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A idéia era esperar o sol ficar mais forte para rodar a externa, e, nesse meio tempo, fazer uma cena interna, de apenas um plano, aparentemente simples. Simples até o Alex (diretor de fotografia) e o Luís Abrahmo (câmara) bolarem um movimento com o uso do dolly. Ficamos uma hora e meia tentando, até que deu certo. Nessas horas, eu sempre fico tentado a colocar a câmara no tripé e simplificar, para não prejudicar as cenas seguintes do dia. Mas, no limite da minha tolerância, deu certo. A tolerância com os planos complicados é a chave para um filme mais bacana. Pelo menos espero que seja. Aí fomos para o jardim da casa, que tem vários aparelhos rústicos para fazer ginástica, exatamente o que previa o roteiro. Sob as ordens da filha Guida e de Anamaria, Júlio faz diversos exercícios, até literalmente pedir água. Quando a água vem, numa mangueira, a palhaçada se instala e todo mundo se molha. Ao contrário da cachoeira, em que todo mundo sofreu pelo menos um pouco, aqui a coisa foi mais tranqüila. Tínhamos sol e uma temperatura razoável. Como é uma cena sem diálogos, com música rolando no fundo, era preciso fazer uma boa quantidade de planos ainda antes do almoço. Fizemos uns 15 (quase todos com a câmara no tripé), com o Bomtempo se esforçando para mostrar que está em forma. Depois, na hora da palhaçada com água, a câmara foi parar no ombro de Abrahmo, devidamente protegida por um saco plástico. Com liberdade de movimentação, Abrahmo mostrou que até em 35mm (e numa Arri 535B, que é pesada pra burro) é possível filmar como se fosse super-8, com direito a respingos no filtro e câmara correndo atrás da ação. Foi divertido. E fomos almoçar às três e meia da tarde. Acontece. Foi culpa daquela interna demorada.
Comemos rápido, porque o tempo já estava piorando, e tínhamos ainda um plano na estrada. Com equipe reduzida, fomos até o local escolhido, uma curva na estrada Gramado-Taquara. A câmara foi colocada num super-grip (apoio especial para fixar o equipamento sobre o capô de um carro). Esta técnica de filmagem chama-se "camera-car" (ou algo assim): o carro da cena fica sobre um reboque e é puxado por outro carro. Assim, o ator-motorista precisa apenas fazer de conta que está dirigindo, e o fotógrafo pode ficar pendurado do lado de fora, controlando a câmara. Depois de uma breve discussão sobre a pouca luz ambiente (eram quase cinco da tarde, e as nuvens cobriam todo o céu) decidimos filmar assim mesmo. Na verdade, o clima do plano é pra ser meio sombrio mesmo, meio fim de festa. E acho que ficou bem legal, começando com uma panorâmica na paisagem e vindo para o pára-brisa, onde os três personagens viajam calados. A bateria do "video-assist" (não sei se a grafia é esta), acabou no meio da brincadeira, de modo que só teremos certeza sobre o plano quando ele voltar do laboratório. Não gosto de filmar em estrada, e jamais faria um "road-movie". Espero que tenha ficado bom. E acabou por hoje. Sempre há um tempo para comer, beber e pensar em coisas mais importantes que cinema. Acompanhe o dia-a-dia das filmagens de Tolerância e veja imagens exclusivas em Atrás da Câmara.
CAPA
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