Domingo, 23 de março de 2003, 09h58
Guerra pode provocar ausência de diretores estrangeiros no Oscar
Entre os cinco diretores dos filmes que concorrem ao Oscar de melhor filme estrangeiro, três não compareceram à reunião realizada em Los Angeles ontem à noite, por motivos relacionados à guerra.Os filmes que concorrem ao prêmio são: o mexicano O Crime do Padre Amaro, o chinês Hero, o finlândes O Homem Sem Passado, o alemão Nowhere in Africa e o holandês Zus & Zo. Apenas o mexicano Carlos Carrera e a holandesa Paula van der Ost foram a Los Angeles. O diretor finlandês Aki Kaurismaki anunciou, há alguns dias, que não iria a Los Angeles em protesto à invasão americana no Iraque. "Não estamos vivendo os momentos mais gloriosos da história da humanidade. Portanto, nem eu, nem ninguém da Sputnik Ltd., pode participar da festa do Oscar enquanto o governo dos EUA prepara um crime contra a humanidade, por vergonhosos interesses econômicos", afirmou o diretor em uma carta à Academia. Sobre a presença do chinês Zhang Yimou, foram divulgadas versões contraditórias. O presidente do comitê, encarregado da seleção de filmes estrangeiros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Mark Johnson, afirmou que Zhang estará presente no domingo na cerimônia de entrega, mas que não pôde chegar para a reunião por problemas no transporte aéreo mundial, gerados pelo guerra. No entanto, a imprensa chinesa divulgou que Zhang declarou que "a guerra provoca o derramamento de sangue e a morte. Como posso comparecer a uma cerimônia em um elegante traje de gala e sorrindo?". Mark Johnson também esclareceu a ausência da diretora alemã Caroline Link que, segundo ele, teria sido conseqüência de "uma emergência pessoal", que teria obrigado Caroline a permanecer na Alemanha. A situação internacional provocada pela invasão americana no Iraque foi praticamente ignorada pelos representantes dos filmes selecionados. Foram grandes as dificuldades enfrentadas pelos cerca de 500 membros da Academia, encarregados de selecionar os filmes, para escolher os cinco, entre os 54, que iriam concorrer ao prêmio. "Este ano foi produzida uma grande safra de filmes estrangeiros de qualidade. Quinze filmes poderiam ter sido facilmente escolhidos, enquanto nas outras categorias só há metade desse número com similar qualidade", disse Jonhson. Ele citou o caso do espanhol Pedro Almodóvar, Fale com Ela, e do mexicano Alfonso Cuarón, E sua Mãe Também, como filmes que inexplicavelmente não tinham sido selecionados por seus países para representá-los em Los Angeles. Foi um grande ano para os filmes estrangeiros", resumiu. Diante do quase um milhão de pessoas ávidas para saber detalhes sobre seu filme, o diretor mexicano Carrera destacou os obstáculos impostos no México - desde a produção do filme até sua exibição nas salas de cinema -, que teriam sido motivados pelo caráter polêmico da história. Carrera disse que grupos católicos conservadores chegaram a ameaçar colocar bombas nos cinemas que exibissem O Crime do Padre Amaro, apesar de o filme ter se tornado um grande sucesso de bilheteria no México e no exterior. O diretor citou ainda as dificuldades enfrentadas pelos cineastas mexicanos na produção de filmes no país, onde foram produzidos apenas 13 em 2002, mas ressaltou a existência de uma rica fonte de talento, graças ao trabalho de gerações anteriores. Leia mais: » Terra faz cobertura ao vivo da premiação do Oscar » Candidatos ao Oscar criticam a guerra » Oscar será realizado em versão discreta, sem tapete vermelho
EFE
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