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O violento Paul Verhoeven está de volta com "O Homem sem Sombra"
Há diretores que conseguem dominar a máquina de Hollywood, colocando tudo - dinheiro, tecnologia de ponta - a serviço do que querem dizer sobre o homem no mundo. O holandês Paul Verhoeven é um deles. Um estrangeiro em Hollywood. Apocalíptico, niilista, violento.
Verhoeven adquiriu reputação com seus filmes na Holanda - O Quarto Homem é um clássico da provocação. Levou seu gosto pelo sexo e pela violência para Hollywood. Fez Robocop, O Vingador do Futuro, Instinto Selvagem e Showgirls. Quase foi queimado pelo último, com sua vulgaridade escancarada. Era o que servia ao tema. Sexo e violência estão de novo em O Homem sem Sombra. Verhoeven reinventa H.G. Wells, O Homem Invisível.
O Homem sem Sombra traz Kevin Bacon e Elisabeth Shue. Bacon interpreta um cientista que descobre um teorema para a invisibilidade e decide aplicar em si mesmo a teoria. O problema é que a experiência não dá muito certo. Para ficar invisível, o ator passou por uma sessão de maquiagem pesada e teve cada poro de seu corpo literalmente coberto por tinta verde. Depois de pintado e escaneado no computador, toda a parte verde era suprimida.
O cinema contou muitas vezes essa história. Houve a versão de James Whale nos anos 30, a de John Carpenter nos 90 e outras no intervalo. Nenhuma como a de Verhoeven. O holandês abusa da violência, da nudez. O diretor não acredita na humanidade. Acredita no cinema. E dê-lhe efeitos especiais. O próprio Verhoeven, que fez Tropas Estelares há três anos, disse que não poderia ter feito O Homem sem Sombra naquela época porque não havia tecnologia. Do ponto de vista da imagem, daquilo que é possível produzir no computador, o filme é impressionante. Impressiona ainda mais pelo que o diretor quer dizer.
Por meio do cientista que fica invisível, Verhoeven discute o perigo, ou a tentação, da impunidade produzida pelo anonimato. O alívio produzido pelo fato de não ter de encarar a própria face no espelho transforma o personagem de Kevin Bacon no maior fascista. O enfoque de Verhoeven é polêmico. Em Tropas Estelares, ele já trabalhou no limite, fez um filme antifascista acusado de fascismo. Cria agora outro filme que é angustiante e incomoda. A diversão, segundo Verhoeven, é barra-pesada.(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)
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