Segunda, 24 de março de 2003, 10h50
Mensagens pacifistas são destaques do Oscar
Mensagens contra a guerra no Iraque foram o destaque da cerimônia do Oscar, realizada ontem à noite no Kodak Theatre, em Hollywood. De simples broches e símbolos da paz feitos com os dedos a uma mistura de vaia com aplausos ao pedido do diretor Michael Moore para o presidente George W. Bush "tomar vergonha na cara", a maior festa do cinema teve sua edição mais política dos últimos tempos. A maior surpresa do evento, no qual Chicago levou o Oscar de melhor filme, foram os três prêmios importantes recebidos por O Pianista, que tem como pano de fundo a 2ª Guerra Mundial.A maior denúncia do conflito foi feita pelo diretor de Jogando Boliche por Columbine, filme vencedor da categoria de documentário de longa-metragem. Para um público estimado em 1 bilhão de telespectadores em todo o mundo, o cineasta disse que "nós vivemos em uma época em que temos um homem que manda a gente para uma guerra por razões fictícias". Depois de chamá-lo de "presidente fictício", o diretor afirmou que é "contra esta guerra, seja pela ficção da fita adesiva ou dos alertas laranjas". No Kodak Theatre, a platéia ficou dividida entre vaias e aplausos. Ele havia entrado no palco sobre muitos aplausos, ao lado dos outros indicados da categoria, dos quais recebeu apoio para o discurso pacifista. Os maiores críticos da campanha militar americana no Oriente Médio, como Barbra Streisand, Susan Sarandon, e Richard Gere, surpreenderam todo mundo ao não fazer menção à guerra. Nomes como o mexicano Gael García Bernal e o irlandês Colin Farrell fizeram rápidos pedidos de paz que receberam aplausos da platéia. Outro famoso pacifista que não teve a chance de falar foi Bono, do U2, que perdeu o Oscar de melhor canção para Eminem, ausente da festa, e sua faixa Lose Yourself, do filme 8 Mile – Rua das Ilusões. Entre os vencedores dos prêmios de atuação, Chris Cooper (Adaptação), ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante, pediu a paz, mas Catherine Zeta-Jones (Chicago), vencedora da categoria de atriz coadjuvante, não fez nenhuma declaração sobre o assunto. Adrien Brody, ganhador do Oscar de melhor ator por O Pianista, disse que estava muito triste, apesar da alegria de ter ganhado o prêmio. "Minha experiência em fazer este filme me deixou consciente da tristeza e da desumanização das pessoas em tempos de conflito e das repercussões da guerra. Se você acredita em Deus ou Alá, que ele tome conta de você. Vamos rezar por paz e uma resolução rápida." O filme de Roman Polanski – sobre um músico judeu polonês que consegue sobreviver o Holocausto escondido no gueto de Varsóvia, na Polônia – também ganhou os prêmios de melhor diretor e melhor roteiro adaptado. Nicole Kidman, ganhadora do Oscar de melhor atriz por As Horas, ficou na dúvida se compareceria ou não à cerimônia "em tempos de incerteza como estes". Ela decidiu marcar presença no evento "porque a arte é importante, a gente acredita no que faz e quer honrar o trabalho". Segundo a australiana, "é uma tradição que tem de ser mantida." Em um momento mais piegas, ela pediu "uma bênção" para as famílias que tiveram perdas "desde 11 de setembro". O diretor espanhol Pedro Almodóvar foi contundente em suas críticas e dedicou o Oscar de melhor roteiro original de Fala com Ela para "todos que levantam suas vozes em favor da paz, do respeito aos direitos humanos, à democracia e à legalidade internacional".
Referências positivas às tropas americanas que invadiram o Iraque na semana passada foram feitas apenas pelo presidente de Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Frank Pierson, e pelo apresentador do evento, o comediante Steve Martin. Ambos dedicaram a festa aos militares que estão na região do Golfo Pérsico. O tom "sóbrio" da cerimônia foi visto apenas no cancelamento do "desfile" no tapete vermelho. A apresentação da cerimônia estava cheia de piadas (a maioria sem muita graça, outra tradição da festa que foi mantida) e os vestidos estavam tão coloridos quanto no passado. Jóias espalhafatosas deram lugar a broches pacifistas justamente nas bodas de diamante do evento, que completou 75 anos.
A festa de aniversário do Oscar teve homenagens a vários vencedores da festa desde os anos 30 e um prêmio pelo conjunto da carreira do ator Peter O’Toole. O grande vencedor da noite foi o musical Chicago, que levou seis prêmios: melhor filme, som, edição, figurino, direção de arte e melhor atriz coadjuvante. Um musical não ganhava o Oscar desde 1968, quando Oliver! foi o premiado. Outra novidade da noite é que a festa não ultrapassou o tempo previsto de três horas e meia. No ano passado, a cerimônia durou 4 horas e 23 minutos.
Ricardo Bairos / Planet Pop
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