Acusações ameaçam campanha de Uma Mente Brilhante

Segunda, 11 de março de 2002, 19h39

A menos de duas semanas para a festa de entrega do Oscar, Russell Crowe e o filme protagonizado por ele, Uma Mente Brilhante, receberam um prêmio de Hollywood, mas o filme está começando a gerar polêmica.

O prêmio foi dado pelo sindicato de atores, que elegeu Crowe como o melhor intérprete do ano por seu trabalho no filme biográfico do prêmio Nobel de matemática, John Nash, em sua luta contra a esquizofrenia.

Um dia antes, o diretor Ron Howard também recebeu um prêmio do sindicato de diretores. Esses prêmios são indícios da vitória do filme na entrega do Oscar, no próximo dia 24 de março, principal premiação cinematográfica para a qual Uma Mente Brilhante têm oito indicações, incluindo a de melhor filme.

No entanto, à medida que a vitória se aproxima, aumentam as acusações contra esta pseudobiografia, por ocultar informações sobre o prêmio Nobel.

As principais acusações são em relação à omissão das tendências homossexuais deste gênio matemático que lutou contra a esquizofrenia durante 35 anos.

Uma Mente Brilhante é considerada uma história de amor onde a relação entre Nash e sua esposa, Sylvia Nasar, se converte em sua principal defesa contra a loucura, porém o filme não conta sobre seu divórcio, apesar de terem voltado a viver juntos depois.

O filme também esconde sua relação com a enfermeira Eleanor Stier, com quem teve um filho que, aparentemente, nunca foi reconhecido. Todas essas acusações, assim como os supostos comentários anti-semitas do matemático, foram divulgadas pelos meios de comunicação, especialmente após o anúncio das indicações deste filme ao Oscar.

Segundo fontes de Universal Studios, que produziram o filme, está é uma campanha de "guerra suja" para impedir a vitória de Uma Mente Brilhante. "É uma enorme falta de respeito. Todos os limites estão sendo ultrapassados. Produtores que fizeram um trabalho honesto sem pensar em nenhum prêmio estão tendo que defender suas intenções", disse à imprensa a presidente do Universal, Stacey Snider.

Segundo ela, estes ataques estão sendo dolorosos não só para os produtores do filme, mas também para o próprio Nash. "Um homem de 73 anos, que viveu um inferno e que nos deu acesso à sua vida não deveria sofrer estes ataques", afirmou.

"Tirar declarações fora de contexto, coisas que foram ditas quando está provado que ele sofria de esquizofrenia, me parece vergonhoso", acrescentou. Segundo Sylvia Nasar, autora do livro no qual foi baseado o filme, os comentários anti-semitas fazem parte de um de seus surtos de loucura, quando ele acreditava estar em uma prisão e, além de se sentir ameaçado pelos judeus, pensava que era o messias ou o rei da Antártida.

No entanto, estes comentários podem acabar prejudicando a campanha de Uma Mente Brilhante no Oscar e não faltam exemplos de que isso é possível. O mais recente ocorreu há dois anos com o filme Hurricane - O Furacão, biografia do lutador de boxe negro Rubin "Hurricane" Carter, segundo o filme acusado injustamente de assassinato.

O filme de Norman Jewison recebeu várias indicações ao Oscar, antes de uma campanha levantar algumas questões com relação a essa biografia, o que fez com que o filme concorresse apenas na categoria de melhor ator, com Denzel Washington, que acabou perdendo a disputa.

Com campanhas de milhões de dólares para a obtenção do voto dos cerca de 6.000 membros da Academia, muitos pessoas vêem semelhanças entre esta disputa e as lutas políticas. A Miramax, que defende nesta edição o filme Entre Quatro Paredes, indicado a cinco categorias incluindo a de melhor filme, foi acusada como a possível instigadora destes rumores difamatórios na imprensa, acusações que foram negadas com veemência.

Efe