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Jovens são perseguidos pela morte em "Premonição"
Pode ser que o começo de Premonição não seja realmente brilhante, mas os 15 ou 20 minutos iniciais da fantasia de terror são, com certeza, impressionantes. Exibem, por parte do diretor James Wong, um domínio da carpintaria cinematográfica que faz com que com os acontecimentos que levam à premonição de Alex sejam dos mais convincentes. A queda do avião consegue ser mais aterrorizante que a de Sem Medo de Viver, de Peter Weir, estruturada a partir de um ponto parecido.
Premonição estréia num amplo circuito em todo o País. O filme chega para competir com Pânico 3, o fecho da trilogia de Wes Craven que virou objeto de culto para adolescentes de todo o mundo. Premonição é melhor, resta saber se conseguirá envolver o público jovem com a mesma intensidade. De início um reparo - o título brasileiro é praticamente o mesmo de outro thriller de terror, dirigido por Neil Jordan e interpretado por Robert Downey, que já está entre os preferidos do público nas locadoras (A Premonição). O título original, Final Destination (Destino Final), pode parecer menos forte, mas tem mais a ver com o propósito do relato. O destino final, no mostrador do aeroporto, pode ser Paris, mas na verdade é mesmo a morte.
Na obra-prima O Sétimo Selo, Ingmar Bergman mostrou o cavaleiro Max Von Sydow numa partida de xadrez com a morte para discutir graves questões existenciais do homem contemporâneo. A morte está presente o tempo todo em Premonição, mas não como personagem. É um sentimento difuso e um conjunto de circunstâncias que se fecha sobre os personagens centrais da trama. Alex é o protagonista. Quando o filme começa, ele se prepara para viajar com os colegas de aula. Vão para a França, mas Alex, já sabe quem viu o trailer, tem a premonição de que o avião vai explodir. Abandona-o às pressas, seguido por alguns colegas que o recriminam. O avião realmente explode, Alex gera suspeita, passa a ser visto como um E.T., um pária.
Esse é o começo, que foge, pela consistência, ao ramerrão das produções habituais de terror voltadas ao público adolescente. Premonição tem até o seu ídolo de TV - Kerr Smith, que faz Carter, é conhecido por sua participação na série Dawson's Creek. Logo em seguida o filme cai nas fórmulas do gênero, mas nunca a ponto de tornar-se desinteressante para espectadores que queiram pensar (um pouco, pelo menos). Isso levou o crítico do Chicago Sun Times, Roger Ebert, a considerá-lo "mais inteligente e original que os demais filmes para adolescentes".
Mais do que crítico, Ebert é um entertainer. Ele foi o mediador na mesa de debate sobre independentes, no Festival de Cannes deste ano. Expressa alguns conceitos interessantes, mas se preocupa demais em fazer piadinhas e entreter a platéia. Ebert, em todo caso, é respeitado e assina embaixo de Premonição.
Nos filmes da série "Pânico", ou de outras séries, o mal é quase sempre identificado com um personagem preciso que, uma vez identificado e punido, deixa de representar perigo. Por isso mesmo, depois da sucessão de sustos (e risos) de Pânico 3, o diretor Craven pode mostrar a personagem de Neve Campbell livre de suas obsessões. Há uma ligeira sugestão de que as coisas poderão recomeçar. Afinal, isso é Hollywood e, pelos executivos da empresa Miramax, "Pânico" chegaria ao 30.º episódio, se continuasse dando dinheiro. Craven jura que a série terminou. Tudo o que queria dizer se esgota com esses três filmes.
Premonição consegue ser mais angustiante porque não há nenhum Jason ou Freddy ou mesmo o assassino mascarado de "Pânico" à solta. Ao escaparem da morte na explosão do avião, Alex e seus amigos desafiam a ordem natural das coisas e passam a ser caçados pela própria morte. Alex tenta dribá-la e, algumas vezes, consegue. Mas a morte é o destino final de todos, não há escapatória possível dela. É essa consciência que torna o filme angustiante. Angustiante como conseguem ser as produções descartáveis de Hollywood para o público jovem.(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)
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