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DÊ
SUA OPINIÃO (OU CALE-SE PARA SEMPRE)
Filme: Os
Três Zuretas
De: Gerbase
Estou respondendo a algumas mensagens atrasadas sobre filmes que comentei
nas últimas semanas. Acho que, daqui por diante, continuarei dando prioridade
às réplicas da última coluna, mas abrirei mais espaço para quem vai ao
cinema na segunda ou terceira semana de exibição do filme. De acordo?
Mas, por favor, não vamos voltar à Bruxa de Blair...
De: Keli Boop (sobre Os Três Zuretas e a carta da semana passada)
Achei interessante e forte o seu comentário sobre a tal da esperança,
q prá vc é papel dos governantes e dos líderes religiosos e não da arte,
do cinema. Concordo, em parte. Mas penso q os governantes não têm q "dar
esperança", têm q concretizar e realizar coisas. Os líderes religiosos,
e suas respectivas religiões, não têm que "dar esperança", mas fazer despertar
nas pessoas alguns sentimentos, como a compaixão - palavra considerada
piegas no mundo ocidental. Penso q esses caras, desempenhando as suas
funções, estarão, indiretamente, "dando esperança" para q o mundo fique
um pouco menos pior. Bom, mas fiquei foi sem entender nada quando resolvi
dar uma olhada na sua crítica sobre Os 3 Zuretas (q nome mais engraçado).
Ali vc diz q 3 Z "nos ensina q o cinema ainda pode surpreender, comover
e NOS FAZER ACREDITAR NO FUTURO DO HOMEM, aquele ser q um dia foi criança,
sofreu, cresceu, amou, odiou, mas q ainda conserva, em algum cantinho
da alma, a capacidade de ser feliz."
A tal esperança, a qual eu me referia em Nora, é esse acreditar no futuro
do homem, ao qual vc se refere; é ter fé, aqui no sentido de confiança;
é crer, é acreditar numa existência individual e coletiva melhor para
a humanidade, é acreditar q, de alguma forma, é possível ser feliz. Nesse
sentido, acredito q a arte, e especialmente o cinema, quando consegue
nos "dar esperança", ou nos "fazer acreditar no futuro", tem um papel
importante e, de certa forma, revelador. Não quero dizer com isso q "dar
esperança" é condição "sine qua non" para q o cinema e/ou a arte cumpra
a sua função e continue existindo. Antes de tudo (como vc mesmo disse),
ele tem q emocionar, instigar, perturbar o espectador e, em alguns momentos,
ser, de maneira sútil e inteligente, uma espécie de um fio de Ariadne,
sem ser proselitista, e por que não? Perfeito quando é tudo isso ao mesmo
tempo agora e ainda consegue a proeza de divertir o cara q paga o ingresso.
De: Gerbase
A Keli me pegou numa bela contradição. Assumo e tento me defender. Quando
critiquei o final feliz de Instituto de Beleza Vênus, além de expor
minha opinião geral sobre "finais felizes", também argumentei
que a última cena, de certo modo, trabalhava “contra” o filme, pois este
era uma reflexão bastante amarga sobre pessoas solitárias e sem perspectiva
de felicidade. O final "esperançoso" me pareceu artificial.
Já Os Três Zuretas, com seu otimismo nostálgico, ao mesmo tempo
belo e triste, é um filme de natureza muito diferente, e merece ter um
final mais pra cima, mais humanista, mais positivo. Tudo isso, é claro,
não me redime da contradição. Mas, pensando bem, não é melhor raciocinar
sobre cada filme, um de cada vez, respeitando universos tão distintos,
em vez de simplesmente seguir determinadas regras estéticas ou políticas?
Que cada filme tenha a sua leitura. (Atenção!, caros leitores, aqui fala
Gerba, o primeiro crítico de cinema esquizofrênico do planeta!)
De: Fernando Vasconcelos (sobre Os Três Zuretas)
Emocionante o seu texto sobre o filme Os 3 Zuretas. Não vejo a
hora de assisti-lo e ver a reação da molecada. Infelizmente, acho que
o filme não vai ser um sucesso... Em tempo: proibi meus sobrinhos (que
passam as férias comigo) de assistir Xuxa Popstar. É a volta da
ditadura! Censura a essa gangue do mau gosto e da erotização precoce!
De: Gerbase
Apesar de concordar, em tese, com o Fernando, em relação ao mau gosto
e à erotização precoce, sou radicalmente contra a censura. Querem ver
Xuxa Postar? Que vejam. Mas que também vejam outras coisas, como Os
Três Zuretas e Menino Maluquinho. É claro que trata-se de uma
batalha inglória, porque para cada espectador de Os Três Zuretas
existem milhares de espectadores de Xuxa. Assim funciona o mercado e assim
caminha a humanidade. Quem vai impedir os sobrinhos do Fernando de consumir
Pokémons e Xuxa na TV? Ninguém. Acredito que a única alternativa é uma
educação visual mais completa, uma abertura estética maior para as crianças,
através da TV a cabo, da Internet, de filmes que saem do esquemão. Ou
será que não?
De: Ramón Vasconcelos (sobre Os Três Zuretas)
Valeu cara, gostei pra caramba do seu texto e apesar de não conhecer o
diretor, nem a película, acho que pude sentir um pouco do cheiro do filme.
Você escreveu de forma elegante, é isso aí!
De: Gerbase
Muito obrigado. Como todos sabem, há várias experiências de "cinema
olfativos" (inclusive no último Festival do Rio, se não me engano
com o filme de John Waters). Mas é a primeira vez que ouço falar de "crítica
olfativa".
De: Mariângela Maccari Lopes (sobre As Panteras)
Concordo que o filme é descartável, por isso mesmo cumpre sua missão.
Também preferiria que elas sacudissem menos a bunda, os peitos e os cabelos,
mas aí não seriam mulheres, seriam qualquer outra coisa, provavelmente
homens, que felizmente, nunca precisam sacudir peitos, bundas ou cabelos
para atuarem, mesmo quando são péssimos atores. Na pior hipótese, precisam
de um rosto interessante (que também não precisa ser bonito - o que é
o bonito?). Acho que a falta de verdade de As Panteras está em que aqueles
personagens estão completamente fora do contexto em que estamos habituados
a ver os personagens femininos. Então, tudo vira apelação. As caras e
bocas que todos acham maravilhosas no Arnold Schwarnager, Silvester Stallone,
etc., etc., etc., são falsas ou ridículas na face de uma mulher. Até porque,
pensando melhor, estes senhores não tem nenhuma expressão, e aí, até o
sorriso das senhoras também desagrada na tela.
Parece-me que a mensagem é a seguinte: em filme de ação, as mulheres mantenham-se
em sua insignificância fazendo o papel da vítima a ser salva (com direito
a gritinhos, que lhe caem bem), ou da namorada do mocinho (também com
direito a gritinhos, sorrisos e frases imbecis e sem nenhum humor); limitem-se
a qualquer papel de acordo com o papel que se espera de mulheres, não
ousem mais, porque tudo fica falso. Deixem os músculos, as lutas, as aventuras,
as cenas de companheirismo, as frases de humor e os risinhos de canto
de boca para os rapazes, porque eles sim são naturais, fortes, naturalmente
belos, e podem mostrar peitos, bundas, coxas sem serem apelativos.
De: Gerbase
Mariângela, a sua carta acaba de ser eleita a melhor carta do mês!
E sem apelação! Só uma mulher é capaz de brandir argumentos tão devastadores
e manter tamanho bom humor. Todo o poder para as mulheres! E, daqui por
diante, podem sacudir o que quiserem.
De: Djair Pacheco (sobre Instituto de Beleza Vênus)
Arrombaste! Não tenho muito a acrescentar depois desta crítica, a não
ser que adorei este filme e, mesmo reconhecendo que o final feliz que
ele arranjou foi meio artificial, saí do cinema satisfeito e de bem com
a vida.
De: Gerbase
Obrigado. Ao contrário do que pensa a Carina (próxima carta) também gosto
muito de sair do cinema satisfeito com o filme a que acabo de assistir.
De: Carina Dourado (sobre Alta Fidelidade)
Li sua crítica depois que cheguei do cinema e tinha ido assistir Alta
Fidelidade. Antes, li uma crítica boa, com 10 motivos pra ver o filme.
Ainda bem que não tinha lido a sua antes. Eu sei q vc tem um curriculum
vitae de dar inveja a qualquer estudante de jornalismo (como eu), mas
acho que você está perdendo uma coisinha como crítico: sensibilidade pra
saber do que o público vai gostar, e não do que você gosta.
Minha opinião e de mais 2 pessoas que conversei no cinema depois do filme:
o roteiro é muito bom, os atores são muito bons (o gordinho que trabalha
na loja e o magrinho, vai falar que não interpretaram bem?), até mesmo
a fotografia do filme é muito real. Quando você diz que tudo está concentrado
demais em Rob... acho que foi infeliz. Claro que teria que estar concentrado
nele, ele é o personagem principal de uma história em que ele é o narrador.
Portanto, o filme todo a gente vê sob a visão dele. Seria o mesmo que
dizer que Holden Caulfield, de "O Apanhador no Campo de Centeio",
estaria sendo egocêntrico demais. Pô, não é ele que conta a história toda?
Não são os sentimentos dele que a gente percebe no livro? Tá. Tudo isso
só pra dizer que EU GOSTEI DO FILME. Até a próxima.
P.S.: E vou assistir ao seu filme. Boas críticas, meu caro. :)
De: Gerbase
Carina, confesso que, como diretor, durante o processo de realização de
um filme, eu tento ter uma certa "sensibilidade pra saber do que
o público vai gostar", e não do que eu gosto. Confesso também que,
caso as duas coisas sejam conflitantes, ficarei sempre com meu gosto pessoal.
É um defeito que tenho, e talvez seja muito tarde para corrigi-lo. Mas,
realmente, na condição de cineasta, me preocupo com o público. Quero que
o público se emocione, se divirta, se incomode, que reaja de alguma maneira!
Eu preciso do público!
Agora, quando faço uma crítica, desculpe a falta de delicadeza, ESTOU
ME LIXANDO PARA O GOSTO DO PÚBLICO! O público, eventualmente, gosta de
coisas horrorosas, consome todo tipo de lixo e ignora filmes ótimos. O
público tem critérios altamente voláteis, muitas vezes indefensáveis e
tremendamente influenciados pela mídia para gostar ou não gostar de um
filme. Como crítico, meu único compromisso é com MEU gosto e com o texto
que deve apoiá-lo. É claro que um crítico também precisa de leitores,
mas jamais orientarei minha leitura de um filme pela leitura do público.
Prefiro muito mais discutir leituras alternativas, como estamos fazendo
agora. Para que serve um crítico se o seu gosto é um xerox do gosto da
maioria? Só pra ocupar espaço em jornal e copiar os “releases” das distribuidoras.
Quanto às suas opiniões: também gosto da fotografia, também gosto da maioria
dos atores coadjuvantes e também acho que o personagem principal tem que
aparecer bastante, MAS ELE NÃO PRECISA CONTAR A HISTÓRIA daquele jeito
tão didático e narcisista. Não gosto do roteiro. Acho óbvio demais e meio
sem graça. Mas... sou fã do Frears e tenho certeza que ele ainda vai nos
dar muitas obras-primas. E aqui vai minha lista de 5 motivos para ser
crítico de cinema:
(1) ter uma excelente desculpa para ir ao cinema de tarde, num dia de
semana;
(2) poder dizer exatamente o que se pensa de um filme horrível, sem o
risco de brigar com os amigos que gostaram;
(3) poder dizer agora o oposto do que eu disse antes;
(4) ver um filme idiota, sabendo que eles é idiota, mas que a crítica
vai ficar bem legal;
(5) responder as cartas dos leitores que ficam indignados com as críticas.
E até mais.
Os Três Zuretas (Brasil, 2000). De Cecilio Neto
Dê sua opinião ou cale-se para sempre
Carlos Gerbase é
jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor.
Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A
Gente Ainda Nem Começou e "Fausto"). Em
2000, lançou seu terceiro longa-metragem,
Tolerância,
com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.
Índice de colunas.
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