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Western Western, dirigido por Manuel Poirier Western, filme francês vencedor do prêmio do júri em Cannes em 1997, foi lançado no Brasil com o título Bom Dia França, antes de ser lancado em Nova Iorque. Ponto para os brasileiros! Assim como ser estrangeiro faz com que a gente possa interpretar a cultura de um outro país com um olhar mais rico e crítico, ver um filme francês nos Estados Unidos faz com que a nossa visão desta terra fique mais aguçada. Quem viu o filme sabe que ele é lindíssimo visualmente. Ele é todo filmado na Bretanha. Poirier escolheu esta região no oeste francês porque ela luta por manter a sua identidade cultural contra a pressão de uma uniformidade nacional. Em termos espirituais, ele também é lindíssimo. Ele mostra a amizade entre as pessoas simplesmente porque elas gostam umas das outras, e não porque estão prestes a morrer na segunda guerra mundial como em Saving Private Ryan - novo filme de Spielberg que eu ainda não vi. Western é também um filme de amor, mas não o amor holiwoodiano. Nathalie tem cinco filhos e é solteira. Ela se apaixona por Nino, um Russo que está "on the road" pela França por vergonha de encarar a família desde que sua noiva francesa desapareceu de sua vida um mês antes do casamento. Eles fazem amor na primeira vez que ele vai jantar na casa dela e os filhos não estão, e ela convida-o para morar com ela. E eles vivem felizes para sempre, mas é facil de acreditar. Já com finais holiwoodianos... eles funcionam na tela. Nos Estados Unidos existe um livro chamado The Rules - é um livro de como capturar o marido ideal. A maioria das mulheres americanas conhecem o livro, e se não seguem "as regras" (que incluem: não aceite um convite para sair no sábado se o cara ligar depois de quarta-feira, se você tem cerca de 39 'r melhor esperar um ou dois meses antes de transar) acham que este é o motivo do fracasso da relação. A diferença entre os Estados Unidos e o filme de Poirier é que Poirier se considera um utópico realista e os Estados Unidos tentam uma utopia fora da realidade. O problema não é se o Presidente transou ou nao, mas se ele mentiu. Quem tem que se preocupar se ele mentiu ou não é a esposa dele. Parte de ter um affair é não contar a verdade ou mentir. Mas os Estados Unidos tem esta visão utópica de que as pessoas são boas e puritanas, e mentir sobre uma coisa íntima pode ser causa de impeachment para o cara que fez Rabin e Arafat se encontrarem. O que causa preocupação é que esta utopia fora da realidade cria monstros que entram na Rotunda com pistolas e matam, entram no trem com um rifle e matam, criam cadeias cibernéticas que fazem pactos de suicídio coletivo. No filme de Poirier, os personagens são mais verdadeiros. Quando eles sofrem por amor eles são homens e choram. Provavelmente isto ajuda para que não se criem monstros. Sobre a questão de como o país trata as minorias, ao invés de mostrar um branco, um preto, um asiático e um índio simplesmente porque desta maneira existe uma utopia que todas as raças viverão felizes para sempre, como é comum nos Estados Unidos, os franceses optam por mostrar a realidade. Ha dois anos atrás o filme Le Haine mostrava a realidade de como a polícia trata mal as minorias. Quanto a Western, nas palavras de Poirier, os personagens são "um Russo, um Catalão, um Africano, brancos que podem rir juntos. Não é a realidade do país, mas é uma realidade. Ela existe, então é menos utópica. Mas talvez seja a utopia que tenha me dado condições de fazer o filme". Nota sobre a utopia de fazer um filme: Poirier tinha 40 anos quando o seu primeiro filme foi lançado, e mesmo assim ele foi o seu próprio produtor, ele tinha grana para fazer só uma cópia do filme. As pessoas certas viram, as portas se abriram, e desde lá ele fez três filmes mais. Western ganhou o prêmio da crítica do festival de Cannes de 1997. Ele largou a escola quando tinha 16 anos, trabalhou como tudo, e quando ele não conseguiu nenhum patrocínio para o roteiro de um outro filme seu (Antonio's Girlfriend), ele se deprimiu e saiu de Paris e foi morar num vilarejo na Normandia. Quando ele foi buscar leite na casa de uma fazenda vizinha ele viu uma entrevista com um cineasta falando sobre o sucesso do seu último filme na TV. Isto lhe deu uma energia para continuar tentando. Que bom que ele nao desitiu. Western, França, 1997. De Manuel Poirier. Com Sergi Lopez e Sacha Bourdon. Bárbara Kruchin
é artista plástica e aficcionada por cinema. Ela é brasileira,
mas mora em Nova York desde 1991, onde cursou a School of Visual Arts.
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