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TOPSY-TURVY

Os ingleses e os japoneses tem algumas coisas em comum. Ambos tomam chá, são muito educados, sorriem de uma forma protocolar, são reservados por natureza, não se incomodam com o silêncio, ao invés dos americanos que falam o tempo inteiro, e dirigem do lado esquerdo da rua.

Mas fisicamente eles não se assemelham muito, e na vestimenta, um paleto inglês é bem diferente de um kimono japonês. Topsy-Turvy, o último filme de Mike Leigh, não é sobre as classes baixas da Inglaterra, como seus filmes anteriores: Secrets and Lies (1996) conta a história de uma mulher negra, procurando a sua mãe, e qual não é a sua surpresa ao ver que a mãe é branca.

E o toque especial de seu método de filmagem é que ele reserva a surpresa para os atores também. Neste caso, quando mãe e filha se encontram, a surpresa que expressam é verdadeira, e não ensaiada.

Life is Sweet (1990) conta a história de uma adolecente problemática, e High Hopes (1988) conta a história de famílias com uma baixa renda que vivem em Londres.

Topsy-Turvy conta a verdadeira história de dois produtores de operetas inglesas na época Vitoriana. William Schwenk Gilbert (Broadbent) e Arthur Seymour Sullivan (Corduner). Eles estão cansados do seu estilo anterior e resolvem fazer algo novo, assim como Leigh.

Gilbert e Sullivan se inspiram no Japão e fazem uma opereta onde, ao invés de vestidos ingleses os atores usam kimonos, carregam leques, e têm o rosto pintado de branco.

A direção de arte é fantástica! E como todos os outros filmes de Mike Leigh, ele tem uma carga emocional imensa. Por trás da maquiagem, da pose de diretor de ópera, todos são pessoas comuns, como eu e você, com dramas cotidianos.

E Leigh mostra o drama pessoal de seus personagens. Mas como um bom inglês, ele não poderia deixar de lado o senso de humor. É engraçadíssimo ver os atores fazendo a prova dos figurinos, e reclamando que não subirão ao palco sem um "coset".

Num outro momento, durante um ensaio, três japonesas são convidadas a subir ao palco e demonstrar como as japonesas caminham. O inglês delas é péssimo e consequentemente elas não entendem nada do que Gilbert diz.

O resultado é uma confusão, que é o significado de Topsy-Turvy. Logo em seguida vem as inglesas, imitando as japonesas, caminhando rindo e cobrindo o rosto de vergonha. Mas no final, a ópera acontece e é o maior sucesso.

Assim como o filme. Para quem está em Nova Iorque, dia 14 de fevereiro é o Dia do Santo Valentino, dia dos namorados. Um bom programa é ir assistir ao filme e depois curtir um jantar romântico.

E para quem trabalha muito e só vai poder comemorar na sexta, pode sair para dançar depois do jantar. Eu recomendo o novo clube "Centro Fly", na 45 West 21 street. O clube é imenso, e tem uma área que dá para conversar e comer alguma coisa, o "lounge".

Sexta passada o "lounge" estava fechado porque tinha uma festa privada. Entre os convidados estavam Cindy Lauper e Tricky (do Massive Attack). Todos dançando ao som dos DJs italianíssimos, como a decoração do clube, Fabrizio Carrer e Tommi Todisco. Quase uma ópera.

Topsy Turvy, EUA (1999). De Mike Leigh. Com Jim Broadbent, Alan Corduner, Leslie Manville, Timothy Spall, Ron Cook, Alison Steadman.

Bárbara Kruchin é artista plástica e aficcionada por cinema. Ela é brasileira, mas mora em Nova York desde 1991, onde cursou a School of Visual Arts.

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