|
"Revelação" de Robert Zemeckis não chega nem aos pés de Hitchcock
Será Harrison Ford o pior ator do cinema americano? Imortalizado como Indiana Jones na deliciosa série de Steven Spielberg e George Lucas, ele segurou as pontas de interpretações dramáticas como o policial de A Testemunha de Peter Weir, ou o advogado acusado de assassinato em Acima de Suspeita. Todos esses filmes (e mais os muitos outros que interpretou) esculpiram para o antigo carpinteiro a reputação de ser um dos grandes astros de Hollywood. Harrison Ford joga tudo fora em Revelação. Está sofrível. Mas, justiça seja feita, não afunda - e é afunda mesmo - sozinho. Com ele vai o diretor Robert Zemeckis, de Forrest Gump, o Contador de Histórias. Só a bela Michelle Pfeiffer resiste ao festival de besteiras que é o filme.
É um thriller sobrenatural, filhote de O Sexto Sentido. Em má hora Zemeckis achou que dava para misturar fantasmas e suspense. É possível que a combinação funcione - em outro filme, não nesse. Mas, claro, na pré-estréia de segunda-feira no Hotel Maksoud, a platéia reagiu urrando aos sustos que o cineasta astuciosa (e vilmente) lhe prega. Pode ser que o boca-a-boca funcione. Não se deixe levar. Vá - com o pé atrás.
Logo no começo de Revelação, Michelle e Ford fazem o casal que acaba de se mudar para uma casa à beira de um lago. Na primeira cena, Michelle está se despedindo da filha, que vai para um internato feminino. A separação é um dos problemas enfrentados pela protagonista. Ela sofreu um acidente de carro, há um ano. Vive sobressaltada. Como James Stewart no clássico Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock, começa a bisbilhotar a vida dos vizinhos - um casal que habita a única casa das proximidades. Espiando, como autêntica voyeur, ela começa a tecer a fantástica trama de que o vizinho matou a mulher. As aparências enganam. Preste atenção nisso. O perigo termina vindo de onde Michelle não espera.
A casa parece assombrada - portas que batem, ruídos misteriosos, objetos que caem, vidros que se partem. Michelle começa a ter visões de uma mulher. Investiga e descobre que é uma jovem que desapareceu. Fica obcecada - e tanto faz que conduz o filme de Zemeckis para a revelação do desfecho. Pode parecer surpreendente, mas não é. Basta prestar atenção aos signos distribuídos ao longo da narrativa. Aí fica até previsível.
Zemeckis não é exatamente um autor ou um grande cineasta mas por meio de filmes como os da série De Volta para o Futuro e também Uma Cilada para Roger Rabitt e Forrest Gump revelou-se um técnico habilidoso, capaz de transformar a fascinação hollywoodiana pelos efeitos especiais em estética. O problema é que Zemeckis quis ser Hitchcock e ainda quis pegar carona no sobrenatural de O Sexto Sentido. Fez um filme que é uma vergonha.(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)
|