogância e auto-suficiência dela vão machucar os brios dos machistas. Mas eles não iam poder fazer nada contra ela... Ela voa e bate uma barbaridade! A cena em que ela pulveriza um brutamontes só com a mão esquerda enquanto toma chá com a direita é a melhor do filme! E depois ela derruba todo o resto sem sequer suar... É bonita, jovem e talentosa. A verdade é que todas essas chinesas são sempre o melhor colírio para um olho cansado...

Os melhores momentos do filme são quando elas estão em cena. E por falar nisso, por onde anda Gong Li, a mulher mais bonita do Universo? Que falta a imagem daquela mulher me faz... Não sei o que fez o Zhang Yi-Mou para perder a companhia de uma mulher (deusa?) daquela... E por que aquela chinesa linda (May Chin) do "Wedding Banquet" do Ang Lee nunca mais apareceu em filme algum? Só em filme para um cara (o chinês gay) dispensar uma mulher daquela! Nem como simbolismo ou fábula consigo deixar de achar desconfortável esse negócio de ver pular, andar e correr pelo ar. E a cena mais ridícula do filme é aquele combate nas árvores. Jesus Nazareno, James Bond e Stallone Rambo iam morrer de inveja desses superchineses e superchinesas. É um velho clichê do gênero, mas agora foi levado ao paroxismo. Nem a Mulan (outra gata) no longa de animação da Disney precisou fazer o que as superchinesas faziam. A Mulan usou somente a garra típica e a força de espírito das mulheres chinesas para fazer o que fez no filme. Agiu como humana o tempo todo, insegura mas com garra e coração, em nome do pai velho e doente.

Imagine um mundo cheio de Mulans e Pocahontas. Não haveria necessidade de criar religiões redentoras. O paraíso seria aqui mesmo. Beleza e garra sempre se unem com potência máxima em mulheres. Voltando à vaca fria do "Dragão", as sugestões éticas e reflexões sobre o destino e o dever dos guerreiros não chega a sair da superfície. Para concluir: está claro que houve uma campanha (que inclusive continua) de superestimação deste filme. De fato, um bom filme de Artes Marciais, de qualidade superior em vários aspectos a vários outros do gênero, mas não um filme que mereça uma indicação dupla para melhor filme e melhor filme estrangeiro. Nem essa montoeira de 10 ou 11 indicações em várias categorias. A comumice essencial dele não seria suficiente para armamentar isso.

De: Gerbase
João Luiz, você é, definitivamente, um tarado. Parabéns. "Um mundo de Mulans e Pocahontas". Que beleza! Sabe que eu também tenho certa queda pela orientais? Mas não sou tão radical – uma certa miscigenação também é bem legal. Ah, as nisseis... Geralmente magras, de óculos... Quase sempre sérias. Inteligentes. Maduras, mesmo com 19 anos. E não gostam de cinema. Costumam gostar de política. São de esquerda, mas nada de radicalidades. Ah... Um mundo de nisseis, pra fugir da comumice das loiras oxigenadas. Se desse pra armamentar isso...

De: Andre Augusto Lux
Estranhei seu comentário sobre ALIEN: "não é apenas um filme de monstro. É um filme de suspense, muito bem filmado, que também abre espaço para algumas perguntas interessantes quanto à busca de tecnologia militar." Não foi exatamente isso que eu disse? Quando escrevi "filme de monstro" não estava implícito "filme de suspense"? Não me lembro de ter visto filmes com "monstros" (no sentido real da palavra) que não eram de suspense... Não entrei no mérito das "questões filosóficas" levantadas pelo filme (que são mínimas) porque estava somente analisando a direção de Ridley Scott (como vc mesmo pediu). Pelo que eu sei ele não mexeu no roteiro e suas contribuições (ótimas, por sinal - foi ele quem trouxe Giger ao filme) limitaram-se ao design e cenografia. Bom, ou você não entendeu o que eu disse ou... Bem, deixa pra la. :-/ Quanto a O TIGRE E O DRAGÃO, concordo plenamente contigo.

De: Gerbase
Existem muitos filmes de monstro (no sentido real ou qualquer outro) que não são de suspense. Aliás, são raros os filmes de monstro com bom suspense. Bom suspense geralmente é originado em conflitos entre homens, ou de homens contra o desconhecido. Alien, pra mim, é mesmo uma feliz exceção. "Seu grito não será ouvido no espaço." Bom, pelo menos concordamos quanto ao Tigre... O que prova que pelo menos alguma coisa temos em comum. Eu não fumo.

De: Carla Martins
Concordo em gênero, número e grau com você, a respeito do Tigre e o Dragão. Para os que curtem o gênero, é inegável que os efeitos especiais resultam em seqüências belíssimas, do ponto de vista técnico. Porém, eu ainda sou do tipo que curte um filme não pelos efeitos visuais, mas por aquela cena ou aquela fala que me deixa pensando no filme mesmo depois da sessão. Ao sair do cinema, eu já nem sabia mais o nome dos personagens principais do Tigre e o Dragão. Abraços, parabéns pela coluna.

De: Gerbase
Você não lembra mais? Mas eram tão fáceis! Tá faltando fosfosol.

De: Rafael
Estou a cada dia ficando mais irritado com comentários que julgo de passagem exacerbado, e acredite eu trabalho numa locadora e assistir filmes será a minha eterna paixão. Vamos falar do ponto em questão, o filme Hannibal é ruim, regular, bom, muito bom, excelente. Só vejo e escuto as pessoas comentarem não só esse filme mas outros também, que o filme é horrível para não dizer pior ou animal. Em sã consciência todos nós devemos ter o mínimo de capacidade para olharmos e analisarmos algo, não simplesmente julgar um filme horrível ou animal; por trás de uma película está um enredo que muitas vezes lhe passa uma visão e essa visão tem um sentido para você ou para alguém. Quero deixar clara a minha opinião que o filme Hannibal foi muito bom, só não foi excelente, pois faltou a meu ver Jodie Foster e o grande final que está no grandioso livro de Thomas Harris. Por falar no livro já li certas críticas "Fred Steca" sobre o livro de Thomas Harris, o filme Hannibal e o filme O tigre e o Dragão. Primeiramente o livro de Thomas Harris não foi feito em apenas 3 meses ou menos como o faz nosso grande escritor Paulo Coelho "tomara que não seja, seu escritor predileto" mas sim demorou 10 anos, e o livro tem um conteúdo que me perdoem, mas nós pobres mortais levaríamos 3 décadas para faze-lo.

Agora a respeito do filme Hannibal tenho que ser sincero, quem leu o livro um pouco decepcionou-se, como eu mas não pode ter decepcionado-se ao ponto de odiá-lo. Faltou algumas cenas e personagens, mas ao meu ver faltou a Jodie Foster e o grande final que Thomas Harris nos proporciona no livro. Este grande final só não foi colocado porque não é um final que o público espera, anseia e deseja, por isso não o fizeram, pois poucos entenderiam e apreciariam sua morbidez. Para finalizar sobre O tigre e o Dragão "também para você caro apreciador e entendedor Fred Steca" o filme a meu ver é excelente, mas eu devo me julgar o errado dentre milhões de pessoas no mínimo. Estava eu assistindo o filme quando começou os guerreiros chineses pularem, flutuarem e voarem em pleno filme e nisso o cinema que estava lotado começou a rir e só três pessoas pediam silêncio. Eu me senti realizado, pois três pessoas captaram o filme como eu captei, nós brasileiros somos pobres de cultura e lendas, mas nós devemos respeitar a cultura e as lendas dos outros países. Quero deixar um recado que cinema é simples de assistir e denegrir, analise mais os filmes não só porque produções e propagandas, mas procure um sentido naquilo que você está assistindo e sempre lembre-se gosto é gosto e não deve-se discutir .

De: Gerbase
Caro Rafael, vamos pegar, por pura sacanagem, duas frases da sua mensagem: "Quero deixar clara a minha opinião que o filme Hannibal foi muito bom" e "Tenho que ser sincero, quem leu o livro um pouco decepcionou-se". Claro, descontextualizei, não considerei as várias ressalvas que você faz, não segui o seu raciocínio. Mas será que você pode admitir que, mesmo na sua cabeça, há um certo duelo de opiniões sobre o filme? Você gostou, mas não tanto quanto gostaria de ter gostado. Cinema é assim mesmo. Subjetivo e complicado. Algumas pessoas riem, outras pedem silêncio. Tem um amigo meu que me recomendou Dançando no escuro como a melhor comédia dos últimos tempos. "Procure um sentido" não resolve nada. Cada um constrói um sentido diferente, julga diferente, escreve diferente. E gostos se discute, sim! O que você está fazendo, neste exato momento?

De: Lisa
Pelo q parece o filme n te agradou muito, mas vc deixou de lado um monte de coisas como o fato de n ser um filme poluido pela cultura norte americana; na china o kung fu n e uma simples luta como pode parecer p nos, tem templos la q as pessoas dedicam suas vidas inteiras ao kung fu como uma forma de meditaçao, sao monges, entao p a cultura oriental aquilo tudo tem um valor maior do q nos podemos pensar, so p vc tirar suas duvidas tente assistir KUNG FU CORPO MENTE E ALMA. Achei muito inoportuna sua classificaçao desse filme junto aqueda droga do karate kid!!! Vc devia assistir ao filme c olhos menos preconceituosos. Se te interessar me escreve

De: Gerbase
Uma vida inteira dedicada ao kung-fu como forma de meditação? Sem dar porrada em ninguém? Tô nessa. Deve ser formidável. Onde leio sobre isso?

De: Tiobilia
Não, não meu caro! Quanto ao Tigre e o Dragão, realmente não é obra prima, alias que preto e branco existe, todo mundo sabe. Fico chateado que um diretor não saiba fazer comparações de contextos históricos de lendas ao fazer uma crítica. Não vou me prender no momento nisso. O filme retrata uma fatos lendários. Imagine se filmassemos A Lenda do Curupira, ficaria simples, aliás, muito simples qualquer gringo achar banal. Foi o que fizeste com o Tigre e o Dragão, sem embasamente tornou o filme comum, ficou camuflado atrás do receio, pois o que teus amigos cabeças iriam falar... meu Deus, ELE falou mal do filme, Ohohohohohohohohoho! Sai de cima do muro. Eis o motivo do e-mail: se tiveres vontade de aprender um pouco mais sobre cultura popular no mundo leia: Sobre Todas as Culturas, tem umas 1000 páginas,....assim aprenderá como se faz crítica sobre lendas. Pois esse texto seu "tá infeliz de ruim". Adorei Tolerancia, mas detesto tuas críticas, além de pobres são irresponsáveis. E também não acredito em Fulano de Tal: diretor, roteirista, crítico, quitandeiro...

De: Gerbase
Meus amigos cabeças realmente gostaram mais do filme que eu. Meus amigos sem cabeça não gostaram do filme. Mas eu perderia definitivamente minha própria cabeça se lesse as 1000 páginas de Sobre Todas as Culturas. Nem terminei ainda a História Social da Literatura e da Arte, do Hauser. E olha que comecei há 20 anos. Recomendo o capítulo sobre cinema. Mas li o suficiente dos formalistas russos para saber que, bem no fundo, todas as lendas são muito parecidas e obedecem ao mesmo esquema. Claro, isso é papinho de academia. Mas, acredite, estou até abrindo uma quitanda na academia. Aparece por lá.

De: Água B.
Ufa! Até que enfim alguém achou o que eu achei do tal Tigre. Filme plasticamente lindo e sem conteúdo. O mais curioso é que normalmente o aclamam pelo que ele não tem (bom roteiro) e o detonam pelo que há de melhor os efeitos e fotografia. Aquelas pessoas que vão ao cinema e ficam gargalhando nas cenas em que os samurais voam, deveriam ser retaliadas tanto quanto as que deixam o celular tocar durante a exibição. Desde quando cinema é o retrato da nossa vida? O que mais me incomodou no filme todo foi aquele encontro dos quatro personagens principais na caverna. Aquele discurso explicando o roteiro mais que simples do filme me fez lembrar o desfecho dos filmes da Xuxa o fim de um dos episódios do Scooby Doo. Outra observação que gostaria de fazer é que para quem insiste em dizer que não há filmes bons em circuito comercial e que não é possível aliar qualidade à bilheteria: vejam Chocolate. Filme bonito, inteligente, com ótimo roteiro e atuações divinas!

De: Gerbase
Xuxa e Scooby Doo? Você tá pegando pesado! Creio que o excesso de elogios ao filme gera, como reação, um excesso de porradas. Quanto à frase "Desde quando cinema é o retrato da nossa vida?", e diria que apenas o BOM cinema é um retrato (não necessariamente realista) da nossa vida. O resto é filminho.

De: Alexandre Valente
Lá vamos nós (os invejosos, que nunca fizeram um filme que preste) mais uma vez comentar uma produção do cinema americano. Não, não, o filme não é americano, é estrangeiro, e atualmente está cotado dentre os favoritos da noite do Oscar. Será mesmo que este filme não é americano, e sim uma produção estrangeira? Tenho sérias dúvidas.

Em primeiro lugar concordo com sua crítica sobre o filme. É um grande exagero considerar esse filme uma superprodução, ou um épico de kung-fu, como andam dizendo os "críticos". A estória é extremamente superficial, e em momento algum há um desenvolvimento mais aprofundado dos personagens principais. Ao assistir o filme fiquei com a impressão de que tratava-se do episódio final de uma grande saga, pois a todo o momento citavam-se coisas acontecidas anteriormente. Nada disso.

Na verdade, o filme "O tigre e o dragão" tem um enredo idêntico aos dos diversos filmes do mesmo gênero, inclusive os clássicos que passam nas noites de terça, na televisão brasileira (quem está com insônia, e não freqüenta um clube da luta, pode conferir, e dormir). O problema é que nunca uma dessas produções chegou a fazer um sucesso tão grande no mercado cinematográfico mundial ( e especialmente nos Estados Unidos).

Acredito, Gerba, que este filme é estrangeiro só na "embalagem", pois o seu conteúdo é todo permeado com os valores do cinema americano atual. Tanto isso é verdade, que o destaque desta produção fica por conta da dupla dinâmica - efeitos especiais e cenas de luta, que de tão freqüentes durante a projeção, chegam a cansar o espectador.

Talvez por isso filme faça tanto sucesso na mídia, e nas telinhas americanas, e da mesma forma, seja um total fracasso na sua terra de origem (na China). Os gringos agora querem ganhar até na categoria de filme estrangeiro, nem que para isso tenham que produzir um filme americano, falado em mandarim, estrelado por atores chineses, e dirigido por um diretor "de fora", que já é considerado "de casa" (Ang Lee é conhecido no mercado americano por outras produções bem mais elaboradas).

A única coisa de épico que tem no filme é o flashback amoroso da personagem Jen, que parecia não ter fim. É uma pena, pois tenho a impressão de que estória do filme poderia ter sido abordada de uma forma melhor, priorizando os personagens principais. Porém, no final, acabaram vencendo as características atuais do cinema americano – efeitos especiais e cenas de luta, enquanto os personagens e a estória ficaram em segundo e terceiro plano. É muito pouco para considerarmos esse filme uma obra-prima. Talvez a seqüência de "O Tigre e o Dragão" tenha melhor sorte. Li uma notícia na internet de que Ang Lee iria escalar novamente o casal de atores principais para o segundo filme. Será que o pedido da jovem guerreira foi atendido no final do filme? Quem viver verá!

De: Gerbase
Concordo com quase tudo. E, se a jovem guerreira não morreu, os filmes (este e o próximo) vão ficar MUITO piores.

De: Claudio Glock
Tigre e Dragão. E aquele último suspiro? Ultracriativo! Que decisão!

De: Gerbase
Uma verdadeira Escolha de Sofia.

De: André S.
É a primeira vez que eu escrevo aqui no terra e espero que o meu e-mail seja publicado. Eu adorei o filme "O tigre e o dragão" justamente porque não é um filme americano, com batalhas sagrentas e violência explícita. As cenas de ação foram muito bem feitas. E, ao contrário do que dizem, o filme não ficou "novela" ao mostrar os romances das mulheres. O filme deu foi uma pequena pausa nas cenas de ação. E isso ajuda o filme, para que ele não vire uma versão chinesa de "Matrix". É um filme leve. Caso não tenha visto, sugiro que você veja um outro filme chinês: "Amor à flor da Pele".

De: Gerbase
Se fosse uma versão chinesa de Matrix, talvez ficasse mais divertido. Pra mim, claro, que sou um ocidental degenerado.

De: Andrey Arakaki Rodrigues
Concordo parcialmente com as suas considerações sobre a filme "O Tigre e o Dragão". Trata-se de um bom filme, porém excessivamente alardeado como uma obra inesquecível da sétima arte, tendo em vista o enorme sucesso alcançado nas bilheterias, nos festivais em que foi exibido (no Globo de Ouro, o filme foi aplaudido de pé pela platéia) e perante a crítica cinematográfica. Realmente, a fotografia é belíssima, os efeitos especiais são ótimos e o enredo é superior à maioria das porcarias exibidas com "status" de grandes filmes (Gladiador, Náufrago,...), mas não passa disso. A cena de luta no bambuzal é daquelas que ficam para os anais da história do cinema, porém o verdadeiro épico das artes marciais, data máxima vênia, chama-se "A fúria do dragão", com Bruce Lee, o qual traz um final dramático à moda "Butch Cassidy" (será que é assim que se escreve?). Quanto ao Sr. Ang Lee, tenho para mim que seus melhores filmes estão na fase chinesa ("A Arte de Viver", "Comer, Beber e Viver"). Não me animei muito com "Tempestade de Gelo", quiçá por tê-lo visto em uma mostra de cinema ao lado de "Hana-bi", um filme do Almodóvar que não me recordo o nome, todos qualitativamente melhores que retromencionado. Termino por aqui evitando prolixidade desmensurada.

De: Gerbase
Taí uma boa lembrança: Butch Cassidy and The Sundance Kid! Guerreiros poderosos, solitários, que atiravam em quem se atravessava na frente deles. Os guerreiros queriam, basicamente, a grana de bancos mexicanos. E, é claro, se apaixonaram pela mesma mulher. Grandes conflitos existenciais! Grande e clássico final. Grande filme de aventura, sobre gente de verdade, ou quase isso. Nada como lembrar de bons filmes retrofilmados.

De: Bramaputra
Eu li o que disse sobre o filme O Tigre e o Dragão, no Terra, e fiquei com uma dúvida: será que esse cara (foi mal pelo cara) já leu o gibi "Batman - ano um" de Frank Miller e Mazuchelli? Isso pq. gostei da análise sobre os roteiros de filme de ação que fez, e gostaria de saber de uma pessoa que pensa desse jeito (do jeito que escreveu no terra) se um filme sobre esse gibi ficaria bom. É uma dúvida antiga. Até.

De: Gerbase
Eu sempre achei que o primeiro filme do Batman usa bastante coisa do espetacular "O Cavaleiro das Trevas", do Frank Miller (para mim, a melhor história de Batman já escrita), apesar do único roteirista creditado ser o Bob Kane. Você não notou alguma coisa parecida? Já li o "Batman – ano um" e, sem dúvida, ele também renderia bons episódios para os filmes do Batman. O problema é que, cada vez mais, o que importa é o ator que vai fazer o Batman e a atriz que será sua namorada. De história boa, de enredo bacana, os idiotas não falam.

De: Luciana Cristina Martins
Como no Gladiador, mais uma vez fui enganada pelas "vejas e sets" da vida e fui ver o Tigre com muitas expectativas. O que vi foi um filme com umas cenas de luta legais, mas que causavam risos qdo os guerreiros "voavam", e uma história confusa. Afinal, o filme era sobre o guerreiro Li Mu Bai ou sobre a Jen? E esta, morreu ou não no final? Definitivamente, o melhor a fazer é ir ao cinema sem expectativas, pra evitar maiores decepções.

De: Gerbase
Ela tinha morrido, mas agora o pessoal já está dizendo que foi apenas um vôo intercontinental.

De: Leandro Corrêa
A bomba é realmente a opinião de certos críticos de cinema. puxa como pode uma pessoa achar o filme Hannibal uma bomba, ter o disparato de dizer que seus ascos nem vieram à tona ao ver as cenas do filme, o filme é repugnante! Realmente vc deve ter nervos de aço. E a merda de tudo isto que eu descobri que a única diferença entre um crítico de cinema e uma pessoa comum é que um não paga a entrada.

De: Gerbase
Nervos de aço? Você conhece a música do Lupicínio?

Há pessoas com nervos de aço

Sem sangue nas veias

E sem coração

Mas não sei se passando o que eu passo

Talvez não lhes venha qualquer reação

Eu não sei se o que trago no peito

É ciúme, despeito, amizade ou horror

Eu só sinto que quando a vejo

Me dá um desejo de morte ou de dor...

Que beleza! Definitivamente, não tenho nervos de aço. E Hannibal, perto de Lupicínio, é um amador nas questões emocionais. Se bem que o Hannibal, a essa altura do campeonato, deve entender de dor de cotovelo.

De: Lucas Gonzaga
Não sei se você vai aceitar, mas gostaria de fazer algumas considerações atrasadas sobre seu texto a respeito de Hannibal e principalmente de algumas respostas publicadas. Primeira coisa fundamental: quem disse que o senhor Ridley Scott quer viver de filmes de arte? Alguma vez vocês já ouviram ele afirmando algo que em alguma coisa lembrasse isso? É mania de brasileiro achar que o filme tem que ter algo de muito inovador e diferente para ser bom. Não sei o que as pessoas que escreveram fazem da vida, mas todos os dias vocês criam obras inovadoras e geniais? Vocês nunca fizeram nenhum trabalho por dinheiro? Gerbase, você nunca fez? Sinceramente, não acredito. Eu fiz muitas coisas por dinheiro na vida, alguns trabalhos em que não acreditava muito. Fiz também alguns trabalhos sem ganhar dinheiro por acreditar muito neles. Alguns chegaram a colocar que ele não faz mais filmes como Alien??? (Desculpe Gerbase a tripla interrogação, mas é necessária) Onde está a arte de Alien? Considero um belo filme, mas não muito distante de vários outros trabalhos do diretor. E os defensores da Jodie Foster? Está sendo louvada, mas me digam um razoável trabalho seu nos últimos anos? Está esquecida. E onde está toda violência de Hannibal? Na cena do cérebro? Onde mais?

Também acho que o filme tem alguns problemas, realmente o Gerbase está repleto de razão sobre o personagem do Gary Oldman, é forçadíssimo. Mas assim como a opinião que li em uma resposta, também achei que o filme tem interessantes momentos de suspense, acho a maior parte dos diálogos muito boa, Hannibal Lecter tem toda a pose que a maioria dos vilões gostaria de ter e o filme, na minha visão, consegue em seu todo criar uma razoável atmosfera de suspense, tendo atingido seu objetivo comercial ao ficar mais de um mês em primeiro lugar nas bilheterias americanas. Confesso que fiquei surpreso antes de assistir o filme ao saber sobre os profissionais que realizaram o filme. Mamet, Dino de Laurentis e Hans Zimmer. Pensei: como eles foram entrar nesta? Mas depois acho que de alguma forma se justificou, principalmente pela qualidade técnica do filme. Voltando a esta questão, alguém lembrou bem: Ridley Scott foi um dos maiores diretores de comerciais. Não sei se largou este ofício, sei que até alguns anos atrás ainda era uma dos mais requisitados do mundo. E isso notamos claramente na tela.

Obviamente Gladiador está longe de ser um Spartacus, Ridley mais longe ainda de ser um Kubrick, mas isso não o impede de fazer filmes, ou só o Kubrick pode(ou podia) fazer filmes? Acho que tu Gerbase como cineasta deve as vezes se irritar com a pretensão de alguns críticos em tentar inserir o que você quer dizer com cada filme seu. Isso acontece aqui com a maioria afirmando que Ridley Scott tem pretensões de fazer obras primas inesquecíveis com Gladiador e Hannibal. De onde surgiu isso? Se todos os filmes tivessem tais pretensões, o que poderia passar na sessão da tarde? Interessante que na hora de escrever todos criticam o diretor, chamando de comercialóide, etc, mas na hora que entra um filme mais artístico nos cinemas da cidade, as sessões ficam completamente desertas. Se condenam tanto o cinema comercial, comecem agora o protesto deixando de assistir estes filmes.

Espero que ele continue fazendo seus filmes que ao meu ver são espetaculares do ponto de vista técnico, da maestria visual, dos resultados espetaculares. Acho que o prêmio de diretor deve ser dado a ele por Gladiador, embora ache que o filme não mereça o Oscar de melhor filme. Se quiserem filmes com uma enorme gama de significados, questões filosóficas tratadas a fundo, inovações artísticas, não assistam mais os filmes deste diretor. Quase todos falaram mal do diretor, dizendo que todos seus filmes são um lixo, mas todos assistiram o filme, meio difícil de entender isso. Não gosto do Jim Carrey e não assisto nenhum filme dele. Parece mais lógico não? Por outro lado, se quiserem assistir filmes bem realizados, bem dirigidos, assistam Chuva Negra, assistam Alien, assistam Hanibbal, Gladiador e se rendam ao talento deste diretor.

De: Gerbase
Tudo bem. Aceito sua opinião. Mas você não pode me impedir de ver e criticar filmes "comerciais". Até porque, muitas vezes, eles estão em todos os cinemas e são a única opção possível. Para meu desespero, acabo de assistir a Cara, cadê meu carro? e fiquei com sincera saudade de alguns lixos do Ridley.

De: José Ricardo
Hollywood adora um bode expiatório. E o bode da vez fala mandarim e voa pelos ares nesse trabalho interessante de Ang Lee, sobre mandarins, códigos de honra, lutas de artes marciais belíssimas e uma história legal: mas nada que vá além disso. É um trabalho de certa forma nostálgico. Para quem tem mais de 30 anos, lembra muito bem do seriado ultra kitsch "Nacional Kid". O Tigre e o Dragão tem muito do seriado dos anos 60. Até o jeito de voar lembra muito os incas venusianos. Ang Lee foi esperto e resolveu ressuscitar um gênero há muito esquecido chamado Wuxia (correspondente cultural chinês do faroeste americano). O faroeste está encravado no inconsciente americano e é tratado como sua própria mitologia. O que resultou na enxurrada de elogios e indicações à prêmios. Os grandes heróis (cowboys) que lutam contra as forças do mal (índios) são venerados e reverenciados como deuses no Olimpo. Haja visto que o estático e grosseiro "Rastros de Ódio" ainda é considerado um clássico até hoje. Aliás ressuscitar é a palavra da vez em Hollywood já que o fraco Gladiador (genero épico romano há muito esquecido pelo cinema) está indicado como melhor filme ao Oscar. Como você mesmo lembrou, há pouquíssimo sangue no filme. A violência é venerada como a única resposta para acabar com o Mal. Simplista demais para uma filosofia milenar. Mas o filme é comercial o suficiente para agradar as platéias do mundo inteiro. Menos na própria China. O Tigre e o Dragão é bem legal enquanto fábula clássica mas é bom parar por aí. Se virasse um seriado na Tv ficaria ainda mais legal. Que saudades do Nacional Kid. Auíca!

De: Gerbase
E volta a discussão sobre Rastros do ódio. E eu ainda não revi. Que vergonha. Mas você tem razão: O Tigre e o Dragão faz sucesso pelas suas qualidades ocidentais e suas pontes explícitas com a mitologia do western.

De: Fábio Rubenich
"Cinema é bom quando nos engana, quando cria emoção, quando nos faz esquecer que estamos ali. E, às vezes, até o Stallone consegue fazer isso." Sinceramente, Gerbase. Acho que o Stallone provou o seu valor em CopLand (Terra de Tiras, ou algo assim). Encarou gigantes, como Robert de Niro e Harvey Keitel, e não se intimidou. Foi um papel muito bonito e bem feito o que Stallone fez. Espero que tu tenha assistido, porque é o melhor papel e filme da carreira dele, sem dúvida (depois de Rocky V, é claro!)

De: Gerbase
Não vi nem o Rock V. Tô devendo.

De: Marcos Lavieri
Realmente, o Tigre e o Dragão não é tudo isso que estão falando. Saí do cinema com uma dúvida: a história é realmente fraquinha ou a abordagem de tudo é filosófica demais para minha mente ocidental? As questões que provocam os dilemas e conflitos dos personagens não são usuais em filmes ocidentais e têm até pouco valor para nós, que nem chegamos a percebê-las. Mesmo com essa dúvida, continuo acreditando que a história do filme ficou mal desenvolvida. As cenas de luta são excelentes e os atores dão conta do recado muito bem. Gostei muito da atriz que interpretou a guerreira Shu Lein, além de a achar bonita. Mas o melhor do filme, a meu ver, é conhecer um pouco da China e de suas paisagens. Filme bom para salas multiplex, com pipoca e refrigerante. Duas horas de diversão.

De: Gerbase
Se a abordagem é "filosófica demais", fiquei boiando junto com você. Mas acho que não é o caso. Pobre da filosofia.

De: Giordano Bruno
Apreciei suas criticas referentes tanto a Ang Lee quanto a Ridley Scott (já li certa vez que certos expoentes do cinema nacional tem "O Toque de Sadim", tudo o que tocam transformam em m..., acho que isto se aplica também aos caminhos que estão sendo tomados pelos citados acima). Entretanto, apesar de apreciar ficção, não acredito que "Alien" ou "Blade Runner" se comparem a um exercício impar de direção como "Os Duelistas" (o que considero a maior obra). Inclusive, acho que existe muita fábula em torno de "Blade Runner", e tem rolado algumas histórias de que a tal a versão de "autor", seria uma farsa marqueteira, perpetrada pelo próprio Scott, já que existiriam cenas enxertadas de "A lenda" (1985), em sua versão de "Blade Runner" (1982). Seria o caso de uma falta de ética cinematográfica? Gostaria de saber sua opinião.

De: Gerbase
Cinema não tem ética. É uma máquina de mentir. Filmes podem ter preocupações éticas. E este é o caso, certamente, de "Os duelistas". E por isso ele é tão bom.

De: João Luís Torres Prada e Silva
Li um comentário seu que rotula o "Titanic" de James Cameron de "sentimentalóide" e "romanticóide". Eu percebo claramente pejoração e depreciação nestes termos, mas não sei ao certo o que normalmente se quer dizer com eles. Seria um filme romanticóide um que conta uma história de amor? Se for isso, de fato o "Titanic" merecerá este título. James Cameron por várias vezes afirmou textualmente que ele quis filmar uma história de amor enquadrada pela tragédia do navio, como pano de fundo. E, ao meu modo de ver, ele conseguiu plenamente esse intento.

O desenrolar do affair de Rose Bukater e Jack Dawson no filme se mostra bastante factível. Eles se encontram em um navio. Nada mais natural. Ele se sente atraído pelo jeitão aristocrático e pela expressividade dela. Nada mais natural. Ela se sente atraída pelo carisma e vivacidade dele. Nada mais natural. Ela, desde a entrada em cena, mostrava estar desesperada e andando no fio da navalha, condenada que estava a um casamento de aparências. Jack Dawson era apenas o que ela precisava para cair fora daquela roubada com aquele repelente Caledon Hockley. Ou seja, o romance deles está bem embasado e não cai do céu. Todos os que se apaixonaram de verdade alguma vez, sabem como isso funciona. Eles eram jovens, estavam movidos por um fogo passional puro e isso acontece aos milhões todos os dias planeta afora. Se a relação deles ia dar certo no futuro ou não, isso é outra questão.

Mas no navio, o romance foi um contínuo em crescendo e as decisões de Kate nada tinham de incoerentes, vistas as circunstâncias. Chegou uma hora em que ela não agüentava mais nem olhar para a cara do Hockley. Chutou o balde! Quantas pessoas não chutam o balde diariamente? Não me parece que seja justo tratar um caso daqueles com depreciação. Uma das pistas de que o filme não é sentimentalmente boboca é que após o triste desenlace do navio e com a morte de Dawson, ela tomou o rumo de sua vida, casou, teve filhos, netos e tudo mais o que teve direito... Com direito, inclusive, a alegres fotos eqüestres sobre o criado-mudo. Ela refez a vida dela porque é o que ela tinha que fazer de melhor, mas é bastante razoável uma pessoa guardar na lembrança para o resto da vida todos os trágicos acontecimentos (e até mesmo com riqueza de detalhes) pelos quais passou naqueles dias e noites fatídicos. Ainda mais quando havia um protagonista que fez o que pode para protegê-la naquela situação. Ela foi sincera quando disse que tudo que tinha dele era a lembrança, mas uma lembrança forte o suficiente para não se apagar.

Sim, o "Titanic" é uma love story, mas não um drama insosso, sem base e sem charme. A relação deles foi bem construída pelo roteiro e, acima de tudo, mantém um interesse agudo do início ao fim. Não acho que tenha havido muita gente nas salas de projeção que não tenha querido saber com ânsia qual seria o desenlace final daquela história em meio a uma catástrofe horrenda daquelas. O "Titanic" de James Cameron é um filme maiúsculo. Um filme dificílimo de ser feito, sob qualquer ângulo que se o analise. O argumento (o mais dramático naufrágio da história) dispensa apresentação e o roteiro foi muito bem escrito e contém a "lógica interna" que o senhor tanto reverencia e exige (há lógica no romance de Kate e Jack)...

A canção de Celine Dion pode ser tola e radialística, mas não apaga o poder, a evocação e a beleza pura da trilha sonora incidental de James Horner. Uma trilha perfeita para o que estava sendo mostrado na tela. A cena (logo após o "I'm the King of the World!!") em que a câmara sobrevoa o navio da proa à popa, com o tema do navio a saudar retumbantemente o que se vê, é soberba. Aquela cena esfrega na nossa cara a grandiosidade da nave e o orgulho humano de ter construído tal maravilha. É uma cena linda... Toda a promoção (justamente) aplicada em cima da superprodução, toda a badalação, todo o marketing, todos os problemas técnicos da filmagem, todas as escaramuças de James Cameron com o resto da equipe, tudo isso se desvanece quando se analisa o resultado final, ou seja, filme em si. Está evidente que o diretor Cameron deu tudo de si nesta produção... Tudo e mais um pouco... Ele se abnegou de tudo em nome desta obra. Jogou toda a força criativa e todo o carinho que tinha em cima deste projeto pretensioso e megalomaníaco. O resultado foi o que se viu. Eu pessoalmente me maravilhei com o trabalho dele. Independente do que esteja por trás das premiações da Academia de Hollywood, penso que poucas vezes o Oscar de melhor filme foi tão justamente para uma produção como quando foi para aquela.

De: Gerbase
Já escrevi antes que Titanic foi uma boa diversão. É romanticóide e açucarado. E a Celine Dion é uma bomba atômica. Mas me diverti. Até me emocionei um pouquinho. Gosto de coisas românticas. Adoro Stendhal. No fundo, sou um cara muito sensível.

De: Daniel Zarhouni
Bah cara todo filme que eu vou ver tu senta o pau, brincadeirinha, gostei muito do teu filme o Tolerância (também gosto dos replicantes), gosto muito de cinema e música, gostaria que você me respondesse (se não fosse muito trabalho) os 5 melhores filmes que você já viu, também naum gosto de filme que tenha muita fria, no hannibal o cara corta a cabeça do outro e o cara continua vivo (será?), também naum gosto daquele filme direitinho, uma história linda, tipo Titanic. Gostaria de uma indicação sua para ir ver no cinema. Filmes que gostei: Dança com Lobos, Último dos Moicanos, Transpotting, Lista de Schindler, Carteiro e o Poeta, e muitos outro que agora naum lembro...

De: Gerbase
Como vocês gostam de listas! Dá uma olhada nos filmes que comentei na seção Favoritos.

De: Andre Augusto Sobreira Bitencourtt
Achei o Trigre e o Dragão normal, tire a superprodução e você tem um filme de kung fu de Hong Kong como muitos outros. Vamos aos problemas:

a) Aquele flashback besta no meio do filme. Achei estranho você não fazer nenhum comentário. Além de estar mal costurado no filme, tira o foco da narrativa principal sem nenhuma justificativa, afinal a filha do governador foge não por amor, mas em busca da liberdade. A prova disso é que ao invés de ir procurar o seu amor, ela vai procurar encrenca. (Aliás nessa sequência do deserto tem uma falha: pelo que sabemos a menina podia facilmente dar um pau no ladrão, porém é dominada com um certa facilidade.)

b) Os vôos na luta. Poderia até ser um aspecto secundário, mas o filme dá bastante ênfase nas lutas e, ao meu ver, o efeito ficou um pouco risível. Acompanhe o meu raciocínio: é muito mais fácil fazer o truque de uma pessoa levitar (basta suspendê-la) do que dar a impressão que ela deu um incrível salto. Eu gosto muito das lutas impossíveis em filmes de kung fu, e a graça justamente é que são impossíveis, como crianças brincando de luta com bonecos... Mas nesse caso não sei se foi equivoco, preguiça, homenagem a super-heróis de quadrinhos, estilismo. Sei lá, as lutas ficaram muito legais, mas aqueles vôos me faziam procurar os fios onde os atores estavam pendurados...

c) Lutadoras feministas na china de mil oitocentos e antes? d) Falsa profundidade e falso espiritualismo: Pô! é apenas um filme de kung fu! Aliás quadrinhos também ficam muito chatos quando os personagens começam a filosofar e passar mensagens.

Enfim, mesmo como uma homenagem aos filmes chineses de luta, não convence. Vale pela fotografia, grandes coreografias de luta (descontados os "vôos") e efeitos especiais de computador que (sabemos que eles estão ali) somem no filme, ao contrário daquele tigre ridículo do Gladiador.

Mas, na verdade eu estou te escrevendo para comentar o Marquês de Sade. Li a tua coluna depois de ver o filme este fim de semana. Apesar das (poucos) respostas serem favoráveis à tua análise, eu tenho que discordar inteiramente. Concordo com o outro cara que diz que você tem que ter motivos muito pessoais para ter gostado tanto do filme. Vamos por partes:

- O começo eu achei muito legal, pensamos que vemos uma relação amorosa e é uma execução, essa introdução ao marquês é bem sacada.

- Então o Kaufman erra feio. O Napoleão é apresentado como uma figurinha ridícula, e a motivação para o "enquadramento" do Marquês, mais ridícula ainda. Parece um daqueles roteiros de filme B, alguém sempre sussurra ao poderoso: "Não vamos fabricar um mártir, vamos destruí-lo...", então podemos ver nosso herói sofrer.

- O pior do filme é o anacronismo, isto é insuportável em filmes de época, as pessoas se comportam como se estivessem em nosso tempo, exemplo perfeito é o abade passando em meio aos loucos que estão alegremente pintando seus quadros e se livrando das neuroses, bem moderninho! E o final, com o "alienista/industrial" e a "faxineira/secretária", falando em interesses multinacionais? É uma crítica ao capitalismo? Uma piada?

- Interessante que Kaufman toma todo o partido de Sade, mas o único sádico legítimo é o Alienista, que é mostrado como o pior dos homens. Então, qual é? Viva Sade, abaixo o sadismo? Aliás, ironicamente, o comportamento de Marquês de Sade é bastante masoquista, não é?

- Os loucos são todos bastante limpinhos, agradáveis e inteligentes (fora o gordão, coitados dos gordões, sempre injustiçados), no geral, não há nem sujeira nem desespero, mas um clima bastante agradável, e olhe que estamos em um sanatório de caridade no comecinho do século XIX.

- O roteiro é muito quadrado, sabemos que vamos ver um filme em que há uma grande harmonia, ela será quebrada pouco a pouco e o final será definitivamente desesperador. Não há salvação possível nem para os bonzinhos nem para o espectador, todos têm que esperar um triste fim.

- Em dado momento nossa heroína, Madeleine, tem que explicar ao abade que lê e gosta de ler o Marquês para fugir da realidade dura em que vive (cadê a dureza, o filme não mostra), e que, pasmem, tem que ser má nas histórias para ser boa na vida real. Bem chinfrim né?

- Nada fica subentendido, tudo tem que ser bem explicado. O alienista é um monstro, estupra orfãs, tortura loucos bonzinhos, é louco por dinheiro, etc. O marquês é super refinado, mostra uma falsa superioridade, mas é super legal com os companheiros louquinhos. O abade é a bondade e a ingenuidade em pessoa, um verdadeiro santo (e gato). Na primeira cena em que estão juntos,e nas demais, só falta um letreiro anunciar que o abade e Madeleine são apaixonados um pelo outro.

- A inveracidade histórica. Não é a história do Marquês de Sade? Para que inventar? Justine foi publicado em 1790, antes dele ser novamente encarcerado, antes de Napoleão e do império, 24 anos antes de sua morte. Aliás, quando ele morreu contava com 74 anos. De onde tiraram essa de arrancar a lingua dele? Eu sei que o diretor e o roteirista queriam passar uma idéia de quem foi Sade, então romancearam (bastante) a vida dele. Eu não concordo, com a vida que ele teve não era necessário inventar nada.

Eu sei que você gostou do filme pelo caráter (pretensamente) libertário. Eu o achei esquemático, voltado para um público médio (que só existe na cabeça de produtor) que não entende nada que não for muito bem explicadinho. Mesmo as boas idéias (a escrita como libertação, a compulsão de escrever, etc) foram inteiramente desperdiçadas. Ficou devendo.

De resto, gosto muito das suas críticas, a do Hannibal estava ótima. Desculpe a torrente de abobrinhas, não é para botar nada na tua página, só estou mandando para dar um feedback.

De: Gerbase
Não tenho mais espaço para responder seus argumentos sobre Os contos proibidos..., até porque alguns deles são muito respeitáveis. Mas, quanto mais repenso o filme, mais o admiro. Então, só pra não fugir da polêmica: a sua idéia de "sadismo" é exatamente aquela do senso comum – desculpe, a mais óbvia, a mais preconceituosa. O que faz o filme? Aponta para um outro Sade, que não é o Sade histórico, nem o Sade esquemático da psiquiatria. É um personagem muito interessante, que precisa libertar suas fantasias – mesmo as mais degeneradas - para viver. O interessante é que há uma multidão de degenerados que estão dispostos a comprar essas fantasias. E alguns cidadãos "morais" que querem calá-lo, de qualquer maneira. Estes não são "sádicos". São apenas uns fdp. É, na verdade, uma história simples, que lida com a moral, mas do ponto de vista da Poética, e não da Ética. Não é pra considerar a discussão encerrada, apenas pra dar um feed-back. Continuamos depois.

De: Cristina L.
Não vi e não gostei nem de Hannibal, nem do Tigre e o Dragão. Já desconfiava dos dois, e como recém-desempregada, quero fazer valer os R$ 10 que vou gastar para a próxima sessão de cinema. Aliás, acho que os últimos R$ 100 foram desperdício. Já Magnolia, De Olhos bem Fechados, Celebridades, maravilhosos, pago para ver duas, três vezes. Leio tuas críticas sempre, sempre concordando. Só discordei da opinião negativa sobre as cenas rápidas de luta do começo do Gladiador – achei que a falta de nexo das cenas, o excesso de rapidez, talvez tenham dado uma noção mínima (ínfima, microscópica) do que eram das batalhas corpo-a-corpo: tá perto, espada nele! E só depois se vê quem ganhou, quem morreu. Creio que as cenas mais tradicionais, em que o espectador percebe quem está "ganhando" (como as do filme do Mel Gibson e seus bundas-de-fora, ou do Henrique V) entregam o desfecho muito mastigado, mesmo quando violentamente reais. Gostaria ainda de ler uma crítica completa do Tempestade de Gelo. Achei muito abacaxi aquele final cristão: o menino precisava morrer? De choque? Por que não se matou logo de uma vez, se era para virar chocar e dramatizar? Quero saber quando teu filme Tolerância sai em vídeo – perdi no cinema. Quanto às regras para mandar e-mail: se fosse você, não publicaria, só por implicância, quem escreve "eh" ao invés de "é". Qual o sentido disso? Se é para digitar dois caracteres, então usem o acento!

De: Gerbase
Escrevi sobre Tempestade de Gelo. Vai lá no arquivo e procura. Ou usa a ferramenta de busca. Também não gosto da morte do garoto, mas o final em si, aquela última cena na estação de trem, é muito boa! Poderosa e concisa. E não é cristã. Lê a crítica e depois falamos mais. Tolerância sai em vídeo e DVD em abril. E até mais.


Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A Gente Ainda Nem Começou e "Fausto"). Em 2000, lançou seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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