Segunda, 24 de março de 2003, 05h00
Oscar vira palco de manifestações contra a guerra no Iraque
» Confira a lista completa dos vencedores » Oscar comemora 75 anos com surpresas e discursos políticos » Assista ao vídeo dos discursos » Veja as fotosA Academia prometeu e cumpriu: por conta da guerra no Iraque, a 75ª edição do Oscar teve um tom mais sombrio e muito menos glamour. A decisão afetou, inclusive, um dos momentos mais tradicionais da festa: o tapete vermelho, que acabou reduzido para dentro do teatro Kodak. Os protestos contra a ação das forças aliadas no Oriente Médio, porém, não foram contidos. O ator mexicano Gael Garcia Bernal, intérprete dos filmes O Crime do Padre Amaro e E Sua Mãe Também, foi o primeiro artista a manifestar sua opinião. "A possibilidade de paz no mundo não é um sonho, é uma realidade", declarou, antes de chamar Caetano Veloso e Lila Downs ao palco para cantar Burn it Blue, concorrente na categoria de melhor canção por Frida. O diretor norte-americano Michael Moore, que levou o prêmio de melhor documentário por Tiros em Columbine, fez, sem dúvidas, o discurso mais contundente da noite. Ele chamou ao palco os diretores concorrentes na categoria que disputou e pregou: "nós gostamos de realidade e vivemos em tempos fictícios. Vivemos em um tempo onde temos resultados eleitorais fictícios que elegeram um presidente fictício", disse, referindo-se à confusão na apuração da eleição presidencial de 2000, entre Al Gore e George W. Bush. "Nós vivemos em uma época onde temos um presidente que nos manda para uma guerra por motivos fictícios, seja a ficção da fita adesiva ou a ficção de alertas laranjas. Nós somos contra esta guerra, senhor Bush, vergonha", dizia, no momento em que teve seu microfone cortado para a entrada da música. A reação da platéia ficou dividida: enquanto alguns aplaudiram em pé a ousadia do diretor, outros vaiaram. Susan Sarandon decepcionou quem esperava algum discurso político inflamado de sua parte. A atriz, conhecida por defender causas humanitárias, apenas fez o sinal de paz e amor antes de apresentar uma das categorias. Mas Adrien Brody, eleito o melhor ator por viver justamente um sobrevivente do holocausto em O Pianista, veio na seqüência para "tapar" o vazio deixado por Sarandon. Depois dos agradecimentos pessoais, o ator pediu para a orquestra interromper a música que encerra (ou corta) as declarações dos vencedores e fez um o discurso mais belo da noite. "Sinto tristeza por aceitar este prêmio num tempo estranho. Este filme me deu a consciência do que realmente é uma guerra. Se você acredita em Deus ou Alá, não interessa. Peça apenas para que ele cuide de nós e reze para que isso tudo se resolva". Antes de descer do palco, o ator ainda mandou um recado para um amigo que está combatendo no Kuwait: "rezo para que você volte logo". Nicole Kidman, vencedora na categoria de melhor atriz, falou por todos os presentes. "Por que vocês vieram à entrega do prêmio quando o mundo está tão tumultuado? Porque a arte é importante, e porque vocês acreditam no que fazem e querem honrar isto, e é uma tradição que precisa ser mantida. Há um monte de problemas no mundo e desde 11 de setembro houve muita de dor em termos de famílias perdendo pessoas, e agora com a guerra mais famílias perderão mais pessoas. Deus as abençoe". Até Frank Pierson, presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográfica que durante uma semana ficou no impasse de realizar ou não a cerimônia, se manifestou. Antes de chamar a atriz Olivia de Havilland (de ...E O Vento Levou) para homenagear os grandes vencedores do Oscar, Frank pediu que "nossos rapazes voltem logo. E que a paz surja no Iraque". O diretor espanhol Pedro Almodovar, vencedor na categoria de melhor roteiro original por Fale com Ela, ofereceu o prêmio para "todas as pessoas que estão levantando suas vozes para a paz". Ao final da premiação, o apresentador Steve Martin dedicou a cerimônia aos soldados americanos que estão no Oriente Médio. "Aos jovens que estão lá, esperamos que tenham gostado. Esta festa foi para vocês". Leia mais: » Tudo sobre a guerra no Iraque
Andréia Fernandes Redação Terra
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