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Filme: Garotos Incríveis
De: Daniel Magérbio
Li sua coluna sobre o filme Garotos incríveis. Eu não sabia bem o que estava me decepcionando no filme, mas aí prestei atenção às suas colocações e concordei com elas. O negócio é que eu tinha assistido a Los Angeles, cidade proibida e realmente esperava outro filmão cheio de revelações, e recebi um filme com ritmo lento e com nenhuma surpresa.
Mas eu acho que você se enganou em alguns pontos. O personagem do Michael Douglas desmaiou por causa de um comprimido que ele tomou junto com bebida (e que o personagem do Tobey também tomou, e por isto ficou "chapado" dentro do carro), e não por causa da maconha. Realmente dá pra ver que o fato de ele criar o livro em máquina de escrever, e principalmente levar a única cópia dentro do carro, serviu apenas pra mostrar mais à frente ele perdendo as folhas, mas acho que, se ele escrevesse num computador, também poderia se mostrar seu livro perdido, numa queda de energia ou computador molhado.
E também o personagem não fica sem encontrar o final do livro por causa da maconha, pois ele mesmo responde à aluna: "... pois fique sabendo que eu escrevi meu livro de sucesso totalmente chapado, e inclusive fui receber a premiação totalmente chapado também". Certos personagens são dispensáveis, como o faxineiro, e aquele James Brown ridículo, que numa cena pateta dá uma "bundada" no capô do carro.
Por outro lado, deu pra perceber certa ternura naquela história do casaco de peles da Marylin Monroe, e como ele caiu bem naquela garçonete "sem glamour". Meio uma mensagem de como não se deve guardar as coisas, e sim deixá-las a novos repositários. Não sei se me fiz compreender. Enfim... É muito pouco. Faltou maior empenho do roteirista e do diretor. Talvez numa volta ao gênero policial (se bem que L.A. só se faz uma vez) o Curtis volte ao seu nicho natural.
De: Gerbase
O personagem do Michael Douglas não desmaia uma só vez no filme. São, pelo menos, três desmaios, cuja origem o filme não esclarece bem. Tanto que eu interpretei de um jeito e você de outro, enquanto o Rodrigo Ramiro (logo aqui em baixo) afirma que a causa é "a má alimentação e o fato do personagem não dormir bem". Vamos convir que a confusão é grande.
Não estou cobrando uma explicação cartesiana, mas é que me incomodou a forma moralista como a droga é apresentada (moralismo que se completa e se manifesta muito mais explicitamente no final). O fato do escritor negar que a maconha seja a responsável pela sua dificuldade em achar um final para o seu livro não significa que o filme, como um todo, negue este fato. Na minha opinião, o filme concorda com o "diagnóstico" da aluna.
No fundo, em Garotos incríveis a droga funciona como uma espécie de símbolo da irresponsabilidade adolescente do personagem de Michael Douglas. Não gosto desse tipo de simbologia, a não ser que ela funcione dentro da trama. E como ela funciona? Mal. Ou, pelo menos, confusamente. Quer outra coisa que não me convence? Aquela arma, portada pelo Tobey, parece estar em seu poder unicamente para que ele mate o cachorro. Porque um garoto daquele tipo – sensível e inteligente – andaria armado? Mas concordo com você que a cena com o casaco da Marilyn é boa, assim como o destino final do casaco.
De: Rodrigo Ramiro
Concordo que o final deste filme é um lixo. O filme tem vários momentos positivos como: a brincadeira com o dublê de James Brown, a atuação do Robert Downey Jr., a tentativa (nem sempre feliz, mas válida) de fugir dos estereótipos dos filmes comerciais americanos, as cenas do cachorro perseguindo o amante da dona, a força da Frances McDormand como a amante grávida em conflito entre a segurança do marido e seu amor pelo amante e o tratamento dado à maconha e ao homossexualismo.
Não concordo que a maconha seja responsável pela má saúde e pelo "bloqueio" que o personagem do Michael Douglas sofre. Os desmaios do personagem foram, em algum momento do filme, relacionados com a má alimentação e com o fato do personagem não dormir bem e não com a maconha. Sobre o "bloqueio", a menina tinha uma teoria que eu não percebi como uma verdade a ser aceita, e não acho que esta era a intenção do diretor. É um filme agradável, porém o final é muito decepcionante e só poderia ficar pior se o personagem do Robert Downey Jr. fosse "curado" da sua homossexualidade.
De: Gerbase
Já falei sobre a maconha. Concordo em relação à tentativa de fuga dos estereótipos. Nisso, a direção do filme me parece muito segura. Todos esperavam do diretor de Los Angeles, cidade proibida mais um filme noir. E ele não só trocou de gênero, como fez questão de procurar outro ritmo, outra forma de narrar e outro tipo de elenco. Demonstrou coragem e coerência. Infelizmente, todas estas experimentações estão envoltas num moralismo infantil. E o final, assino em baixo, é um lixo.
De: Mauricio Bumba
Me impressionei quando esse filme teve péssimo desempenho nas bilheterias americanas. Eu culpei a má distribuição, o depto. de marketing e tudo o mais. Aí relançaram e o filme também não decolou. E agora você diz, como muita gente, que não gostou do novo filme do criador de um dos maiores clássicos do cinema noir? Essa me preocupou. Vou assistir essa semana e depois te falo. Ate lá estarei aqui me mordendo de curiosidade. A propósito, dizem que o livro que inspirou o filme é muito chato. Onde Curtis Hanson estava com a cabeça?
De: Gerbase
Não sei. Se fosse um filme bem comercial, diríamos que ele estava pensando no dinheiro. Mas não é o caso. É um filme autoral, sem dúvida. Alguma coisa deve tê-lo atraído no livro chato, assim como o atraiu no livro maravilhoso que deu origem a seu filme anterior. São misteriosos os desígnios da criação cinematográfica. Vamos esperar o próximo pra tirar a prova dos nove.
De: Renato Doho
(...) Uma pena, mas não vi Tolerância no Festival Do Rio. Não dava o horário. Mas verei, ou em Sampa, ou quando entrar em circuito, com certeza. Só não gostei muito do cartaz que vi em alguns cinemas, a Maitê de liga-cinta. Me pareceu meio apelativo. Foi sua idéia?
De: Gerbase
Relendo as cartas da semana passada, reparei que não respondi à pergunta do Renato. A concepção do cartaz de Tolerância (foto da Maitê, acompanhada das outras imagens) é da produção do filme, com aprovação da Columbia (distribuidora) e minha. Acho bem apelativa, no melhor sentido do termo: um apelo forte para as pessoas irem ao cinema. O mais importante do filme é a sua história e a maneira como é narrado, mas fica muito difícil sintetizar isso num cartaz. Assim, a opção foi concentrar a publicidade sobre a personagem central do filme, vivida pela Maitê, num momento de sedução, o que é parte fundamental do enredo. Os americanos usam, há mais ou menos oitenta anos, uma estratégia chamada "star-system" para levar público aos cinemas. O Brasil também tem seus astros e estrelas, e a Maitê é uma delas. O cartaz é tão apelativo quanto o de Beleza americana, com aquela menina na banheira de rosas, ou o de qualquer filme da Sharon Stone. E até mais.
Garotos Incríveis (Alemanha/EUA/Reino Unido/Japão, 2000). De Curtis Hanson
Carlos
Gerbase é
jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor.
Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A
gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente
finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.
Índice de colunas.
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