|
A seguir, fizemos um plano simples de Júlio olhando pela janela (que vai ser montado com uma cena de estúdio no quarto de Júlio e Márcia) e a cena em que Júlio é trazido em casa por Anamaria. Estavam previstos dois planos, mas solucionamos melhor com um movimento de câmara (o enquadramento começa frontal e depois fica lateral). Parece ter funcionado. A maior dificuldade foi a chegada do carro, que, empurrado, parecia lento demais. Experimentamos fazer com o carro andando de verdade, com a atriz Maria Ribeiro dirigindo, e ficou bem mais verossímil. Pra terminar, um plano geral da casa, e já tava na hora do almoço.
Às duas e meia, entramos pela primeira vez em nosso estúdio, o armazém A7 do cais de Porto Alegre, quase ao lado da Usina do Gasômetro (que hoje funciona como centro cultural), centro da cidade. O armazém estava desativado há um bom tempo e sofreu uma reforma quase completa: piso, banheiros, instalação elétrica, etc. Mas ele tem o principal: muito espaço interno e pé direito bem alto, capaz de abrigar vários cenários ao mesmo tempo. Além disso, é bastante silencioso. O primeiro cenário foi o mais simples de todos: a cela em que Júlio fica preso. A própria parede de armazém, velha e desgastada, mais uma falsa grade metálica, meio fora de foco, um figurante deitado no chão em primeiro plano, e pronto: Júlio estava na gaiola, pra aprender a não fazer besteira. Filmamos em menos de uma hora. Moleza. Com o cronograma cumprido, tive a idéia de ensaiar mais uma vez o papo de Júlio com o delegado, desta vez no cenário em que filmaríamos a partir de amanhã, que estava quase pronto. Chamamos o ator Júlio Saraiva, que chegou pelas quatro da tarde. Enquanto o Alex (diretor de fotografia) planejava a luz, sentei o Bomtempo na frente do Saraiva, na sala do delegado (que futuramente, será o banheiro de Anamaria; em cinema as coisas mudam muito rápido) e passamos a cena inteira. A Ana Azevedo (assistente de direção) teve então a idéia de filmar de uma vez. Mas, além do Bomtempo não ter decorado todas as falas (ele estuda as cenas sempre na noite anterior à filmagem), não havia tempo de fazer tudo. Decidimos então fazer apenas o plano inicial, que era o mais complicado, por ser geral e ter movimento de câmara. Enquanto o Alex fazia a luz (que demorou quase uma hora), eu saí pra ver o pôr do sol no rio Guaíba, olhei a chaminé da Usina e tive a idéia de fazer um plano não previsto, porque o céu estava bonito demais. Tiramos a câmara do estúdio, fizemos um contra-polongée (a câmara rente ao chão, apontada para cima), arranjamos uma figuração rápida (os próprios membros da equipe) e filmamos. Onde, exatamente, entra esse plano, não sei. Mas, se ficar bonito, aposto que o Giba monta. De volta ao estúdio, a luz ainda não estava pronta. Os diretores de fotografia geralmente se emocionam com as possibilidade do estúdio e fazem luzes mais sofisticadas que nas locações. Paciência. Geralmente o resultado é mesmo melhor. Com tudo pronto, fizemos o plano (ficou bom logo na primeira tomada). Assim, adiantamos nosso cronograma e deixamos a luz praticamente acertada para toda a cena. É melhor correr na frente que atrás da máquina. Com tudo terminado às sete da noite, e a consciência mais do que tranqüila, combinamos um encontro de amenidades para a noite, no show de Wander Wildner, o punk-rocker mais romântico do planeta. Para lá que vou agora. Até mais. Acompanhe o dia-a-dia das filmagens de Tolerância e veja imagens exclusivas em Atrás da Câmara.
CAPA
|
|||
Copyright © 1996-1999
ZAZ. Todos os direitos reservados. All rights reserved.
|