|
"Alta Frequência" traz mais uma viagem no tempo pelas ondas do rádio amador
Não importa que Alta Freqüência deixe algumas situações mal-explicadas. Por mais que se esforcem as tramas que envolvem viagem no tempo geralmente não conseguem mesmo uma justificativa plausível - principalmente do ponto de vista científico - para criar universos paralelos. O filme pelo menos se baseia nessa instigante temática para contar uma história de forte impacto emocional.
Graças a um aparelho de rádio amador e a um efeito "mágico" provocado pela aurora boreal, pai e filho conseguem fazer contato, mesmo estando separados por 30 anos. É a partir do momento em que eles se comunicam pela primeira vez, o filho com os pés em 1999 e o pai em 1969, a troca de informações implica em mudanças radicais no presente - à la De Volta para o Futuro.
Química à distância
A principal diferença entre a nova produção e a franquia que consagrou Michael J. Fox está na densidade dramática. Em Alta Freqüência, a viagem no tempo (nem que seja apenas pelas ondas do rádio) proporciona a John (Jim Caviezel, de Além da Linha Vermelha) matar as saudades do pai, Frank, um bombeiro morto há três décadas em um incêndio. Quem interpreta o personagem é Dennis Quaid, que há tempos não ganhava um papel consistente nas telas.
Apaixonados por beisebol, principalmente pelo time Mets, pai e filho protagonizam momentos emocionantes - que o diretor Gregory Hoblit tem o cuidado de não deixar cair no sentimentalismo. O mais surpreendente é a química que Quaid e Caviezel esbanjam desde o primeiro contato, mesmo sem dividirem uma única cena. Isso só poderá acontecer se John, um policial de 30 e poucos anos, conseguir impedir a morte do pai, apontando onde foi que o bombeiro errou no resgate fatal. Mas a solução não será tão simples assim.
Efeitos colaterais
A "não-morte" de Frank de alguma forma salva um serial killer cuja ação passa a surtir efeito no presente, colocando em risco a vida de várias enfermeiras - inclusive a da mãe de John, Julia (Elizabeth Mitchell). Esse elemento faz a trama progredir na direção de um thriller. Algo que já era de se esperar levando em conta os dois filmes anteriores de Hoblit (As Duas Faces de um Crime e Possuídos).
Com pai e filho simultaneamente à caça do assassino, cada um em um tempo específico, há alguns exageros na representação da teoria de causa e efeito. Como na seqüência em que o filho pede que o pai coloque uma peça importante da investigação em algum esconderijo. Como eles falam da mesma casa e do mesmo aparelho (não pergunte como), o pai simplesmente coloca o objeto embaixo de taco solto no piso da sala. E, segundos depois, como em um passe de mágica, o filho já está de posse da peça - devidamente envelhecida.
O filho ainda vê letras surgirem na mesa, onde o pai resolve escrever com ferro quente "Eu ainda estou aqui". Do rádio que pertenceu a seu pai, John até consegue operar um milagre: falar com ele mesmo, em sua versão infantil.
Essas ações inexplicáveis, no entanto, não enfraquecem o material. O resultado é um filme envolvente, que não deixa o espectador se dar conta das suas duas horas de projeção. Até porque o público sempre gostou de realizar no cinema aquelas fantasias que ofendem a lógica. Afinal, quem é que nunca pensou em voltar ao passado, corrigir alguns erros e alterar a história? (Agência Estado)
|