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U-571,
A Batalha do Atlântico
De Jonathan Mostow
RAPIDINHO
Filme de submarino clássico, com direito a todas aquelas chacoalhadas das cargas de profundidade, com direito a um prisioneiro fazendo barulho para atrair o inimigo, a manobras em profundidade proibida, a tiros de torpedo fantásticos e a muitos elogios aos corajosos marinheiros americanos. Tudo isso bem roteirizado, bem dirigido e bem montado, de modo que os momentos de suspense funcionam bem, os personagens crescem (principalmente o do imediato) e o público se diverte. Quem disse que uma coleção de lugares-comuns não pode fazer um bom filme? Faltou, quem sabe, um pouco mais de distanciamento e um pouco mais de equilíbrio em relação aos marinheiros alemães (como sempre, mais criminosos que militares) para que U-571 saísse da categoria de filme de mero entretenimento para uma posição mais alta.
AGORA COM MAIS CALMA
Depois do excelente Além da linha vermelha, parece que todos os filmes de guerra têm a obrigação de serem mais que filmes de guerra. O que é uma injustiça. O diretor de U-571 e o seu ator mais experiente, Harvey Keitel, declararam que estavam realizando um sonho de infância, pois desde crianças adoravam filmes de ação com submarinos. E muita gente também adora. Não sou um fã tão exacerbado, mas confesso que algumas seqüências do filme conseguiram me transportar para as velhas matinês vespertinas de seriados, em que torcíamos para que o herói vencesse os vilões sem amassar seu uniforme. Pode parecer pouco, mas fazer uma aventura convincente e emocionante dá trabalho e exige muita tenacidade.
Gostei do trabalho de Matthew McConaughey, num papel complicado: começa como um oficial irritado por não conseguir o comando de um submarino, evolui para um comandante de emergência que não consegue dar ordens e termina como um capitão ousado e inteligente. O roteiro ajuda, mas o ator demonstra força dramática e aquela obstinação meio maluca dos militares convictos de sua utilidade para o mundo. O mesmo não pode ser dito de Bill Paxton, antipático demais no começo e pateta demais na sua depedida heróica. O resto da tripulação defende-se bem, o que não é nada demais para um Harvey Keitel, mas é uma façanha para um Jon Bon Jovi.
O realismo dos cenários é impressionante, principalmente nas externas, o que é complementando por um som de primeira (na sala em que assisti, com sistema DTS, dava pra sentir as anteparas do submarino rangendo com pressão da água). Daqui a alguns anos, pouco restará desse conjunto de emoções, pois U-571 não consegue, em momento algum, estabelecer alguma reflexão (ou, pelo menos, alguma discussão) mais profunda sobre heroísmo, sobre patriotismo ou sobre a própria guerra. É um produto descartável, bem feito, que renderá alguns milhões de dólares para as crianças grandes que brincaram de submarino, como sempre sonharam. E nós sonhamos juntos. Cinema também pode ser apenas isso.
U-571 (EUA, 2000). De Jonathan Mostow
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Carlos
Gerbase é
jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor.
Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A
gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente
finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.
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