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AGORA COM MAIS CALMA É interessante notar que não se trata de um salão tradicional de cabeleireiros, em que as fofocas são muito mais socializadas, em que as mulheres sabem das vidas umas das outras e podem se apoiar (ou se envenenar) mutuamente, como é a tradição brasileira. No Instituto de beleza Vênus, as ações acontecem em pequenas cabines sem janelas, e são relações quase sempre impessoais, inorgânicas, "à francesa". A juventude artificial almejada para a pele já está institucionalizada nas relações humanas. As discussões entre a patroa e as empregadas (inclusive quando uma delas pede demissão) são sempre civilizadas demais, educadas demais, artificiais demais. Angèle, a personagem de Nathalie Baye, descobriu, há muito tempo, que o amor artificial é fácil de obter: basta parar por um tempo na estação de trens, ou sentar na mesa de um homem num restaurante. É como se, a cada amante, ela passasse uma camada de base sobre a pele de seu espírito, escondendo fugazmente suas rugas, suas dores, suas cicatrizes. Mas a base logo se deteriora, e a solidão volta com toda a força. Por isso, quando descobre que há um homem apaixonado por ela, Angèle tem medo. Não sabe como agir. A paixão não faz parte de seu mundo. A bela cena em que Angèle e Antoine (o excelente Samuel Le Bihan) assistem à sedução de Marie pelo velho rico é um resumo de todo o filme. Escondida no jardim, Angèle assiste à derrocada final da inocência de sua jovem colega de trabalho, atraída por jóias e pelo dinheiro (ou seja, pela artificialidade material do mundo). E, em vez de indignação ou fúria, ela sente – finalmente - desejo pelo homem que a ama de verdade. Angèle, 40 anos, de repente percebe que Marie está cumprindo o seu destino, que provavelmente sofrerá por causa disso, mas que cabe a cada mulher e a cada homem sofrer ou gozar solitariamente do seu presente, do seu instante, aqui e agora. E, por isso, decide entregar-se novamente ao amor. Não gosto do final. O suspense criado com a aparição da mulher de Antoine no instituto e na loja promete uma conclusão forte, à altura do realismo de todo o filme, mas é desperdiçado. Se a idéia era confrontar a esperança de felicidade de Angèle com a destruição da felicidade da esposa, então a cena deveria ter conseqüências mais pesadas, como a morte de Antoine. Em vez disso, Tonie Marshall optou por um "happy-end" tradicional, bastante insosso, talvez numa tentativa – frustrada - de transferir a artificialidade da beleza criada pelo instituto para o destino de Angèle (as faíscas que caem do luminoso são os signos dessa tentativa). É uma pena. Durante todo o tempo, Tonie flertou com a feminilidade madura e honesta de Anaïs Nin, para terminar seu filme com uma cena que lembra Madame Delly. Instituto de Beleza Vênus (França, 1998). De Tonie Marshall
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