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RAPIDINHO AGORA COM MAIS CALMA Num primeiro olhar, o enredo e os cenários (cidade pequena, colégio, bailes de adolescentes) lembram Carrie, a estranha, mas esse vínculo é superado rapidamente pela delicadeza da narrativa, muito distante dos maneirismos de Brian de Palma. Por outro lado, Sophia Coppola não quer (ou não consegue) estabelecer uma identificação mais profunda do espectador com o cotidiano das meninas, porque seu drama é observado à distância, por quatro rapazes da vizinhança, que funcionam como narradores desde o início do filme. Este artifício tem conseqüências positivas - permitindo uma reflexão poética, tranqüila, quase nostálgica (eles contam a história conscientes da tragédia final) sobre os fatos – e negativas, "esfriando" a trama e esvaziando a dor das meninas. Provavelmente foi uma escolha consciente da diretora, que assim fugia, sem dúvida, de um enfoque demasiadamente feminista. O roteiro privilegia uma das garotas - Lux Lisbon, a mais bela, a mais provocante, interpretada pela diabólicamente angelical Kirsten Dunst - e conta a história da perda da sua virgindade. Um novo personagem, colega de escola e desejado por todas as meninas da cidade, é introduzido para fazer o serviço. O ator, Josh Hartnett, é competente, vem acompanhado de três amigos igualmente verossímeis, e toda a cena do baile e da transa é bacana; contudo, de repente, os quatro rapazes narradores ficam muito distantes dos acontecimentos, só conseguindo retomar sua força dramática nas últimas cenas. Talvez uma maior condensação de personagens tornasse As virgens suicidas um filme mais poderoso, mais emocional, mais intenso, sem perder o clima poético que a diretora claramente persegue e obtém. Uma última palavra sobre Kathleen Turner, a maravilhosa atriz que fazia a temperatura subir até o ponto de ebulição naquela banheira de Corpos Ardentes (1981). Ela está magnífica como a mãe das virgens, e seu desempenho é tão desglamurizado que chega a ser assustador. "Ela está velha...", provavelmente vocês estão pensando, mas o cinema tem ferramentas muito eficientes para vencer, ou atenuar, vinte anos de deterioração física. Nesse mundinho de aparências fúteis, de plásticas, silicones e rostos que parecem estar conservados num balde de formol, ver Kathleen Turner, em Virgens Suicidas, com todas as rugas a que tem direito, é uma lição de vida. Da fragilidade da vida. E de como um filme, dirigido por uma mulher, pode desmontar, sem alarde, a equivocada visão masculina da eternidade das musas do cinema. As Virgens Suicidas (EUA, 2000). De Sophia Coppola
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